Capítulo 19

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VH 🌪

O morro estava um fervo. Hoje era dia de baile e tava todo mundo no pique empolgadaço. A ideia do baile era começar sexta e terminar na manhã de sábado, porque no sábado à noite ia ter mais fervo e continuava no domingo com um pagodinho e churrasquinho naqueles pique.

Pra que tudo isso? Porque o morro estava sob novo comando. Meu e do meu irmãozão. Hoje a gente ia assumir de vez, na frente de todo mundo.

Eu tava um pouco nervoso. Terror parecia não estar muito, mas tava felizão pra caramba.

Estávamos na boca, conversando com os cria quando a Laís passou.

VH: Ei piranha! - gritei e ela me olhou, do outro lado da rua. Ela apertou os olhos, forçando a vista, certeza que não tava nem me reconhecendo de longe - Cega pra porra.

Ela atravessou a rua, e se aproximou da gente, me abraçando pelas costas.

Laís: Oi, cheiroso - mordeu meu ombro. Eu estava sem camiseta, calor pra caramba.

VH: É isso que eu digo pra vocês quando falo que elas gostam de tirar pedaço - gastei com os manos, e recebi um soco na barriga - Porra, maluca!

Laís: Se liga, não fica falando merda pro meu filho.

VH: O que que eu falei agora?

Terror: Tu só fala merda, cara. Nem tenta lembrar.

A Laís riu e concordou.

VH: Tu tá fazendo o que aqui? Ninguém te chamou - empurrei a cabeça dela, que me deu um chute na canela - Ou, tu tá agressiva hoje! E tá muito piranha, cadê o resto da roupa?

Laís: Não sei, devo ter esquecido na casa de algum amigo teu.

VH: Engraçadona. Acha que é engraçada. Há há.

Bruna: Laís, vai no baile hoje, né? - perguntou, e eu vi que tava todo mundo olhando a nossa discussão.

Ela fez careta.

Laís: Queria. Mas tem as crianças...

Terror: Como assim tu não vai? - ela deu de ombros - Teu pai vai passar o morro pro nosso nome hoje.

Laís: Eu sei, Terror. Mas tenho dois filhos, só pra te lembrar.

Bufei.

VH: Nunca gostou de ver o meu sucesso, isso aí é caô.

Laís: Vai pra merda.

Abracei ela.

Bruna: Contrata uma babá. A tia Suzana fica, não é Nando?

A tia Suzana era mãe do Nando, fazia rango maior bom e era babá de umas crianças na pista. Ela descia todo dia pra ir cuidar das crianças. E as vezes fazia uns bico pelo morro.

Nando: Claro, pô. Teus pequenos ficam de boa?

Laís: Sim. Eu coloco eles pra dormir e depois vou pro baile, aí eles devem acordar umas oito ou nove horas da manhã - ela falou, olhando direto pro Nando - Você acha que não tem problema?

Ele riu.

Nando: Relaxa, Laís. Minha mãe é de confiança.

Eu fechei a cara. Nando não ria pra ninguém. Era o mano mais envergonhado que eu conhecia, ficava negando voz até pra gente.

Laís: Eu sei. Tá tudo bem, já conheci o teu pai também.

VH: Ih, que bagulho é esse? - soltei a minha irmã, agarrando uma pedra no chão e jogando no Nando, que desviou - Tô gostando não, hein. Te liga!

Laís: Deixa de ser ridículo.

Terror: Coloquei o Junin e o Nando pra cuidar da Laís um dia aí - se meteu - O seu Francisco ajudou a tua irmã com os bagulho da mudança.

Laís encarou ele.

Laís: Ta sabendo demais.

Terror nem rendeu papo e acendeu um cigarro, encarando a Laís. Acho que eu fui o único a perceber que tava rolando uma tensão ali, além da Bruna, que segurava o riso com a mão na boca.

Laís era feia, meu mano Terror era feio.

Os dois eram cabeça dura, chatos e me amavam.

E os dois ficaram se encarando por uma cota de tempo.

Tava nem vendo. Aqueles dois tinham muitas coisas em comum.

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