Capítulo 56

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Neguinho 💥

Dia de vitória, só progresso.

Quando o camburão que me levava algemado bateu, eu sabia que a liberdade tinha cantado pra mim. Demorou nem um segundo pra eu ouvir os barulhos dos tiros e a porta ser aberta. Formiga saiu atirando em tudo, e me ajudou a soltar das algemas, entregando uma pistola pra mim.

Poucos dos nossos feridos, a guerra tava vencida pro nosso lado.

Imbicamos direto pro morro, com uns alemão na nossa cola, mas não deu em nada além daquela trocação de sempre.

O carro parou logo na boca e eu já desci comemorando pra caralho.

Luana estava ali também.

Quando me viu, ela já veio correndo me abraçar. Eu agarrei a cintura dela, apertando o corpo contra o meu. Tava com a maior saudade dela, papo reto. Umas duas semanas que a gente não se via, porque ela tava pistolona comigo. Tinha levado uma maluca diferente pra visita íntima e ela não gostou.

Luana era minha fiel a uns cinco meses. O posto era dela, a única que eu via que não tava comigo só por interesse. No começo sim, claro que foi. Ela chorava pra caralho quando tinha que ir me ver, e chorava pra caralho quando tinha que ir embora. Aí a gente começou a trocar uns papo maneiro e eu acabei curtindo.

A vida dela era tão foda quanto a minha. E ela era quase tão porra louca quanto eu.

A nossa conexão era uma parada doida. Eu amava aquela maluca. Mas não conseguia ficar só com ela.

Diferente da Laís, a Luana adorava o posto de patroa, e se achava a maior dona das parada tudo. Eu dava essa moral pra ela. Laís me ajudou a crescer, mas não quis ficar comigo no meu momento de glória. Luana me conheceu fodido, preso, e mesmo com as parada toda ela confiou em mim pra construir uma relação maneira.

Era a minha de fé, pô. E sobre nós só a gente entendia.

Senti meu ombro molhar, com as lágrimas que ela derrubou, e já afastei meu rosto, pra ver o dela.

Luana tava sentimental pra caralho. Tinha perdido a avó a poucos dias e eu sabia que ela não tinha mais ninguém além de mim.

Ela sorriu e secou o rosto rapidinho. A garota podia estar destruída, mas nunca ia deixar ninguém ver ela mal. Era inabalável, e essa era uma parada que eu amava pra caralho nela.

Neguinho: Maior saudade de tu, minha miss - ela sorriu com o apelido e beijou a minha boca.

Luana: Eu estava morrendo de saudade, meu amor.

Entrelacei os nossos dedos e beijei a mão dela.

Neguinho: Fiquei muito tempo fora. Tenho uma porrada de coisa pra resolver. Me espera mais tarde?

Vi que ela bolou na hora, mas concordou com a cabeça, se despedindo de mim com mais um beijo.

Luana: Não demora, tá? Preciso falar contigo.

Eu concordei e me afastei, empurrando o Formiga pro canto.

Coloquei meu cigarro na boca, e ele colocou o fogo no meu e no dele.

Formiga: Dia de comemoração, patrão. Bora dar fuga na fiel e piar pro bailão.

Eu neguei com a cabeça, soltando a fumaça.

Neguinho: Dia de missão, irmão - ele me encarou sério - Aniversário da Laís hoje, tu tá sabendo de alguma fita?

Podia passar o tempo que fosse, mas eu nunca ia esquecer daquela data.

Formiga: Pô, patrão, tô sabendo de nada!

Neguinho: Eu não mandei tu ficar na cola dela? - perguntei ficando puto.

Formiga: Mandou. Mas também mandou eu ficar na da Luana.

Neguinho: Não tô falando da Luana agora, eu tô falando da Laís - o cortei e ele concordou - E meus filhos?

Formiga: Estão bem.

Maior saudade do mundo das minhas crianças, papo reto. De vez em quando eu conseguia falar com eles por ligação, a Laís tinha contado a verdade sobre o meu paradeiro, até porque eles já eram bem grandinhos pra dar ouvido pros amiguinhos na rua, e com certeza eles falavam o que ouviam dos pais. Sempre recebia foto deles, mas não era nada perto da saudade infinita que eu precisava matar, de ver eles, sentir o cheiro deles.

Neguinho: E o Terror? - soltei a fumaça mais uma vez.

Formiga: Tá lá fazendo o dele, né. Laís e o Terror estão morando juntos agora, com os teus filhos lá.

Eu ri sem humor e neguei com a cabeça.

Laís era uma otaria de não ter se separado do fodido depois de tudo o que eu aprontei.

Fiz mulher pra caralho encher a cabeça dela falando que tinha caso com ele, e até armado umas peças pra ela pegar ele no flagra com alguém, mas o fodido tinha um dom que eu não tinha: a porra da fidelidade.

De umas dez que fizeram o serviço pra mim, três ele matou.

Eu tava conformado que a Laís não ia voltar comigo, e tranquilo, porque eu tava com a Luana agora, então foda-se.

Mas ela também não ia ficar com o Terror.

E já que não consegui a separação jogando um contra o outro, eu ia ter que sujar as minhas próprias mãos com isso.

Neguinho: Vou tomar um banho e a gente vai pro Pavãozinho. Preciso dar um presente de aniversário pra mãe dos meus filhos.

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