Capítulo 48

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Duda 🖤

Eu tinha saído pra comer uns espetinhos com os meus irmãos, já que nenhum de nós três estava afim de fazer comida, e a mãe estava trabalhando.

A conversa estava boa mais eu sentia meu olho pesar cada vez mais, e tinha aula cedo no dia seguinte, então resolvi ir pra casa, já que depois os dois ainda iriam para a pracinha beber com uns amigos.

A minha casa ficava a uns cinco minutos de distância, mas eu andei me arrastando até chegar na rua.

Eu pisquei algumas vezes, tentando entender se realmente era o Vitor parado ali na frente de casa, ou se eu estava mais uma vez sonhando.

Ele me viu e deu um sorrisinho sem graça, acenando com a mão. Eu imediatamente comecei a me sentir nervosa, mas me esforcei pra controlar o meu corpo e as minhas falas.

VH: E aí, Duda.

Duda: Oi, VH - ele fez careta ao me ouvir o chamar pelo vulgo. Era difícil pra mim falar também, mas eu não via mais razões para ser de outra forma - O Indio não está.

VH: Ah, pois é - coçou a cabeça - Vim pra falar contigo mesmo.

Duda: Comigo? - ele assentiu - Por que?

VH: Sei lá, quer dar uma volta?

Duda: Se for sobre o que rolou aquele dia, eu já te desculpei.

VH: Pô, Maria, esquece isso. Tô tentando começar de novo!

Eu fiquei o encarando, sem reação nenhuma.

Vi que ele tinha os dedos trêmulos e os pés impacientes, se movimentando o tempo inteiro.

Duda: Você não tá legal, né?

VH: Ta foda ficar limpo - confessou, desviando o olhar.

Duda: Desculpa, eu não sei o que fazer pra te ajudar.

VH: Da um rolê comigo - pediu de novo.

Duda: Eu não vou sair do morro - avisei.

A polícia estava tentando pacificar a algumas semanas e o risco de sair e não conseguir entrar depois era muito grande.

VH: A gente só caminha por aí, bora.

Eu não falei nada, mas comecei a caminhar ao seu lado. Nenhum de nós trocou uma palavra, e o clima não era nem um pouco agradável, eu estava com sono, Vitor só queria se drogar. Nenhum de nós dois estava feliz.

Nós paramos de andar no mirante, onde podíamos ver o morro, a praia e Ipanema.

Desviei o olhar da paisagem, pra olhar pra ele. Parecia mais calmo e sereno.

Duda: Melhor?

VH: Tô sim. Valeu.

Duda: Tranquilo - olhei de volta pro mar, porque se o olhasse sei que não teria coragem de falar nada - Só... por favor, para de me usar.

VH: Hum?

Duda: Você entendeu.

VH: Eu não tô te usando. Tá maluca?

Duda: A gente nunca teve uma relação. Pra você eu sempre fui "a garota que não larga do meu pé", eu mesma já te ouvi se referir a mim dessa forma mil vezes, VH. E agora que você ficou doente e está tentando se livrar desse vicio maldito, e que percebeu não ter os seus grandes parceiros do lado, assim como não tem todas as mulheres maravilhosas que faziam competição pra dormir na sua cama e que você fazia questão de esfregar na minha cara que eu nunca seria uma delas... agora, e só agora, você veio notar a minha existência.

VH: Maria, eu sempre soube da tua existência.

Duda: É, mas nunca ligou. Todas as pessoas que viviam a tua volta te rodeando só queriam o status que você proporcionava. Eu nunca quis isso. Nunca! - engoli seco - E agora sinto você se aproximando por interesse. Porque sabe que infelizmente eu ainda não consigo dizer "não" pra você.

VH: Não é por interesse, e não é por nenhum desses motivos - negou com a cabeça, puxando a minha mão pra segurar - Tô dando a minha palavra, pela vida do meu pai, cara. Eu sempre soube que tu existia, mas nunca encheu meus olhos porque tu nunca me prometeu a merda de vida que os outros prometiam. Bebida, droga, mulher e luxo. Essas paradas sempre cresceram o meu olho, eu ficava iludido curtindo essa vida, sem nem perceber a merda que eu me meti.

Duda: O que mudou agora? - perguntei, realmente interessada.

O Vitor sorriu fraco.

VH: Terror sempre foi pé no chão, diferente de mim. Mas ele ainda era um moleque. Mas depois de tudo, eu vi a evolução do meu mano, e pô, eu só quero isso pra minha vida. Dar orgulho pra quem me ama, deixar a minha família bem e viver em paz - ele respirou fundo - Mas pra isso tenho que concertar meus erros. E acho que tu foi a pessoa que eu mais errei na minha vida.

Duda: Posso confirmar que eu fui sim.

Ele riu.

VH: Só uma chance, pra fazer diferente. É só isso que eu posso te pedir.

Olhei pra boca dele, e quase caí.

Nem lembrava por quantas noites eu tinha sonhado com aquilo.

Duda: Paciência é tudo que eu posso te pedir. Você quebrou cada pedacinho do amor que um dia eu senti - afastei a minha mão, da dele - Ainda gosto de você, mas gosto mais de mim.

VH: Não demora - pediu, fechando os olhos.

Duda: Eu te esperei por anos, Vitor - ele abriu os olhos, e sorriu ao ouvir o nome - Se você quer fazer diferente, o mínimo que pode fazer pra começar é pensando menos no que você sente, e mais no que os outros sentem. Acho que é a sua vez de me esperar agora.

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