parte 11

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ELE SEGUROU MINHA CINTURA e me puxou contra seu corpo, pra dançarmos juntos

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ELE SEGUROU MINHA CINTURA e me puxou contra seu corpo, pra dançarmos juntos. Seu sorriso charmoso me fez acordar de uma crise existencial e inclinar a cabeça pra trás, olhando então nos seus olhos.

Viro a garrafa na minha boca e tomo um longo gole, enquanto dançamos. Sinto uma angústia crescer no meu peito e na mesma hora um sentimento cobri-la com um vazio gigante.

— Tá tudo bem? — Rafael sussurra no meu ouvido ao ver eu separar nossos corpos, sua voz quase inaudível por conta do barulho da música.

— Não. — começo a andar sem o menor senso de direção, com quase certeza de que ele me segue.

— Cíntia...! — ouço sua voz alta, mas não paro de andar, ficando cada vez pior.

Por um momento esqueço que estou segurando uma garrafa e coloco minhas mãos nas orelhas. O objeto se quebra no chão, assustando várias pessoas ao meu redor. Minha respiração fica ofegante e eu empurro umas meninas pra chegar numa porta, na qual vi uma luz vinda do feche da mesma.

Abro a porta e desço os poucos degraus atrapalhada. Finalmente do lado de fora.

Me apoio no corrimão e coloco uma mão na barriga. Antes mesmo de Rafael aparecer eu vomito no chão. Depois disso o enjoo passa, mas eu ainda me sinto péssima. Quase me assusto ao ouvir o bater da porta e o loiro se aproximar.

— Cíntia... — ele me puxa pra um abraço, mas eu gesticulo pra ele parar.

— Eu tô bem. Só tenho que...tirar esses sapatos. — abaixo a meia e vejo um corte em minha perna. — Merda! — murmuro.

— A gente trata isso em casa. Consegue andar? — ele pergunta, pondo a mão em meu ombro.

— Acho que sim.

Enquanto tiro as botas, um cara vem correndo até nós. Ele esbarra em Rafael e está claramente assustado.

— Me ajudem. Por favor, eles vão me pegar! — ele implora, tentando colocar uma sacola pequena que fede à droga nas mãos do loiro.

— Quem, cara? — Rafael franze a testa, confuso.

— Eles tão vindo. Me ajuda à esconder isso, vai! — o homem segura o tecido da camisa de Rafael, quase o derrubando.

— Ei! — empurro o intrometido pro lado.

— Você! — ouvimos um grupo no fim da rua, que tá mais pra um beco, chamar pelo cara.

Eles correm até nós e o cara tenta fugir, mas o grupo pega ele e um desses desconhecidos pega a sacola e guarda dentro da calça. Eles começam a pisotear o homem.

— Não. — impeço Rafael de fazer algo à respeito. — Deixa pra lá. Vamo embora.

— Cíntia, mas-

— Vem! — caminho devagar na direção contrária de onde ocorre as agressões, o loiro me segue, mesmo incomodado com isso.

— Como assim? Tem certeza de que era droga? — Rayane se senta no sofá chocada ao ouvir a descrição da noite.

— Certeza não. — Rafael diz me olhando com uma nítida repreensão.

— O que mais podia ser? — pergunto sarcástica enquanto levanto e ando até a sacada.

— Qualquer coisa, Cíntia. Nem todo mundo é mal intencionado. — ele rebate, inclinando a cabeça pro lado.

— Me surpreende você falar isso. — acendo um cigarro e jogo o isqueiro no sofá.

Ele revira os olhos e torna a encarar Rayane.

— Bom... — ela dá de ombros, incerta do que dizer e no que acreditar.

— Eles eram todos iguais. Todos traficantes, cheiradores de pó, o que mais querem?!

Eles me encaram sem expressão alguma, o que me assusta um pouco. Viro a cabeça e volto à olhar pra vista da cidade. Depois de uns minutos em silêncio, Rafael se aproxima e me abraça por trás. Aproximo o cigarro da sua boca e ele joga o mesmo fora.

Faço uma cara de brava e ele gira meu corpo, me deixando de frente pra si. Nos beijamos e depois eu o abraço forte. Respiro fundo sentindo um vento frio invadir minhas costas, juntamente com seu coração batendo extremamente forte.

Ele deve estar bem ansioso. Me sinto mal por isso. Gostaria de ser sempre boa pra ele, mas não dá pra ser perfeita. Isso era o que minha mãe queria que eu fosse. Não quero me espelhar na Amélia.

Não quero nem sequer me parecer geneticamente com ela.

— Querem ver a torta de maçã que eu fiz? — Rayane chama nossa atenção da cozinha, Rafa e eu andamos de mãos dadas até ela.

— Cadê? — ele pergunta.

— Apreciem a beleza. — ela diz tirando a comida de dentro do forno. — Espero que esteja gostosa também.

Depois de um banho — e de uma tentativa de melhorar o machucado na minha perna — nos sentamos todos à mesa pra comer a tal torta. E pra ser sincera, eu não poderia estar menos interessada. Parece que nada me agrada. Nada é o bastante.

Me sinto um lixo de pessoa.

— Você gostou, amiga? — Rayane pergunta numa euforia só, depois de me ver mastigar o primeiro pedaço.

— Sim. — digo de forma natural, não quero gerar dúvidas ou questionamentos na cabeça dela.

Olho pro lado e noto que o loiro me olha intensamente. Ele acaricia meu cabelo e me puxa pela nuca pra beijar minha testa.

— Parabéns, Rayane. Tá boa mesmo. Não sabia que você cozinhava assim. — ele comenta, de boca cheia.

— Nem eu sabia. Tive que aprender aos poucos. Se a Cíntia me ajudasse às vezes, seria ótimo, né? — Rayane solta essa provocação que eu sei que não foi pra ofender, mas ofendeu.

Eles desfazem o sorriso quando eu levanto e começo a caminhar meio torta de um lado pro outro na sala.

— Merda! — digo ao sentir minha perna doer.

— Açaí, relaxa. — Rafael fala.

— Me deixa, tá? — assim que eu reclamo, a campainha toca e eu atendo sem nem pensar duas vezes.

— Oi, filha. — Rubens diz após uns segundos de silêncio, enquanto eu processava o que acaba de acontecer.

Como assim ele voltou? E pra quê?

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