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Fecho a porta de casa devagar, torcendo internamente pra não ser surpreendida por minha mãe ou meu padrasto, Luís. Ele é até legal, quando não tá falando de dinheiro.
Não consegui achar meu "irmãozinho" na saída da escola, então voltei pra casa de ônibus mesmo. De volta aos velhos tempos, quando eu era a única aborrescente da família.
Olho vagamente ao redor da casa e quando me dou por impaciente em procurar mais, vou até a geladeira da cozinha e pego um copinho de iogurte de morango. Meu favorito! Será que tem alguém que não gosta de iogurte de morango?
Provavelmente sim, mas eu prefiro achar que não. Eu realmente to preocupada com isso? Enfim.
Subo as escadas e vou até o meu quarto. Jogo a mochila e o casaco no chão e me jogo na cama. Fico deitada de olhos abertos pensando um pouco sobre a festa que Karine e eu vamos fotografar hoje à noite. Finalmente algo legal pra fazer!
Coloco minha câmera pra carregar, e ouço um pouco de música enquanto termino de tomar meu iogurte.
Assim que me levanto pra sair do quarto e tomar um banho, quase esbarro com Rafael no corredor. Ele dá um leve pulo de susto, e eu balanço a cabeça, desapontada. Ele vai me irritar de novo?
— Cadê seu carro? — dou um sorriso cínico.
— Tá lá fora. — ele dá de ombros. — A madame não quis aceitar carona do próprio irmão pra voltar pra casa, né?
— Eu já te disse mil vezes, Rafael: não somos irmãos, tá? — resmungo, impaciente.
— Ainda bem. — ele sussurra.
— Ainda bem por que? — levanto uma sobrancelha.
— Deve ser uma merda ser o irmão mais velho e ter que cuidar da pirralhinha. — ele murmura, segurando a risada.
Dou uma gargalhada sarcástica, e estranha. Bem estranha. Eu sou toda estranha, logo vocês vão perceber.
Eu estava prestes a passar por ele, quando seu braço se apoia na parede do corredor, bloqueando minha passagem. Dou um passo pra trás, e arregalo os olhos.
— Lembra que eu tinha uma coisa pra te dar? — ele fala, pausadamente.
— Ih, lá vem merda... — murmuro.
— Não é uma coisa em si, é só uma informação chata e provavelmente irrelevante. — ele continua falando pausadamente.
— Querido, seja formal no seu grupinho de estudos. Diz logo qual é a parada. — tento soar rebelde, mas foi vergonhoso.
— A sua mãe disse que como não jantamos todos juntos desde a mudança, seria bom reservar hoje à noite pra isso. — ele diz, claramente incomodado.
— Não! — resmungo, preguiçosa. — Ela sempre tem que estragar os... — faço uma pausa, quando percebo o que quase disse. — meus dias?
— Cíntia. — Rafael se aproxima de mim. — Eu sei o que você vai fazer com a sua amiguinha hoje.
— Estudar. Estudar muito. — disfarço. — É claro que você ia saber. A sua diversão é isso.
Ele gargalha, sarcástico.
— Vocês vão pra mais um daqueles seus picos de fotógrafa. — ele diz, preguiçoso.
— Para de falar como se eu estivesse indo assaltar um mercado. — me ofendo. — Porra, aqui ninguém me apoia em nada! — balanço meu braço, perplexa.
— Eu não falei nada. — ele se defende, pondo as mãos pra cima. — Passar umas horas sem ouvir suas reclamações é sempre maravilhoso.
— Que belo comentário. — sussurro, irônica. — Deixa eu adivinhar: você vai contar? — encaro ele, de braços cruzados.
— Claro que vou. Ficar sem você é divertido, mas ver você se foder no sermão é muito mais. — ele dá de ombros.
— Tá bom, então. — sorrio.
— Não tá brava? — ele pergunta, desconfiado.
— To, mas lembrei de uma coisa que eles vão ficar sabendo além disso. — sorrio de novo, vitoriosa.
— Cíntia... — Rafael diz meu nome, com ódio.
— Aquela coisa que aconteceu quando o seu pai nos obrigou a ir num clube enquanto ele e a minha mãe estavam no início do relacionamento. Quando eu te flagrei fumando maconha. — digo, naturalmente.
— Você não tem como provar isso. — ele tenta disfarçar o pequeno desespero.
— Já faz quase três anos, mas a minha memória tá intacta. — sorrio.
— Caralho, tá! — ele bagunça um pouco o cabelo. — Não contamos, então.
— Iti malia, que orgulho da mamãe. — aperto sua bochecha, um pouco agressiva.
— Chega, Cíntia. — ele se afasta. — Agora sai daqui, antes que esse seu cabelo me cegue.