parte 7

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— Cíntia, sua maluca

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— Cíntia, sua maluca. — Karine ri no meu ouvido, enquanto subimos as escadas cuidadosamente. — Espiar o Rafael? Você perdeu o juízo.

— Não é pior do que o que ele fez comigo. — me defendo, dando de ombros.

— Eu diria que é um empate. — ela ri de novo, antes de se apoiar nas minhas costas, enquanto chegamos à porta do quarto de Rafael.

Assim que vejo a clássica porta entreaberta do garoto – um costume dele – me apoio na parede ao lado, colocando apenas uma parte da cabeça pra dentro do quarto. Karine faz o mesmo, e nós nos esforçamos pra manter o equilíbrio e não gerar uma catástrofe.

— Não, pai. — ele resmunga preguiçoso ao telefone, parado em frente à sua grande janela de vidro. — Por que você não conta de uma vez? Por que sempre apela pra o psicológico?! — ele começa a ficar irritado, e gesticula enquanto fala.

Engulo seco com essa tensão. Não sabia que ele tinha problemas com o pai. Bom, todo mundo tem problemas com os pais, mas não achei que fosse nesse extremo. O que será?

— Foda-se, pai! Eu não me importo. Você pode se importar, mas eu não. Nem um pouco... — ele balança a cabeça, em negativo. — Você ouviu direito. Eu disse "foda-se" pro meu próprio pai, uau que coisa surpreendente! — ele exclama, usando seu sarcasmo de sempre.

Eu to tão concentrada no meu próprio mundo que nem me dei conta do quanto esses dois são problemáticos entre si. Como eu já havia mencionado, Luís só abre a boca – na maioria das vezes – pra falar de dinheiro. É só isso que eu me recordo dele. Também porque mal fica em casa, por ser um advogado popular em São Paulo.

— O que?! — sua voz falha por um segundo. — Tá, pode vir então. Vou esperar ansioso. — ele continua seu sarcasmo, e eu sorrio involuntariamente.

Pouco tempo depois, Rafael desliga seu celular e bagunça um pouco o cabelo, preocupado. Ele então fica de costas para a janela, o que nos dá um susto. Karine e eu nos afastamos da brecha da porta e corremos pro meu quarto, no fim do corredor.

Não demora muito e ouvimos o soar brutal da porta de Rafael sendo fechada. Eu pretendia fazer uma brincadeira espiando meu irmão postiço, mas acabei envolvendo ele ainda mais em meus pensamentos. De pouco em pouco eu percebo o quão minha mãe está errada em relação a ele.

Ele não é nenhum santo.

Karine e eu ficamos conversando sobre a festa de aniversário que fotografamos e a Carol, que foi mais legal do que qualquer menina da minha sala de aula.

Minha amiga sonha em ser modelo desde sempre, e como não ficou de castigo depois da nossa última parada, tá aproveitando essa pausa pra tentar conseguir contrato em alguma agência.

Ela é muito bonita, então com certeza não vai demorar muito pra conseguir alguma coisa. E quando isso acontecer, eu preciso me manter preparada pra não me debulhar em tristeza toda vez que ver ela progredindo na carreira.

Depois da discussão com a minha mãe, fiquei pensando no que ela sempre diz quando estamos em briga: eu posso ir embora a hora que eu quiser. Eu sei, eu poderia ter feito isso no calor do momento.

Mas o que eu sei da vida? Tenho 16 anos, uma câmera e algumas camisetas de homem que compro na C&A. Isso não é o suficiente. Eu precisaria de CONFIANÇA, INDEPENDÊNCIA, DISPOSIÇÃO. Ou pelo menos uma garantia de que eu consiga me virar sozinha. E convenhamos: quem confiaria numa pirralha de cabelo rosa, aspirante à fotógrafa?

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