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— Cíntia, você não vai comer hoje. Está de castigo pelo resto da semana, e se não melhorar, vai ser pelo resto do ano! — minha mãe enche a boca de pão.
Ignoro o comentário, e sigo montando meu prato de café da manhã. Todos me olham incrédulos, com exceção do Rafael, que segura a risada enquanto toma um pouco do seu iogurte.
— Você não ouviu? Respeite a sua mãe! — Luís se intromete, coisa que ninguém estava esperando depois de tudo o que houve.
— Deixa, bem! — minha mãe olha pro marido. — Essa pirralha malcriada vai ver o que espera por ela. — ela gargalha sozinha, movimentando os dedos em cima da mesa.
— Mãe! — exclamo, levantando minha cabeça, fuzilando ela com o olhar. — Eu te perdoo. — digo sem pensar, e Rafael bufa.
— Quem tem que pedir perdão é você, sua peste! — ela praticamente grita, batendo suas mãos na mesa.
— Então vai se foder. — reviro os olhos, vitoriosa por dentro.
Minha mãe se engasga com o pão que ainda comia, e Luís dá umas tossidas estranhas. Com o rápido desespero, olho pra Rafael, à procura de distração, e me deparo com esse rindo muito, de olhos arregalados.
Claramente em choque. Até eu fiquei. Quem diria, né? Eu finalmente disse o que a minha mãe talvez precisava ouvir fazia tempo. Não sei como me sentir à respeito disso.
— Vai pro seu quarto! — ela aponta para o corrimão da escada.
— Com prazer. — cuspo as palavras, me levantando de qualquer jeito da mesa.
Me superei, penso.
— Essa última noite fez você pensar, né? — Rafael brinca, aparecendo do nada no meu quarto, depois de um tempo.
— Melhor que isso! Me fez enxergar tudo com mais simplicidade. — digo, leve como uma pena.
— Então você tem certeza? — ele pergunta, apreensivo.
— Tenho. — mordo o lábio inferior, sem jeito.
— Tá, mas antes de qualquer coisa, tenho uma explicação pra te dar. — ele coça a nuca, e eu estreito os olhos. — Lembra do negócio da maconha?
— Ah, Rafael...isso não importa mais, sério! — balanço a cabeça, desleixada.
— Importa sim. — ele diz, convencido. — Me deixa explicar, intrometida?
— Explica então, bonzão! — debocho, e ele respira fundo.
— Eu não sou viciado, e nunca fui. Aquilo só foi um típico caso de um adolescente tentando se encaixar nos padrões, tentando achar algo que goste... — ele resmunga.
— Você já me disse isso, sobre não saber do que realmente gosta. — me lembro do momento exato.
— Pois é, então...agora que eu já tirei essa dúvida, não tem com o que a gente se preocupar. — o loiro sorri, e eu me derreto.
— Já? — sinto meu coração acelerar.
— Eu gosto de você. — ele me encara, sério. — Muito, por sinal.
— Não tá dizendo isso só pelo que a gente vai fazer agora não, né? — me aproximo.
— Não! — ele exclama, ofendido. — Mas se quiser que eu diga que te odeio, tudo bem.
— Não! — puxo ele pela gola da camisa. — Eu também gosto de você, e isso faz muito, mas muito tempo. E agora eu to com vergonha, legal... — sorrio torto, sem graça.
Aproximamos nossos rostos para enfim dar o meu dão esperado beijo com o loiro chato que se tornou minha maior vontade. Porém o clima está tão tenso nessa casa, que não deu certo...de novo.
— Vamo deixar isso pra um momento mais romântico. — ele sussurra no meu ouvido, e eu confirmo com a cabeça em seguida.
Amarro meu cabelo num rabo de cavalo alto, e após pegar minha mochila, Rafael me puxa delicadamente pelo braço até a escada. Descemos e saímos da casa disfuncional de mãos entrelaçadas, andando tranquilamente.
Rafael dá partida em seu carro, e eu ligo o rádio. Tiro da mochila duas barras de Snickers, e nós comemos até o primeiro posto de gasolina que Rafael atravessa.
O vento me tranquiliza, a música me traz uma explosão de emoções, e a liberdade me espera.