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— VOCÊ ESTÁ FAZENDO um ótimo trabalho, Cíntia. — Manoela desce os degraus da varanda do irmão, quem pagou as fotos pro aniversário da garota.
Ela tem dezessete anos e seu sonho sempre foi ter uma grande festa de dezoito.
— Imagina. Você e sua beleza que vão fazer algo mágico com essas fotos. — dou um sorriso carismático e ela gira no mesmo lugar, seu vestido branco esvoaçando e suas madeixas loiras um pouco apagadas por conta do clima.
— Eu gostaria que as fotos saíssem mais coloridas, mas esse inverno não colabora. — ela dá uma desanimada.
— Pra isso existe filtro e Photoshop. Não se preocupe. — garanto à ela, que volta a sorrir.
Vamos para o grande gramado cheio de árvores da fazenda e eu preparo Manoela para os cliques. As primeiras fotos saíram tão espontâneas, como se ela fosse uma espécie de ser místico e mágico perdido no meio da floresta.
— Eu adorei! — ela se empolga quando eu mostro.
— Isso porque eu ainda não editei a paleta de cores. Tá dando super certo, você é muito fotogênica.
Nas horas que passo trabalhando eu esqueço a minha angústia interna. Não posso ser uma vadia enquanto realizo meu sonho da vida toda.
Próximo cenário: o riacho. A água está mais transparente que o normal, parece tão limpa. Manoela se senta numa pedra de frente pra essa miragem cintilante. O vento movimenta seu cabelo e ela sorri lindamente.
Me sinto orgulhosa por estar conseguindo. Por fazer isso dar certo. Nossa, como eu gostaria de estar aliviada assim o tempo todo.
— Que tal tirar mais algumas? — ela pergunta quando eu faço uma pausa de minutos.
— Claro, você tem poses em mente? — pergunto, ajeitando a lente da máquina.
— Tenho. — ela diz e em seguida se joga na água.
Arregalo meus olhos com o susto. Corro pra mais perto, quero checar se ela não se machucou.
— Manoela, tá tudo bem?! — falo alto.
— Tá sim. Continua, Cíntia. — ela gargalha enquanto seu corpo levanta e começa a boiar.
Tiro mais fotos e nós rimos um pouco. Eu amo esse trabalho! Já falei isso? Olho de relance em volta do lugar, e vejo um canteiro de flores vermelhas.
— Vem cá. — chamo ela com um gesto de mão e a garota sai da água. — Vê se não é a cor perfeita?
Com a menina estando toda encharcada, isso só deixou o resto das fotos ainda melhores. Deu um ar mais sombrio e melancólico. Mal posso esperar pra voltar pra casa e editar essas preciosidades.
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— Só isso? — a mulher do caixa pergunta ao me ver colocar apenas um pacote de remédio no balcão.
— Sim. — respondo pegando minha carteira.
— Tenha uma boa noite. — ela diz numa voz robótica quando efetuamos o pagamento.
Deixo a farmácia segurando a sacola. Ando dois quarteirões até chegar em casa finalmente. Depois de fechar a porta eu vou até a cozinha e tomo um dos comprimidos que comprei.
Como já esperado, meu dia não acabou muito bem. Uma enxaqueca parece ter tomado posse do meu cérebro. Abro a geladeira e encontro um pedaço de bolo em cima de um prato grande. Dou de ombros e levo o mesmo pra mesa. Como pensando se realmente é necessário tomar banho antes de dormir.
Eu tô suja, isso é fato. Mas num frio desse, até água quente me desanima. Quando coloco a louça dentro da pia, meu celular toca. Decido atender no primeiro toque ao ver o nome "Madalena" na tela.
Olho em volta pra checar se Rayane não tá mesmo em casa. Já imaginava, pois toda vez que chego ela faz uma mini comemoração.
— Alô... — digo num tom meio rouco.
— Cíntia, querida. Você tá bem? — ela diz, no seu tom amável de sempre.
— Sim, dona Madá. Eu tô bem, sim. — respiro fundo e esfrego minha mão no nariz impulsivamente. — Você quer falar com a Rayane? Ela não tá aqui agora.
— Não, meu anjo, na verdade meu assunto é com você mesmo. — ela diz, o que me deixa um pouco receosa.
— Pode falar. — me sento no chão, encostada na porta de entrada.
— É a sua mãe. Ela está com câncer. — ela diz de forma cuidadosa.
— ...Minha mãe? — abro a boca, não esperava receber notícias dela jamais.
— Sim. Sei que você disse não querer vê-la nunca mais, mas imaginei que fosse querer saber caso algo grave acontecesse.
— Ela começou o tratamento? — essa pergunta quase não saiu de tanto nervosismo.
— Sim, porém um pouco atrasada. Fiquei sabendo pois eu ainda tenho acesso ao caso dela. Ela tá num hospital sendo tratada, já que não tem familiares presentes. — Madalena explica e meu coração acelera ainda mais.
— E ela... — fecho os olhos com força e uma lágrima desce. — Ela pode morrer? Ela vai morrer?
— O risco é grande, mas a esperança é a última que morre, né? Você quer visitá-la? Se quiser eu te acompanho.
— Madalena, eu posso te responder isso depois? Eu não esperava mesmo. É difícil lembrar dela. Muito difícil. — minha voz falha com o nó da minha garganta.
— Claro, claro. Qualquer coisa estou aqui. Fique tranquila e responda no seu tempo. — respondo ela com um "aham" depois disso e desligo.
Levanto e começo a andar de um lado pro outro, pensando, raciocinando, processando tudo isso.
Não demora muito pra porta se abrir e Rayane chegar.
— Cheguei, Cíntia! — ela diz em êxtase e percebe minha cara de ansiosa. — O que houve?