Capítulo 54

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Luana 💅🏻

Coloquei a grana que o VH tinha me dado encima da mesa, junto com as contas. Minha vozinha cozinhava ali, na maior paz, enquanto eu já estava com dor de cabeça só de pensar qual conta conseguiríamos pagar aquele mês. E mais do que isso, eu precisava de alguém, alguma enfermeira, sei lá... alguém que entendesse um pouco da doença dela e que pudesse de alguma forma ajudar, porque o corpo dela já estava se acostumando com o efeito dos remédios e os apagões de memória estavam cada vez mais frequentes.

Eu estava tentando arrumar um emprego, mas não consegui nada fora do morro, e a única pessoa que me ofereceu algo foi a Camily, no salão de beleza da rua de baixo. Mas pra isso eu precisava pelo menos entender alguma coisa de cabelo, maquiagem e unha, e pra isso precisava fazer um curso. Mas como eu ia conseguir sem dinheiro? Ou a gente comia, ou eu fazia o curso.

Luana: Vó, o remédio da senhora tá em dia?

Cleide: Sim, filha. Inclusive acho que tem só até semana que vem - me olhou, parando de mexer nas panelas - Como foi no trabalho hoje?

Eu tinha mentido. Disse que tinha ido trabalhar na praia, divulgando um evento.

Luana: Rendeu um pouco. A senhora já recebeu o auxílio, né? - ela concordou.

Era foda, o auxílio que o governo dava não passava de quatrocentos reais.

Cleide: Mas esse dinheiro vai para contas da casa.

Luana: Não, vó! Esse dinheiro vai pra comprar os seus remédios, com as contas eu me viro.

Cleide: Eu sou sua avó, sou eu quem tem que cuidar de você.

Me levantei da cadeira, e fui abraçar o amor da minha vida.

Luana: A gente cuida uma da outra - ela sorriu e retribuiu o meu abraço.

Tive que me afastar quando ouvi alguém chamando do lado de fora da casa, e fui atender sem fazer ideia de quem fosse.

Encontrei o Formiga na frente do portão, com a maior postura e cara fechada.

Sabia que tinha sido enviado pelo diabo, vulgo Neguinho, então já caminhei até ele de cara fechada.

Luana: Avisa pra ele que a resposta é não. Seja lá qual for a pergunta.

Formiga levantou a sobrancelha, segurando o riso.

Formiga: Eu falei alguma coisa?

Luana: Mas vai falar.

Formiga: Tua vó tá bem?

Eu estufei o peito, batendo de frente com ele.

Luana: Ta maluco de falar da minha avó?

Formiga: Abaixa a bola, mandada - senti o cano da arma na minha cintura e ele me deu um empurrãozinho com ela, fazendo eu me afastar - Neguinho te quer na visita íntima, pô.

Luana: Vai ficar querendo.

Formiga: Todo mundo tá ligado que tu não tem essa moral toda pra ficar negando grana.

Luana: Quanto? - perguntei, só pra saber mesmo. Eu não ia aceitar.

Formiga: Cinco.

Luana: Cinco? - gritei.

Formiga: Ele quer tu a qualquer custo, to falando.

Luana: Cinco mil? Por uma transa? Ele tá necessitado mesmo hein - neguei com a cabeça, abrindo o portão de casa - Diz pra ele oferecer pra outra. Não quero essa vida.

Formiga: Pensa pelo menos - pediu, me esticando um papelzinho com o seu número de telefone.

Eu peguei o papel e entrei em casa, indo direto pra cozinha. Minha avó estava sentada comendo, e me olhou estranho quando eu entrei.

Luana: Aí, Vó.... Agora não, por favor! - sussurrei baixinho, sentindo o no se formar na minha garganta.

Cleide: Como você entra na minha casa assim? Sem nem bater?

Luana: Desculpa, eu errei a casa.

Me afastei rapidamente, voltando pra rua. Formiga ainda estava ali, fumando um cigarro.

Depois das primeiras crises que ela teve, e eu tentei a todo custo fazer com que ela lembrasse de mim, descobri que era melhor não contrariar e simplesmente respeitar o momento, parecia que a crise demorava menos tempo quando eu não forçava a memória dela a voltar.

Formiga: Um tapa? - esticou o cigarro pra mim.

Me sentei ao lado dele no meio fio, e peguei o cigarro dando uma tragada e devolvendo pra ele. Ficamos fumando em silêncio, mas eu sentia o olhar dele queimar em mim o tempo todo.

Joguei a ponta no chão, quando dei a última tragada, e encarei o Formiga.

Luana: Fala pro Neguinho que eu não quero cinco mil. Eu quero que ele coloque a minha vó na melhor clínica desse país, e arque com todas as despesas que ela vai ter. É isso que eu quero, e é só assim que eu aceito!

Ele arrancou o celular do bolso, e digitou algumas coisas. Eu só fiquei olhando, me perguntando se eu estava fazendo merda como sempre... provavelmente sim!

Formiga: Ele aceita tuas exigências aí. Mas tu vai ter que estar disponível quando ele quiser e como ele quiser.

Encarei o chão, abraçando meus joelhos e assenti.

Luana: Eu quero ela com os melhores médicos amanhã.

Formiga: Tu vai ter - ficou de pé - Tu exclusividade do patrão agora, te liga!

Luana: Vai a merda.

Formiga: Vou pro meu plantão, depois te passo o que tu precisa saber.

O Formiga deu tchau e eu mandei meu dedo do meio pra ele, tentando colocar na minha cabeça que eu só estava fazendo aquilo para o bem da minha avó, e que logo logo tudo voltaria a ser como antes.

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