Capítulo 43

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VH 🌪

Fiquei esperando a Maria Eduarda chegar, enquanto brincava com as crianças na casa da minha irmã. Com uma boneca na mão, e o controle do videogame na outra, eu me dividia entre os dois donos do meu coração.

Era meio doido, mas com eles eu não me sentia mal, como me sentia com a Laís e o Terror. Sentia muito que estava decepcionando eles, e não era isso que eu queria. Meus sobrinhos me olhavam sempre com orgulho, independente do que eu fizesse, e acho que era por isso que eu me sentia muito mais leve perto deles.

Mas já tinha tomado uma decisão. Meu pai ia enfiar um rojão no meu cu se estivesse vivo e visse as merdas que eu estava fazendo.

Fazia exatamente vinte e nove horas que eu não tinha bebido, injetado, fumado ou cheirado nada. Eu tava conseguindo me manter limpo e ficar tranquilo com isso... por enquanto.

Vitória: Mas você brinca muito mais com o Pedro Antônio! - reclamou, quando eu deixei a boneca loira cair no chão, pra fazer um gol no videogame.

Pedro: Meu nome é Pedro, e não Pedro Antônio, Maria Vitória! - rebateu, mostrando a língua pra ela.

Vitória: Dindo, o Pedro Antônio está brigando comigo!

Pedro: Foi ela que começou, VH.

Eu pausei a televisão, encarando os dois bem sério.

VH: Se os dois não pararem com a palhaçada eu mando o Junin ficar aqui dentro com vocês e meto o pé - encarei o Pedro - E tu para de me chamar de VH, moleque. Sou teu dindo lindo do coração!

Ele riu.

Pedro: Eu tenho que me acostumar, né dindo. Vou ter que te chamar assim quando a gente trabalhar junto.

Vitória: Você vai atirar? - perguntou, com os olhos arregalados.

Pedro: Eu vou - deu de ombros.

Vitória: Mas a minha mãe vai bater em você!

Eu fiquei quieto, só marolando na ideia das crianças e achando a maior graça naquilo.

Pedro: Mas o meu pai não vai deixar, porque ele também atira. Até o irmão da Laís atira!

VH: Ou, aí não - interrompi ele, apontando - Chama a chata da tua mãe direito.

Pedro: Até o irmão da minha mãe atira! - ele corrigiu e eu concordei.

A porta foi aberta e eu me virei, vendo a Duda parada bem ali, olhando para a minha direção, completamente sem reação.

Vitória: Ainda bem que você chegou, Dudinha. Tô com fome e o meu dindo só me deu bolacha!

A garota desviou o olhar de mim e sorriu pra Toya.

Duda: Vou fazer um bolo pra vocês comerem, tá bom? - as crianças comemoram - Enquanto isso troquem de roupa, a xerife Laís liberou a gente pra ir na pracinha brincar um pouco depois dos deveres.

Toya foi na frente. Depois que ela voltou o Pedrinho foi se trocar e eles pediram a minha ajuda pra fazer as atividades que a professora tinha mandado, enquanto a Maria Eduarda nem tinha dado as caras desde que entrou na cozinha.

Resolvi que era a hora de encarar aquilo e me levantei, indo até lá.

VH: Ei - chamei, entrando na cozinha - Tu tá bem?

Ela assentiu.

Duda: Você já pode ir se quiser. Eu fico com eles.

VH: Vou ficar também - cocei a nuca - Queria te pedir desculpa por ter feito o que eu fiz, e falado o que eu falei. Tô tentando ficar limpo.

Duda: Parabéns - respondeu. Mas nem foi com grosseria, ela só parecia ter se embaralhado nas palavras.

VH: Foi mal mesmo, tá?

Duda: Tudo bem, VH.

Eu fiz careta. Ela sempre me chamou de Vitor.

VH: Tu sabe o meu nome, não precisa ficar chamando pelo vulgo.

Duda: Sempre foi você quem me pedia pra te chamar pelo seu vulgo.

VH: Tô ligado - respirei fundo - Fui bem otario contigo.

Duda: Foi sim.

VH: Tu sai daqui que horas? - perguntei.

Duda: Laís chega às cinco e meia, seis horas.

VH: Quer dar um rolê depois? Sei lá, uma forma de pedir desculpa.

Ela bateu na bancada da pia, mas continuou me olhando.

Duda: Você não vai me comer, VH.

VH: Duda...

Duda: Ta tudo bem, eu já te desculpei. A gente só não precisa ter contato - me interrompeu.

Ela virou de costas, voltando a arrumar a cozinha e eu voltei pra sala, indo brincar com as crianças.

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