parte 4

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— Mãe? — sussurro a primeira coisa que surge na minha cabeça, assim que abro a porta de casa

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— Mãe? — sussurro a primeira coisa que surge na minha cabeça, assim que abro a porta de casa.

Ver minha mãe e Luís sentados no sofá da sala, claramente me esperando chegar, foi bem mais decepcionante do que eu imaginava que seria. Rafael não me deu detalhes quando falou que daria um jeito pra não desconfiarem do meu sumiço por algumas horas.

Óbvio que ele contou tudo, só pra me ver sendo feita de trouxa mais uma vez. Olha..ele merecia um prêmio.

— Não vai dizer nada, Cíntia? — minha mãe se levanta do sofá, e dá alguns passos à frente.

— Rafael contou tudo, né? — olho pro chão, sem coragem pra encara-la. — Eu posso explicar.

— Explicar? Não tem como você explicar o que já está na cara, minha filha. — ela diz, decepcionada. — Mais uma vez você mentiu pra mim e foi fazer essa sua baderna que chama de trabalho.

— Eu chamo de trabalho porque é um trabalho. — reviro os olhos. — Olha mãe, se você não entende de arte e inspiração natural, não tem o que eu possa fazer. — dou de ombros.

— Tem sim! Você pode ir já pra sua cama, porque amanhã tem que acordar cedo pra ir estudar. Eu já falei mais de uma vez pra você, Cíntia: você só vai trabalhar depois da faculdade, entendeu? E quando eu digo "trabalho", eu me refiro à um emprego de verdade, que pague bem e que seja reconhecido.

— Mas não é muito melhor eu ter um emprego que me faz feliz e ainda sim me sustente? — aumento o tom da voz. — E eu também já falei mais de uma vez, mãe: eu não quero fazer faculdade! — digo a frase lentamente, pra que ela entenda cada palavra.

— Cíntia, eu vou ser bem direta com você: sem estudos, a gente não é nada. Você me ouviu? Nada! — ela exclama, me assustando. — Se você quer virar uma qualquer sem rumo e sem futuro, aí você pega as suas coisas e sai dessa casa.

Nesse momento, minhas lágrimas não aguentavam se segurar mais dentro dos meus olhos, e descem rapidamente. Luís observa a discussão com sua expressão séria de sempre, como se estivesse numa reunião de trabalho.

— Então o que a sua filha quer não importa? — apelo pra chantagem emocional.

— Tem 16 anos, querida. Você não sabe o que quer. — ela passa a mão pelo meu cabelo, alisando-o lentamente.

Faço uma longa pausa para respirar fundo e limpar a garganta, que já está rouca por conta do choro. Merda! Eu sempre choro nessas discussões. Tanto é que a minha mãe nem se importa mais com isso.

— Vai me deixar de castigo? — limpo o nariz, entortando um pouco a cabeça.

— Hoje não. — ela finalmente tira a mão do meu cabelo. — Só vá com o seu irmão pra escola amanhã, tudo bem?

— Ele não é meu irmão. — resmungo, irritada.

— Eu sei que tá brava com ele por ter contado tudo, mas ele só fez o que é certo. Esse seu trabalho não vai te levar à nenhum lugar, filha. Escute a sua mãe. Ela sabe... — ela deposita um beijo na minha testa, e logo puxa Luís delicadamente pelo braço até o quarto deles.

— Esse filho da puta! — cochicho sozinha enquanto subo as escadas, ainda perplexa.

Não pretendo falar com ele hoje. Sei que se eu for questiona-lo, vai se fazer de vítima ou simplesmente me culpar por tudo. E na moralzinha: eu não to afim de discutir com mais ninguém hoje. Por mim, já deu. Que se foda!

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