Capítulo 38

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Terror ☠️

A gente tinha feito tudo o que o Pedrinho tinha pedido. Da cor das flores até a arma do avô que ele tinha pedido que a gente deixasse junto no caixão do DG, porque era a peça inseparável do velho.

Tava doendo pra caralho, em todo mundo. DG fazia parte da história de vida de muita gente, mas eu não podia me dar ao luxo de ficar mal quando via o VH se destruindo do meu lado, e ainda era responsável pelo pivete da Laís, que mesmo sofrendo, já mostrava o quanto era forte no bagulho.

Quando o velório chegou ao fim eu meti o pé, junto com o Pedro e com o Vitor pro hospital.

Terror: DG vai se orgulhar pra caralho da gente, irmão - falei pela primeira vez, quando estacionei o carro.

Ele me olhou e assentiu.

VH: Parece que ele sabia. Conseguiu colocar a gente no poder uma semana antes de partir dessa pra melhor.

Terror: O cara era brabo, pô.

Pedro: O Vô vai se orgulhar de nós três - falou, encostando a cabeça entre os bancos - Quando eu crescer eu vou ser igual ele. Igual vocês!

O Vitor sorriu e beijou a cabeça do afilhado.

Terror: Só não deixa a tua mãe ouvir isso.

O Pedro concordou e a gente saiu do carro. Entendo no hospital e indo direto pro quarto que era da Laís.

VH ficou por último, Pedro ficou na minha frente e quando abriu a porta gritou ao ver que a mãe já estava acordada.

O Neguinho soltou a Laís, dando espaço pra que o Pedro também pudesse subir na cama pra abraçar a mãe.

Eu olhei pra cada rosto daquela cena por umas três vezes, e não consegui descobrir o que eu tinha na cabeça quando resolvi ficar com a garota.

Aquele cuzão ia fazer o que fosse preciso pra ter a Laís de volta. O Pedro e a Vitória amavam o pai, e a mandada da Laís fazia o que fosse preciso pra que as crianças estivessem felizes.

Ela apertou o filho nos braços por mais uns minutos, enchendo ele de beijos, e depois afastou o corpo, arrancando todos os tubos de acesso na veia. Neguinho tava reclamando, falando que era pra ela sossegar e a doida nem ouviu, enquanto descia da cama.

Laís correu na direção do Vitor. Se jogando nos braços do irmão, que agarrou ela, mas não chorou. Senti a mão dela tocar o meu braço. Mas ela nem conseguia me olhar, porque estava com o rosto escondido no pescoço do VH. Ela me puxou e eu também abracei os dois, bagunçando o cabelo do Vitor e beijando a cabeça da Laís.

Tava ligado que ela tinha feito aquilo por causa do irmão. Laís sabia que o Vitor só tinha a gente agora. Que a gente só tinha um ao outro dali pra frente!

Laís: A gente vai ficar junto pra sempre, tá? - falou me encarando, mas era pro irmão dela - Meu pai colocou a maior herança dele na mão de vocês dois, porque confiava muito em vocês. Eu também confio e sei que são fortes pra vencer mais essa batalha.

VH: Eu amo vocês - murmurou com a voz embargada por conta do choro - Tô querendo ser forte pra dar orgulho pra vocês, e pro meu pai, mas tá muito foda!

Terror: Já te falei, irmão. Se quiser sair do morro por um tempo, sei lá, fica tranquilo... eu dou conta até tu voltar.

Laís sorriu fraquinho pra mim.

VH: Não vou sair. Não quero ficar longe de vocês também. Mas não tô com cabeça pra lidar com mais merda agora.

Terror: Eu dou conta - garanti, sem nem saber se ia conseguir mesmo - Vocês tem que ir pra casa descansar.

Laís: Quero ir me despedir - falou e eu concordei.

Terror: Te levo.

Vi o Neguinho encarando, pelo canto do olho, mas ele ficou quieto e nem fez cena, o que foi ótimo, porque ele tava ligado que ninguém ali ia ter pena dele.

VH: Vou com os meus crias pra casa - respirou fundo  - Eles vão me distrair.

Pedro sorriu pro padrinho e abraçou o pai uma última vez.

A Laís disse que ia se trocar e foi pro banheiro, voltando um tempo depois com a mesma roupa de ontem, já que ninguém nem pensou em trazer alguma outra coisa pra ela.

Vitor pegou a Vitória no colo, e o Neguinho se despediu da filha, dando um beijo nela.

Laís: Obrigada, Flávio - sorriu sem graça pra ele.

Neguinho: Te ligo depois.

Ela fez careta, mas ficou quieta e eu saí em direção ao carro, deixando o casal pra trás porque eu não ia ficar de vela.

Nós deixamos as crianças e o VH em casa. E depois seguimos pro cemitério. Laís nem tava bem, nem alta tinha ganhado, mas eu tava ligado que ela precisava daquele momento.

Levei ela até o túmulo do DG, onde o caixão tinha sido colocado a poucas horas atrás. Laís se abaixou, deixando uma flor que tinha comprado ali.

Laís: Eu te amo pra sempre, pai. Obrigada por tudo!  - ouvi ela sussurrar baixinho.

Depois ela ficou de pé de novo, virando na minha direção. Eu vi seu olho vermelho e o rosto molhado, meu peito apertou. Puxei a mão dela, pra um abraço. Laís se agarrou em mim com toda a força que eu tinha, chorando pra caralho, e eu já tava desesperado.

Terror: Não. Não chora, por favor, Laís - ela me olhou, mas não desfez o abraço - Teu pai era maluco por ti, não ia querer te ver chorando.

Ela voltou a me abraçar, escondendo o rosto no meu peito.

Beijei a cabeça dela, mas continuei com a cara ali, cheirando o seu cabelo.

Laís: Ele te amava muito também. Eu tinha ciúmes - confessou enquanto colocava um sorriso no rosto. Eu sorri também.

Terror: Não chora, tá? Eu fico nervoso.

Ela riu e concordou.

Eu arrastei ela dali, pra uns corredores depois, encontrando o túmulo da minha mãe. Só o VH e o DG já tinham vindo comigo.

Terror: Esse é da minha coroa - Laís apertou os dedos que estavam entrelaçados com os meus - Ela tinha esse mesmo bagulho que tu tem, de não conseguir respirar. Tu nem imagina o nervoso que eu passei vendo tu daquele jeito ontem.

Laís: Sinto muito, Guilherme - disse e beijou o meu ombro.

Abracei as costas dela, descansando minha cabeça em seu ombro. Laís fez carinho na minha mão que estava envolta da cintura dela.

Terror: Ela ia gostar de ti.

Pude ver o rosto dela se esticar pra cima, em um sorrindo, mas não falou nada.

A gente ficou marolando ali por uns minutos e depois deixei a Laís da casa do Vitor e fui pro meu barraco, porque eu tava doido pra descansar.

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