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— Merda! — resmungo baixo, enquanto recolho desesperada meus livros que acabaram de cair no chão junto com a mochila.
Relaxa, eu geralmente não sou tão desastrada assim. O problema é que fica difícil fazer as coisas quando se está sob pressão. Que é o meu caso, agora. Talvez não só agora, mas em toda minha curta vida. 16 anos não são grande coisa, pelo menos não pra mim.
Vou colocando tudo de qualquer jeito na mochila, enquanto ouço as buzinadas irritantes vindas do carro que está no fim da calçada de casa.
O carro do infeliz do Rafael.
— Peraí! — grito, enquanto ando desajeitada até o carro e abro a porta.
— Anda, garota! Eu não tenho a vida toda pra te esperar, não. — Rafael reclama, sem parar de buzinar enquanto eu não entro no carro.
— Você é um babaca, mesmo. — passo minhas mãos pelo cabelo, respirando fundo. — Precisava disso tudo?
— Tá atrasada. — ele me encara, dando partida no carro. — De novo... — entorta sua cabeça, como um bom sinal de "Eu te avisei."
— Meu anjo, foi você que se ofereceu pra me dar carona pra escola. — pego um elástico em um dos bolsos da mochila e faço um rabo de cavalo no cabelo.
— Por educação, apenas. — ele dá de ombros.
— Só dirige... — reviro os olhos, impaciente.
— Eu não recebo ordem de criança, tá? — ele diz, pacificamente. — E outra coisa: sabe o que cairia bem pra você? Terapia. — gargalha.
— E você sabe o que cairia bem agora? Você, de um penhasco! — empurro seu ombro, na intenção de irritá-lo.
Rafael junta as sobrancelhas e me encara, dando um meio sorriso. Retribuo o ato, porém com um pouco mais de deboche. Caramba! Se ele não fosse um completo idiota, eu admitiria que ele é até fofinho às vezes.
São exatos dez minutos de carro até a escola. Uso esse tempo pra pensar no que vou fazer depois que essas horas de aulas se passarem e eu voltar pra minha casa. Mas hoje eu não precisei pensar muito.
— Consegui mais uma festa pra gente fotografar. — falo empolgada pra Karine, assim que à vejo no corredor.
— Finalmente! — ela comemora. — A gente ainda vai ganhar muito dinheiro com isso, hein?
— Foda-se o dinheiro, Ka. O mais legal disso é que somos talentosas e as pessoas se interessam cada vez mais pelas nossas fotos. — sorrio, vitoriosa.
— Você é talentosa, Cíntia. Eu sou só sua cobaia. — Karine choraminga, brincando.
Ela tem esse costume de me colocar num pedestal quando o assunto é fotografia. Fui eu que convenci ela a entrar nesse pico de fotógrafa comigo, porque...eu sou uma franga medrosa? Talvez.
Karine só aceitou por conta do dinheiro que dividimos. Ela quer mesmo é ser modelo. Pois é. Somos duas adolescentes que sonham um pouco alto demais. Isso é bom ou ruim?
Meus pensamentos foram pausados quando vi Rafael cruzar o corredor com outro garoto. Não fala comigo, não fala comigo, não fala comigo.
— A sua mãe pediu pra te entregar isso. — ele para na minha frente, e num incômodo, coloca as mãos nos bolsos da calça, procurando algo.
Levanto uma sobrancelha, curiosa pra saber qual a nova da minha mãe, e nervosa com receio dessa ser mais uma das gracinhas dele.
— Ih, acho que eu perdi. Deixa pra lá, né? — finge desapontamento, e dá um leve soco no meu ombro antes de se misturar no corredor.
Dou uma risada sarcástica e cansada. Bem cansada.
— Vocês não se parecem. — Rayane, uma garota da minha sala, aparece do meu lado e repara em Rafael.
— Por que nos pareceríamos? — junto as sobrancelhas, trocando o olhar entre Karine e Rayane.
— Eu sei que vocês não têm o mesmo DNA e tal, mas ainda sim ele não deixa de ser seu irmão. — Rayane fala como se estivesse analisando um personagem fictício.
— Ele não é meu irmão! — exclamo, enojada.
— Gente, mas qual o problema? — Rayane se ofende.
— Eles não tem uma relação muito boa. — Karine explica, dando de ombros.
— Isso não tem nada a ver. Nós não temos nem sequer uma relação direito...não somos nada. Ponto. — gaguejo, absurda, antes de ser salva pelo sinal da primeira aula.