Nunca fui uma pessoa de acreditar em obras do destino. Sempre fiz o possível pra manter meus pés no chão e ser a minha versão mais realista. Muitas vezes falhei nesse quesito por conta do meu sonho em ser fotógrafa, e acabei indo chorar na minha cama, mas...quem nunca foi assim?
A fotografia me salvou duas vezes.
Ultimamente as coisas têm sido muito contraditórias. Eu poderia escrever um livro, contando as novidades recorrentes da minha família disfuncional, né? Deixa pra lá.
Ainda não acredito que deu tudo certo nessa "missão" de conseguir provas da traição do meu padrasto. Fui até a esquina da rua da loira e com o resto de dinheiro que me sobrava no bolso, voltei pra casa de ônibus.
Adoraria que as minhas expectativas dependessem de mim, e não do meu cérebro automático e meu coração ansioso. Fiquei imaginando a cara de orgulhosa da minha mãe quando eu mostrasse as fotos.
Também pensei se deveria imprimi-las, mas isso aqui não é Avenida Brasil. Preciso ser realista.
Vamos lá, Cíntia. Você consegue!
Enxugo meus olhos, assim que chego na varanda de casa. Abro a porta normalmente, e sinto cheiro de sopa vindo da sala de jantar. Caminho lentamente, pensando nas brigas que presenciarei assim que Luís chegar em casa.
— Onde estava? — minha mãe levanta a cabeça, colocando seu celular ao lado do copo com vinho na mesa.
— Precisamos conversar. — engulo seco, coçando a nuca e dando à ela a visão da minha câmera.
— Essa câmera de novo, Cíntia?! Eu sei que você acha que isso é trabalho, mas-
— Essa câmera vai salvar seu casamento! — exclamo, inclinando minha cabeça pra frente, o que faz ela estreitar os olhos.
— Como assim? — ela bufa, bebendo um pouco do seu vinho e em seguida levantando-se da mesa.
— O Luís te disse que tem uma reunião agora, né? — olho pra baixo, tentando dar a notícia delicadamente.
— Sim.. — ela junta as sobrancelhas. — Como você sabe disso?
— Bom... — respiro fundo, ligando a câmera e chegando às tais fotos. — Eu segui ele o dia inteiro, e quando ele largou no horário de sempre, foi até a casa de uma mulher aleatória e... — começo a passar as fotos pra ela, que faz uma expressão de choque.
Minha mãe não disse nada durante as revelações. Parecia...paralisada. Até mesmo depois que as fotos se acabaram e eu coloquei minha mão sobre seu ombro, como uma forma de conforto.
— Eu to aqui com você. — me inclino devagar, procurando espaço pra abraçá-la. — Vai ficar tu-
Sou interrompida com um forte tapa no rosto. Meu pescoço se entortou tanto que quase estralou. Massageio minha bochecha, perplexa, enquanto ajeito minha postura de volta.
— Então é isso?! Agora você segue pessoas, Cíntia?! Quem tá pensando que é, garota? Por acaso tava querendo transar com o seu próprio padrasto, e não viu outra alternativa a não ser perseguir ele?! — ela começa a gritar comigo.
— Você me ouviu? Ele te traiu! — eu grito de volta, sentindo meus olhos queimarem e as lágrimas descerem.
— Cíntia! Você tá tão brava com sua própria mãe ao ponto de forjar uma traição pra se vingar de mim?! E ainda mete o pobre do Luís nisso?! É uma marginal, mesmo... — ela segura meu cabelo, o pressionando fortemente. — Você não é mais minha filha. Entendeu? — sussurra no meu ouvido, fervorosa.
Chego a soluçar por conta do choro, mas assenti com a cabeça. Como que ela consegue ser tão cega assim?
Sobe as escadas, vitoriosa, enquanto eu me encolho no canto da parede, me debulhando em lágrimas e perdendo todas as esperanças que me restavam. Bom...com exceção de uma.
— Posso dormir com você? — olho pro chão do quarto de Rafael, com medo de olhá-lo nos olhos.
— Pode. — ele vem até mim e me beija na testa, posteriormente me abraçando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
inside [r.l]
Fiksi Penggemaronde Rafael se torna a última esperança que resta de Cíntia. {+segunda e terceira temporada}