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— Tinha me esquecido de como essa casa é bonita. — Karine diz, saindo do carro.
— Fica ainda mais bonita quando não tem ninguém dentro. — Rafael diz, sarcástico.
— Ai, jovens... — reviro os olhos, e Rafael me encara, ainda dentro do carro.
— A criança daqui é você. — ele revida, enquanto eu tento abrir a minha porta.
— Qual o problema dessa porta? — reclamo, impaciente.
Rafael entorta um pouco a cabeça pra tentar descobrir o motivo da porta não abrir. Me encosto no banco, e cruzo os braços. Ele se aproxima mais, e mais, e mais. Isso até apoiar seu braço na janela aberta, bloqueando qualquer movimento brusco meu.
— Às vezes ela trava. — ele resmunga baixo, enquanto faz um truque estranho na tentativa de abrir a porta o mais rápido possível.
Seu rosto fica tão perto do meu, e por algum motivo não consigo conter minha ansiedade. Sinto meus batimentos acelerarem ao ponto de até ele talvez escuta-los. Fico igual uma idiota, observando suas sobrancelhas e sua boca por longos segundos até ele enfim conseguir abrir a porta.
Ele se afasta de mim num movimento brusco, tanto é que quase caiu por cima do meu colo. A única coisa que consegui transmitir foi uma levantada de sobrancelhas e uma falsa cara de agonia. Não entendo essas minhas ações aleatórias.
Karine nos olhava atentamente do lado de fora, com um sorrisinho malicioso e esquisito. Quando saio do carro e ajeito minha mochila nas costas, ela me dá um leve soco na barriga juntamente com uma risada.
Ignoro esse pequeno surto e entro em casa o mais rápido possível. Rafael sobe as escadas rapidamente, e Karine me segue até a cozinha, onde eu pego um iogurte na geladeira e me sento na mesa para tomá-lo.
— Eu não aguento mais a escola. — resmungo, olhando pra meus dedos sujos de tinta de caneta.
— Sei bem disso. — ela dá uma risadinha. — Mas só faltam dois anos e meio pra acabar. Vai passar rápido. — ela pega um copo com água.
— Muita coisa pode acontecer em dois anos e meio, Karine. — arregalo meus olhos, voltando a encara-la. — E mesmo que passe rápido, e daí? A minha mãe vai me obrigar a fazer faculdade, um monte de cursos e o caralho a quatro.
Ela morde o lábio inferior, e me olha sem saber o que dizer. Exatamente como a professora Rosana fez hoje mais cedo. Isso me dá uma pontada de tristeza. Às vezes nem os melhores amigos nos entendem.
— Eu sei que to parecendo ingrata, mas é a minha vida, sabe? — pergunto indignada, e ela assente. — Eu só queria que ela confiasse em mim, pelo menos uma vez. — de novo, triste. — Agora ela só enaltece o... — faço uma pausa, sem a menor vontade de continuar a frase.
— O Rafael? — Karine pergunta, porém com uma certeza.
Respiro fundo.
— Por que ele tem que ser tão perfeito? — pergunto, indignada e em um tom mais alto do que planejava. — Quer dizer, por que pra minha mãe e o Luís, o Rafael é tão inteligente, independente e maravilhoso...enquanto eu sou só uma criança pra todos eles?!
— Isso não tem como saber. — Karine dá de ombros. — E você sabe que o Rafael não é tão perfeito quanto parece, né? — ela me lembra do ocorrido da maconha.
— Sim, claro! — encolho os ombros, gaguejando. — Mas pro casalzinho, aquele lá é tudo e mais um pouco. To cansada de ficar sendo comparada à ele. — bufo, terminando meu iogurte.