Capítulo 49

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Luana 💅🏻

Enfrentei aquela fila desgraçada, e na hora da revista a mulher me passou sem o menor esforço. Aparentemente o Terror e o VH tinham liberado uma grana maneira para que eu conseguisse entrar com uma sacola dentro da penitenciária.

Eu sabia pouquíssimo da história. Fazia uns quatro dias que o Neguinho tinha sido pego em um assalto que não deu certo, e agora ele comandava o morro a distância, mas lá fora quem resolvia tudo era o Terror ou o VH.

A mulher loira me direcionou pra mesa, onde o Neguinho estava sentado, me encarando.

Me aproximei do local, deixando a sacola que eu não fazia ideia do que tinha ali dentro, e sentando de frente pra ele.

Depois de me encarar e continuar quieto, ele pegou a sacola e abriu, mas não tirou nada de dentro. Acho que só queria confirmar o que havia sido mandado.

Luana: Tudo certo? - perguntei, apontando com a cabeça pra sacola - Nem abri. O Terror mandou não abrir.

Neguinho: Tudo.

Luana: Ta bom. Então eu posso ir?

Neguinho: Não. Sossega aí - eu cruzei os braços, olhando ao redor, onde várias mulheres e mães conversavam com os presidiários, cada um em uma mesa diferente - Como tá os bagulho lá fora?

Luana: Um bagulho - fiz careta - Por que eu não posso ir?

Neguinho: Eles liberam todo mundo junto. Não pode sair um por vez.

Eu assenti, mas desconfiei que ele estivesse mentindo. Era a minha primeira vez em uma visita.

Luana: Você já foi preso antes?

Ele ficou me encarando, mas não me respondeu.

Neguinho: Tu sabe alguma parada dos meus filhos? - dei de ombros - Sabe ou não, pô?

Luana: Acho que estão bem. Ontem estavam na pracinha.

Neguinho: E a Laís?

Eu respirei fundo, rolando os olhos.

Luana: Está viva.

Neguinho: Ela sabe que eu tô aqui?

Luana: Não sei - fui sincera - Não tenho contato com a princesa do pó. Posso ir agora?

Neguinho: Ta com formiga no cu? Te aquieta, eu já falei que não vão te liberar assim.

Concordei, e fiquei quieta por um tempo.

Neguinho continuou me encarando com desconfiança e eu já estava ficando irritada.

Luana: Perdeu alguma coisa aqui?

Neguinho: Dia de visita íntima é tu que vem também? - perguntou, voltando a mexer dentro da sacola e tirando aqueles olhos irritantes de cima de mim e eu fechei a cara.

Luana: Eu não. Chama a tua esposa... ah, esqueci, ela já tá com outro, né?! - debochei.

Neguinho levantou o olhar pra mim, parando até mesmo de respirar.

Senti minha cabeça rodar ao perceber que eu tinha falado bem mais do que ele sabia. Na verdade, eu só queria debochar da cara dele mesmo, mas acho que tinha me metido em encrenca... mais uma vez por conta dele.

Eu teria muita sorte se o Terror se contentasse em cortar só o meu cabelo, e não a minha cabeça.

Neguinho: Que merda tu falou aí? - perguntou, com a voz tão grossa que fez eu me arrepiar de medo.

Luana: Tava te gastando. Não sou eu que venho no dia de visita íntima! - desconversei, desviando o olhar.

Neguinho: Me gastando o caralho, tu acha que eu sou burro? - falou mais alto, atraindo o olhar de algumas pessoas. Ele percebeu, e respirou fundo, pra se acalmar. Inclinou o corpo na minha direção, encima da mesa, aproximando o rosto do meu - Se eu não tivesse cercado de verme já tinha atirado na tua cabeça, filha da puta!

Luana: Cara, é sério.

Ele riu abertamente, jogando o corpo na cadeira de novo, e depois fechou a cara, cruzando os braços.

Neguinho: Fala a verdade.

Luana: Eu tô falando a verdade.

Neguinho: Tu tá protegendo alguém - apontou - Tu pode até escolher. Ou da com a língua nos dentes e morre na mão desse arrombado ou fica se fazendo e morre na minha.

Luana: Vocês não são uma família feliz. Não são um casal. Deixa a garota viver a vida dela, se vocês tiverem que ficar juntos de novo, isso vai acontecer.

Neguinho: Se eu quisesse saber a tua opinião eu te perguntava, piranha.

Luana: Só me deixa ir embora - choraminguei.

Neguinho: Tu quer viver? - assenti rapidamente - Eu te faço ficar viva, mas tu vai ter que me falar tudo o que tá rolando lá fora!

Luana: O Terror vai em matar, cara. Você não vai conseguir me deixar viva.

Neguinho: O Terror? - ele soltou mais uma risada sinistra e limpou os dentes com a língua - Tu sai daqui e vai direto pra fora morro. Procura o Formiga, ele vai te dar uma assistência maneira.

Luana: Não sei se posso confiar em você.

Neguinho: Enquanto tu decide, abre o bico aí e me conta essa merda.

Eu respirei fundo, orando pra Deus e pra todos os santos que me protegessem.

Antes que eu pudesse começar a falar o sinal tocou, avisando o fim da visita.

Eu me levantei correndo, deixando o Neguinho queimando os neurônios dele sozinho.

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