Capítulo 34

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Luana 💅🏻

Quando eu ouvi o barulho do primeiro rojão, anunciando invasão, eu me desesperei. Me debati e tentei a todo custo sair da situação que eu me encontrava.

Eu estava trancada, sozinha, na salinha. Mas essa era bem diferente da que eu geralmente frequentava pra ficar com algum dos caras do corre. Essa era a salinha de tortura, onde quando você entra, é bem difícil sair com vida.

Gritei. Tentei chamar pelo Terror, pelo VH, e até pela Bruna que tinha me deixado aqui dentro. Mas ninguém apareceu.

E os tiros só se intensificaram.

Ali amarrada no chão sujo e fedorento sem o olhar de ninguém me encarando, eu me permiti chorar igual uma criança, deixando com que a dor saísse um pouquinho do meu peito.

Eu estava morrendo de medo. Mas em momento nenhum eu menti e o Terror precisava acreditar em mim!

Tinha total consciência da fama que eu tinha naquele morro e sabia que se o Terror estivesse realmente de quatro pela Laís, como muitos tinham falando por aí, ele não ia acreditar em mim. E o VH então eu não precisava nem falar. Ele só não me matou na frente de todo mundo perto da quadra porque o DG o chamou.

Eu não estava nem um pouco preocupada comigo, em nenhum momento passou pela minha cabeça temer pela minha vida, mas eu estava tremendo só de pensar que a minha vó poderia ficar sozinha.

Ela era tudo pra mim. Era por quem eu vivia e morria. Por quem eu daria a minha vida e lutava pra caralho pra não deixar nada de ruim atingir ela.

Minha avó cuidou de mim durante toda a minha vida. Minha mãe morreu, meu pai a matou e em seguida foi preso por isso. Quando eu era mais nova a minha avó sempre falava que nenhum dos dois batiam bem da cabeça, e eu morria de medo que um dia ela desse ouvidos aos fofoqueiros do morro e percebesse que eu também não era motivo de orgulho.

Puta, vagabunda e interesseira. Era tudo o que eu ouvia o tempo todo, todo dia, e tinha até me acostumado com o título, mas acho que no fim das contas nenhuma cruz é tão pesada que a gente não consiga carregar, e eu estava na luta pra segurar a minha.

A uns cinco anos a minha avó foi diagnosticada com alzheimer, bem no início da doença. Eu tinha dezessete anos, estudava e sonhava pra caramba em ser dentista.

No começo a gente conseguiu levar uma vida tranquila, porque os esquecimentos que ela tinha eram muito fracos. Ela não lembrava de algumas palavras, ou de onde havia deixado alguma coisa, mas com o tempo passou a piorar e vieram os apagões, onde ela simplesmente esquecia de tudo, até de mim mesma e ficava extremamente raivosa e agressiva. Com isso, ela foi demitida e não conseguiu arrumar mais emprego.

Eu tentei. Tentei pra caramba. Mas não conseguia. Ninguém queria dar uma vaga de emprego pra uma garota de dezessete anos que morava no morro e nem tinha terminado o ensino médio.

O estudo ficou de lado, junto com o meu sonho de ser uma dentista, pra dar lugar ao desespero de ver a minha avó deixar de comer pra me dar, e sem nem saber se ainda teríamos algo pro dia seguinte.

No começo, eu conversei com o Indio sobre o que rolava lá em casa, mas fiz ele jurar que não contaria pra ninguém. Ele me colocou a fazer uns esquemas pra ajudar no corre e rendeu uma grana maneira, até eu levar o meu primeiro esculacho dos canas e deixar de lado essa possibilidade.

Conheci a Vanessa, uma mulher que realmente era prostituta assumida e ela me ofereceu ajuda, disse que poderia render uma boa grana, mas eu neguei de início, mesmo que tenha guardado muito das dicas que ela havia me dado. E no dia seguinte, quando passamos o dia sem ter o que comer em casa, eu resolvi colocar o que havia escutado da Vanessa em prática, e deu certo.

Eu não era uma prostituta. Não trabalhava em nenhuma casa, nem anunciava que o meu corpo estava à venda. Mas me colocava em situações que eu não queria, e no fim sempre acabava pedindo uma grana pro cara que eu me relacionava, então no fim das contas eu e a Vanessa não éramos tão diferentes assim.

Só queria que essa merda de vida acabasse de uma vez. E mais do que isso, eu queria poder voltar a sonhar e deixar com que a minha avó se orgulhasse de mim por conseguir alcançar o meu objetivo.

Mas eu me sentia cada vez mais encurralada, e completamente sem rumo.

Respirei fundo, quando o barulho dos disparos diminuiu muito, e limpei o meu rosto, tentando ajeitar a minha fisionomia.

Ninguém podia ver o quão destruída eu realmente era.

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