Capítulo 06

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Terror ☠️

Deixei a Laís no apartamento de gente rica que ela morava. Garota sem noção, vinha da favela e vivia que nem uma rainha enquanto os mano vivia se fudendo lá no morro. Sem noção e mal educada, porque nem me agradeceu direito, só lançou um "valeu" e correu pra dentro do prédio. Nem entendi legal, e por mais que eu tivesse meus bagulho pra resolver na favela, não podia deixar a princesinha do DG desprotegida ali.

Sempre tinha uns mano que rodava a casa dela, a escola das crianças e até algumas vezes eu fui o cara. Mas a gente sempre ficava de longe, só pra garantir que tava tudo na paz.

Então me contentei em fazer o meu serviço, esperando a bandida dar ar caras. Mas ela só apareceu quando o mano Neguinho entrou no apartamento. Aí mesmo que a maluca ficou mais maluca. De início, tava nem entendendo, e aí mesmo que não acreditei na história do VH. Laís era rendidinha no mano e só tava fazendo cena.

Bom, foi o que eu achei.

Até ver ela chutando a bunda do Neguinho pra fora do apartamento. Ele transtornado, gritando pra caralho com a garota que tava com o peito estufado, gritando no mesmo tom. Maluca tinha medo, não?

Neguinho dispiou e eu botei fé que devia fazer o mesmo. Mas antes que eu pudesse fechar o capacete e voltar pra favela, meu celular tocou. Era um número desconhecido. Atendi sem pensar muito no bagulho.

Terror: Chora.

Laís: Já que você tá aí na frente do meu prédio a uma hora, e eu nem sei porque, não te pedi nada. Faz o favor de avisar pro Neguinho fazer o mínimo e ir buscar os filhos dele na escola, eu tenho uns assuntos pra resolver.

Terror: Garota, primeiro que eu nem sei como tu tem meu número.

Laís: Vitor fez alguma coisa útil da vida dele.

Terror: Não fala mal do meu mano não, tá? Ele é vagabundo sim. Mas só eu que posso falar.

Ela riu.

Terror: Segundo papo, não sou moleque de recado. Manda uma mensagem pro teu homem, tô fora desses bagulho.

Laís: Ele me bloqueou! - gritou, claramente puta.

Terror: Tá. Grita no ouvido dele, Laís, não no meu!

Laís: Terror, se você não avisar pro Neguinho quem vai ter que ir pegar as crianças é você!

Terror: Ih, maluca, a erva tava estragada? Não sou baba não!

Laís: Tenho que pedir demissão do meu emprego e ir na faculdade, tô arrumando as malas e falta quinze minutos para as crianças saírem. Preciso de ajuda!

Terror: Engraçadona, lembro de que a umas horas atrás tu tava gritando pro Neguinho que não precisava dele - joguei na cara mesmo, tava nem vendo.

Laís: Ta bom, Terror. Valeu! - desligou.

Bufei.

E liguei de novo pra maluca. Ela atendeu rapidinho, mas ficou quieta.

Terror: Autoriza os bagulho na escola, vou pegar teus pivete.

Laís: Não precisa, eu me viro. Obrigada! - desligou de novo e eu já tava me estressando.

Entendi legal quando o VH e o DG diziam que a mandara era ruim. Bicha difícil da porra.

Não ia ficar batendo cabeça com besteira. Subi na minha moto colocando o capacete e voltei pro morro, se desse b.o o problema não era meu.

Cheguei em casa sem nem parar pra falar com os mano que faziam a contenção no começo do morro. Tomei um banho maneirinho e fiquei de bobeira, mexendo no celular e fumando um verdinho. Só aquilo pra me deixar calmo e tranquilo, papo dez.

Quando deu umas oito horas da noite eu subi pra casa do DG, ia tentar bater um rango lá, porque tava sem comida em casa e nem um pouco afim de fazer a feira do mês.

VH tava sentado no meio fio, e eu sentei do lado do mano, depois de fazer um toque com ele.

Terror: E aí, paizão. Como tá o DG?

VH: Enchendo o saco com os drama dele. Quer logo que eu e tu assuma os bagulho.

Eu ri, nervoso.

Terror: O cara viaja. Tá cedo pra pensar nisso.

VH: E tu já viu o DG me escutar?

Neguei.

Terror: Nem eu te escuto, mano. Tu só manda ideia errada.

Ele fez careta, mas nem tava me olhando.

Terror: Bailinho hoje? Bora?

VH: Não, né, pai. Homem de família! Vou ficar em casa pra curtir com meus afilhados.

Terror: Ó, evoluídão nas ideia, mano - ele fez que sim com a cabeça, com maior cara de se achão - Os pivete chegaram?

VH: Acabaram de chegar - apontou com a cabeça pro carro que entrava na rua.

O carro preto estacionou bem na nossa frente. Reconheci como sendo uma das peças raras do DG, mas quem dirigia era a Laís, que saiu do carro abrindo a porta pros filhos.

Meu queixo foi no chão. DG não deixava ninguém encostar naquele carro, nem eu, nem o VH, era mais importante pra ele do que a gente, se pá.

VH levantou, pegando a menina que saiu correndo no colo, enquanto enchia a garota de beijos. E o menorzinho abraçou a cintura do tio, falando altos bagulho de como tinha sido o dia dele na escola hoje.

Laís tirava as malas do carro e eu fiquei paradinho não minha, de braços cruzados só observando aquela máquina... o carro, só pra deixar claro. Vitor tava feliz pra caralho com eles ali, tava nem segurando a pose de bandido.

Eu já não podia dizer o mesmo da irmã.

Laís nasceu pra essa vida. Maior cara de bandida, pilantra, me encarando com deboche.

Estiquei o pescoço pra ela, metendo marra. Que que a garota tava querendo? O pai é gato? É. Mas não ia dar moral pra ex/atual/seilá do chefe do morro aliado. Era guerra na certa.

Ela deu de ombros, e foi pra perto do irmão e dos filhos.

Marolei legal, saindo dali de fininho e entrando na casa onde o DG dormia no quarto. Nem parecia o mesmo pico, tava tudo cor de rosa e azul demais, casa dos sonhos de qualquer criança. Vídeo-game na televisão, minha mão até coçou pra jogar, porque era novo. Tobogã na piscina. E vários bagulho que a piazada adora. Não era o rolê que o pai curtia. Então vazei no sapatinho, procurando alguma diversão no baile do Cantagalo.

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