parte 12

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— DIGA ALGO, FILHA

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— DIGA ALGO, FILHA. POR FAVOR. — ele pede, sentado no meu sofá, de pernas fechadas e sem conseguir nem ao menos olhar no meu olho.

— O que quer que eu diga? — pergunto, começando a ficar bem irritada. — Hein? Você me abandonou, Rubens! Pela segunda vez!

— Cíntia, eu...e-eu... — ele gagueja.

— O quê? Veio pedir desculpa, por acaso? Por quê? O meu dinheiro acabou? — cruzo os braços e o questiono de pé.

— Não! Não, é que...

— "Não! É que, é que...". Seja homem pelo menos uma vez e assuma! Você foi embora. Roubou a porra do meu dinheiro e se mandou, Rubens!

Eu pensei que choraria caso esse momento chegasse, mas não desceu uma lágrima sequer.

— Eu sinto muito! Cíntia, seu pai é um idiota. Eu não tenho noção das coisas. Me arrependo muito do que fiz. Eu faço qualquer coisa pra você me perdoar. Se eu pudesse, eu voltaria atr-

— Quer saber? Vai embora logo. Vai! — puxo seu braço e praticamente o empurro até a saída.

— Filha, espera! Sou eu! Eu te amo... — ele força um choro sem sentido.

— Cala a boca! Você não sabe o que é amor. Eu já tô cansada de tanta gente babaca cruzar meu caminho e fazer o que quiser comigo, achando que eu vou ignorar! Então, some daqui e vê se nunca mais me procura. Eu nunca precisei de pai, não vai ser agora que vou precisar. — fecho a porta na cara dele.

Rayane e Rafael saem cada um de um quarto e se juntam à mim na sala.

— Tem certeza de que fez a coisa certa? — Rayane pergunta.

— Como assim? — junto as sobrancelhas.

— Você mal deixou ele falar. Sei que ele errou, mas se voltou é por algum motivo, não sei.

— É. Voltou pra roubar ainda mais vocês. Você fez bem em mandar ele embora, açaí. — o loiro beija meu ombro, me fazendo olhá-lo com doçura. — Rayane, não seja tão boazinha.

— Você mesmo disse que nem todo mundo é mal intencionado. — ela rebate.

— Mas ele já provou que é. — ele responde.

— Rayane, mesmo que ele tenha vindo na intenção de mudar, eu não quero me apegar à mais alguém. Não suportaria ser magoada mais uma vez. A minha família são vocês. Só vocês. — abro meu coração, por mais machucado que ele esteja.

— Tá bom. — ela entende rápido, e me dá um sorriso acolhedor.

A garota que acabei de fotografar fez eu me lembrar de Karine. Na verdade, eu nunca esqueci ela. Nossa amizade foi tão importante pra mim. Chego a me sentir aliviada por ela não ter feito parte dos piores dias que tive na casa da minha mãe. Ela estava feliz e saudável modelando em outra cidade.

Pego meu celular e ligo pra ela, sem pensar muito pra não acabar desistindo. Anos atrás tentamos retomar a amizade mas não deu muito certo. Eu ainda não era fotógrafa e ela vivia ocupada.

— Cíntia, é você? — ouço sua voz do outro lado da linha.

— O que você acha, Ka? — brinco, e ela ri.

— Mano, que saudade. Tava pensando em você ontem. Queria marcar um encontro. Você tem novidades, imagino, né? — a reação dela foi bem melhor da que eu esperava.

— Um pouco. Você tá em São Paulo?

— Aham. To na casa da minha mãe. Você lembra onde é? — ela diz, levemente eufórica.

— Acho que sim. Eu posso ir aí? Tipo, agora? — pergunto.

— Claro! To esperando.

Desligamos e eu suspiro pensando em como será nosso papo. Me sinto como a antiga Cíntia, agora. Aquela Cíntia que era destemida, corajosa. Já cheguei à me perguntar se o fato de eu ter parado de pintar o cabelo seja a razão da minha decadência. Isso é besteira, mas já fez sentido na minha mente inocente.

Guardo meu celular e minha câmera na bolsa e caminho pelas ruas. Gotas finas de chuva caem sobre meus ombros, mas nada que me impeça de caminhar normalmente. Essa ligação fez meu dia. Tenho a sensação de que o reencontro pode ser desastroso, mas também muito bom. O medo da primeira alternativa me consome.

Mas eu sigo.

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