parte 13

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— Tem como devolver o meu celular? — encaro minha mãe, no meio do jantar

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— Tem como devolver o meu celular? — encaro minha mãe, no meio do jantar.

— Você não entendeu quando eu disse que ficaria sem ele? — ela não tira os olhos da própria comida.

— Eu tenho uma pesquisa da escola pra fazer. — minto.

Pesquisa da escola? Não. Eu só quero poder me despedir da Karine e desejar boa sorte no job de modelo dela em Florianópolis. Eu poderia fazer isso na escola – pessoalmente – mas ela disse que provavelmente vai faltar nos dias antes da viagem, pra se preparar.

— E desde quando você é boa aluna? — Rafael me penetra com o olhar, do outro lado da mesa.

— Desde quando isso é da sua conta? — levanto as sobrancelhas pra ele.

— Parem, os dois! — Luís interfere. — Parecem duas crianças. — ele resmunga, bebendo um pouco da sua cerveja noturna.

Não consigo colocar mais nada na boca. Perdi minha fome em segundos. Meus olhos começam a arder, querendo chorar. Que merda de dia!

— Cíntia, não vou te devolver o celular tão cedo. — minha mãe finalmente me olha nos olhos. — Ah, não me diga que vai chorar? Filha, isso não é o fim do mundo. Eu sei que vocês jovens adoram passar o dia todo no Zap e na internet, mas-

— Eu não vou chorar, mãe! — exclamo, sentindo o nó da minha garganta aumentar cada vez mais. — Só...deixa pra lá. — abaixo a cabeça, e ainda sinto Rafael me olhando.

Quando Luís e minha mãe se distraem conversando ainda durante o jantar, impulsivamente eu levo minha atenção à Rafael, que permanece no mesmo lugar, mas com um semblante triste.

Uma lágrima escorre pela minha bochecha, e eu solto um grunhido, sem querer. Todos param pra me olhar, e eu limpo meu rosto com uma mão. Antes que minha mãe ou qualquer outro me chamasse a atenção, corro para as escadas e desapareço do cômodo.

Chorar no meu travesseiro é uma coisa que sempre me assustava quando eu assistia os clássicos da Disney, onde as princesas faziam exatamente o mesmo. Sinto falta desse tempo, onde os sustos eram apenas pela ficção. Pela minha visão pura e inocente do mundo.

Por que quando você cresce, tudo perde a graça? As pessoas te tratam como se você não tivesse suas próprias contradições, sentimentos e até monstros.

Pego minha câmera e vejo as fotos que Karine e eu tiramos juntas num campo de flores que encontramos mês passado. Tirei tantas fotos das nuvens por cima das flores, que até me deu preguiça de ver todas depois que voltei pra casa.

Foi um dia legal.

Recupero as risadas após um tempo com a minha preciosa câmera. Acho que se a minha mãe tirar ela de mim, eu desmorono. É só isso o que me resta, afinal de contas.

Como de costume, depois de chorar muito eu acabo ficando com sono e durmo. Não sei, é algo comum entre as pessoas que eu conheço. Encosto minha cabeça no travesseiro roxo e me encolho no cobertor mal esticado.

Já passadas algumas horas, sou acordada um barulho vindo do outro lado da porta. Me levanto da cama assustada e me aproximo da entrada, pra tentar ouvir melhor o barulho. Só pode ser o Rafael, penso. O que esse idiota tá inventando, agora?

Volto pra minha cama, ainda receosa. Não demora muito pra porta do meu quarto ser aberta com cautela pelo loiro intrometido. Ele me encara por um tempo, antes de quebrar o silêncio tenebroso.

— Me encontra lá na porta em quinze minutos. — ele diz, antes de sair disparado pelo corredor.

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