parte 5

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— Cíntia? —  Rosana, minha professora de matemática, me prende na sala assim que todos saem desesperados pela porta

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— Cíntia? — Rosana, minha professora de matemática, me prende na sala assim que todos saem desesperados pela porta.

— Eu. — tento não parecer tão desanimada.

— Precisamos conversar sobre o seu desempenho na minha matéria. — ela me entrega uma prova, e eu me recordo do pesadelo que passei pra realizar a mesma.

— Ah...precisamos? — levanto uma sobrancelha, incrédula.

— Sim. — ela aponta com o olhar para a nota 2,0 em vermelho no papel. — Ultimamente você tem tido um péssimo rendimento. Tá toda largada, não liga pros pontos que perde em trabalhos ou nas atividades do módulo...

Respiro fundo, enquanto observo sem muita atenção a minha última prova de matemática. Como eu consegui tirar dois? Que eu me lembre, chutei todas as questões. Não estava num dia bom. Minha mãe tinha feito mais um de seus discursos ignorantes.

Mas a Rosana é só minha professora. O dever dela é tentar me fazer aprender matemática pra passar na matéria dela, e só. Não tenho que encher a cabeça da coitada com meus white girl problems.

— Então... — olho pra baixo, na tentativa de achar uma resposta convincente. — Eu não tenho conseguido dormir ultimamente, e isso reflete aqui, sabe? — dou um sorriso amarelo.

— Entendo. — ela morde o lábio inferior, pensativa mas com uma pitada de pena. — E que tal você fazer aulas de reforço? É toda terça e quinta à tarde aqui na escola. — Rosana se reanima.

— Não, eu..não posso. — tento fugir, sem parecer arrogante.

— É pro bem do seu futuro, Cíntia. — minha professora diz, e eu consigo ouvir minha mãe dizendo a mesma coisa.

Todo mundo ao meu redor está mais preocupado com o meu futuro do que eu mesma, não acham? Isso é tão desnecessário. Eu não sei nem se vou estar viva amanhã, e em vez de aproveitar o tempo que tenho, as pessoas me dizem pra estudar e me dedicar ao meu "futuro".

Eu já escolhi o futuro que quero seguir, mas não me apoiam com essa decisão. Sentido?

— Eu tenho que ir, professora. Tchau e desculpa por decepcionar. — resmungo baixo, enquanto ando devagar até a porta.

Enfim fora da sala. Agora que fiquei presa numa conversa estranha por uns...dois minutos, só me resta torcer pra que o chato do Rafael não tenha ido embora sem mim.

— Oi. — Karine me surpreende na porta da escola, bem no momento em que eu me perguntava se ela já tinha ido embora. — Por que demorou na sala?

— A Rosana veio reclamar do meu rendimento em matemática. — digo, sem dar muita importância.

— Vish! E o que você vai fazer? — ela para na minha frente, assim que saímos da escola.

— Eu? — começo a ter uma ideia muito aleatória, mas que melhoraria um pouco o meu dia.

— Sim. — ela levanta as sobrancelhas, confusa.

— Vem comigo. — digo, assim que vejo o carro de Rafael estacionado no fim da calçada.

Ele está folheando um livro, e parece muito distraído. Aproveito que a janela ao seu lado está aberta e chamo sua atenção com uma inconveniência.

— Tem alguém em casa? — apoio meus braços na janela, posteriormente vendo seu livro cair em seu colo por conta do susto.

— Não. Por que? — ele pergunta, franzindo a testa.

— Entra aí! — exclamo pra Karine ao meu lado, e ela assente antes de entrar pela porta atrás de Rafael.

Vou à porta do passageiro e entro rapidamente. Rafael me olha incrédulo.

— O que ela tá fazendo aqui? Você tá de castigo, esqueceu? — ele sorri pra mim, cínico.

— Não se preocupe, eu não tenho uma memória de merda como a sua. — me acomodo no banco e não encaro ele. — A Karine vai ficar lá por algumas horas, e se você contar: dessa vez eu conto o seu segredinho.

— Você não é boa com chantagens, Cíntia. — ele balança a cabeça, em negativo.

— E você não é bom com promessas, Rafael. — enfim encaro ele, que me olha de canto à canto.

Ele solta uma gargalhada sarcástica, antes de dar partida no carro. Me surpreendi! Consegui discutir rapidamente com ele, sem xingar horrores. Isso raramente acontece, e o motivo é idiota. Esses olhos. Esses malditos olhos azuis.

Eles...me perseguem.

— Se te interessa, eu não estraguei seu plano de propósito. — ele resmunga baixo, e eu viro minha cabeça para olhá-lo.

Com seu cotovelo apoiado na janela, e sua mão apoiada na cabeça. Ele olha pra o vidro à sua frente de forma decepcionada. Junto as sobrancelhas, me recordando da discussão com minha mãe.

Imaginei que Karine fosse se intrometer, mas quando olhei para o banco de trás rapidamente, vi ela empolgadíssima com seus fones de ouvido nas alturas.

— Não me diga... — brinco.

— É sério. — ele se defende. — Eles começaram a me fazer um monte de perguntas, e eu não aguentei aquela encheção de saco. — termina sua frase com uma leve risada, e eu acompanho.

— Tadinho do meu irmãozinho. Tão injustiçado, coitado... — choramingo, sarcástica.

Ele me olha, claramente incomodado com o comentário. Dou um sorriso inocente, sem saber muito o que dizer em seguida. Que merda! Chega a ser nojento, porque todo mundo diz que ele e eu somos irmãos.

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