parte 15

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HOJE PELA MANHÃ ABRI OS OLHOS e me vi como outra pessoa

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HOJE PELA MANHÃ ABRI OS OLHOS e me vi como outra pessoa. Lembrei da última coisa que pensei ontem, antes de deixar a cabeça no travesseiro. Luís. Acabar com o Luís.

O loiro quase não foi trabalhar hoje por minha causa. Ele ficou extremamente preocupado com minha reação à possível volta de seu pai imbecil. Tive que insistir pra ele ir, nem que fosse só pra pegar suas coisas, voltar pra cá e fazer tudo aqui.

Rayane não tem a obrigação de me "vigiar". Ela tem a vida dela pra tocar, não posso atrapalhar mais alguém. Então apesar dela estar bem preocupada também, eu disse que ela podia sair tranquila.

Enquanto eu, resolvi dar-me um dia de folga. Fotografar é a coisa que eu mais amo fazer, porém seria uma tortura exercer minha profissão cheia de pensamentos destrutivos. Agora estou sentada no meu sofá, fumando um cigarro enquanto bebo uma garrafa de vinho.

Sinto que estou desidratada. Minha maquiagem borrada, as bochechas úmidas e o cabelo preso num coque bagunçado. Na minha última tragada, tomo um choque de realidade. Não é como se ficar aqui sendo uma inútil resolvesse algo.

Deixo a garrafa em cima da mesa e vou pro quarto. Visto uma blusa preta de mangas longas e coloco a tesoura mais afiada da casa dentro da calça. Saio porta à fora e desço pro estacionamento. Caminho pela rua que não está muito movimentada.

— I ain't got nobody... — cantarolo me sentindo levemente segura por conta da tesoura.

Me assusta um pouco saber que eu não teria medo algum de usá-la.

Parece que esse frio não acaba nunca. Saudade de estar aconchegada nos braços de Rafael. Acabo chegando naquela cafeteria mas acho melhor não entrar. A última coisa que preciso lembrar agora é do meu pai.

Sento num banco de ponto de ônibus, ao lado de duas pessoas, que na certa são mãe e filha. A menina parece ter uns onze anos e a mais velha, uns trinta. Elas notam minha presença e me olham de relance. Me encolho no meu canto e viro a cara.

Depois de uns sete minutos, um ônibus aparece e as duas entram nele. É nessa hora que eu percebo um carro do outro lado da pista. Devido a película da janela, não consigo ver quem é o motorista. O carro se move e para bem na minha frente. A janela se abre e por trás de uma barba grisalha horrível, está Luís.

Meu coração dispara na mesma hora.

— Cíntia. — ele me chama e eu levanto devagar. — Tá com medo? — Luís pergunta, dando um meio sorriso.

— Que porra é essa?! — cuspo as palavras.

— Olha essa boca, menina. Entra no carro, quero conversar com você. — ele apoia o cotovelo na porta do carro.

— Nem morta. Eu te odeio profundamente, seu pedófilo! — grito com ele, chamando atenção de alguém que passava.

— Entra logo, sua...! — ele para antes de falar algo absurdo. — Eu te disse que você me pagaria, lembra? Chegou a hora. Mas fica tranquila, que se você se comportar, não vou fazer nada com você.

— O que você quer? — pergunto, com nojo na voz.

— Só preciso que me diga onde tá o Rafael. Tudo vai ficar bem, eu garanto.

— Eu não sei. E se soubesse não te diria merda nenhuma. Me deixa em paz! Você devia apodrecer na prisão! — tento controlar minha voz trêmula.

— Cíntia, isso não vai acabar enquanto você não fazer o que eu mando! — ele bate as mãos no volante.

— Não. Não. Não! Sai daqui!

— Porra, garota! — ele abre a porta do passageiro. — Entra de uma vez, ou você vai ver do que eu sou capaz...

Saio correndo na direção contrária do carro, sem olhar pra trás ou imaginar do que diabo ele estava falando. Olho pra todos os lados assim que volto pra porta do meu prédio. Quando vejo que ele provavelmente não me seguiu dessa vez, entro rapidamente.

Já no meu quarto, pego o celular e ligo pro loiro.

— Açaí? Tá tudo bem? — ele atende preocupado.

— Me ajuda à encontrar meu pai?

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