Jade
Quando eu sai do banho o PA tava em uma ligação. Comecei a me arrumar no banheiro para dar privacidade a a ele, mas não tinha como não ouvir. Ele falava com a Thays sobre o Peazinho.
- Marrentinha, acabou aí?
- Sim, sim. Pode entrar. Tá tudo bem?
- Tá. É que às vezes a Thays encrenca com uns bagulhos nada a ver. Sei lá. Às vezes é complicado.
O PA nunca tinha conversado muito sobre isso comigo, foi a primeira vez. Ele entrou no chuveiro e continuou:
- Eu tento ser 100% cabeça de gelo, sabe? Pelo moleque, mas tem hora que é foda. Ela transforma uma besteira em uma parada gigante.
- O que aconteceu, PA?
- Hoje é o meu dia com o Peazinho, a gente tem dividido os dias enquanto estou em casa, pra ele não sentir falta de nenhum dos dois. Ai eu liguei pra ela pra buscar ele pra irmos para o Clube onde vai rolar o evento e ela já veio pagando na minha mente que não era pra eu deixar o moleque com meus pais para sair.
- Mas a sua programação é com ele, não teria motivo para você deixar ele com seus pais. Por que ela falaria isso?
- Sei lá, acho que ela sabe que você chegou, aí meteu essa.
A pulga se instalou atrás da minha orelha. Não achava que a Thays se referia a mim na fala dela, mas deixei isso pra lá e fui acabar de me arrumar. Escolhi um conjunto novo que a Adidas tinha me enviado nos últimos dias.
Quando o PA saiu do banho, me viu pronta, falou rindo:
- Porra Jade, se fotografarem a gente junto hoje vai ser uma dor de cabeça para as marcas, hein?
- Mano, eu juro que escolhi um bem discreto pensando em seu patrocinador... as coisas que a gente faz por quem a gente gosta.
Ele veio me abraçar:
- Jura? Você pensou nisso?
- Claro né, PA? O evento é seu, seu patrocinador é concorrente do meu. Optei por tudo bem básico pra não criar nenhum problema pra você.
Ele me beijou, mas eu não deixei seguir afinal ele estava só de cueca. A prova de resistência era difícil.
- Agora vai se arrumar, pra gente não se atrasar.
Saímos antes que os pais dele porque buscaríamos o Peazinho. Quando chegamos lá, a Thays veio trazer ele. Desci do carro para cumprimentá-la e ajudar ao PA com as coisas do bebê. E percebi que ela ficou surpresa ao me ver.
- Oi Thays. Tudo bom? Prazer te reencontrar. E você, Peazinho? Como você tá grande! Ele cresceu muito nessas semanas hein? Impressionante.
- Oi Jade! Não sabia que você estava aqui! Bom te ver também. Ele tá enorme né?
Quando ela disse que não sabia que eu estava lá, pensei comigo: Bingo! Minha intuição não falha. PA tava pegando o Peazinho e arrumando ele na cadeirinha, então, se ouviu, fingiu que não ouviu. Não quis entrar naquele assunto, mas meu alerta estava ligado.
O evento foi incrível. As crianças da Associação são simplesmente apaixonadas pelo PA. Foi realmente sensacional ver o amor que a família inteira tinha pelo atletismo e pelo projeto.
Após o evento, fomos almoçar em Vitória, num lugar com uma vista belíssima. Foi um acontecimento a nossa presença, mas ainda assim conseguimos aproveitar. Experimentei a tão falada moqueca capixaba. Foi um dia muito especial, a família dele foi um amor comigo e acho que fiz uma amizade verdadeira com o Peazinho que acabou dormindo no meu colo no restaurante.
Voltamos para Vila Velha e passamos o restante do dia com a família do PA na área externa de casa, brincando com o Peazinho. Era muito bom estar ali, vivendo algo tão simples mas tão belo quanto o PA ao lado da família, era fácil perceber porque ele era tão amoroso, a família dele era só amor.
Depois que o Peazinho dormiu, o PA quis sair pra jantar e me levou em um japonês super bacana. Diferente do restaurante em Vitória, aqui ele que falava com todo mundo, percebi que era um lugar que ele frequentava. Fomos interrompidos algumas vezes, mas era o preço. Eu realmente não me importava até que passei a me importar...
Um grupo de meninas chegou na nossa mesa e foi extremamente sem noção. Eu percebi logo que não eram fãs, pareciam amigas do PA. Ele levantou falou com todas e nenhuma delas sequer me deu um boa noite. Fiquei observando a interação e com uma delas o PA parecia muito próximo. Quando elas foram embora ele se sentou de novo e seguimos de onde paramos, preferi não comentar nada.
O celular dele apitou uma mensagem, ele leu, riu e na sequência procurou a tal menina para acenar pra ela. Era demais não era? Eu achei que sim, mas não iria falar nada, podia ser coisa da minha cabeça.
- PA, será que a gente pode ir embora?
- Coé, Deja? Tá tudo bem?
- Tá sim. Só estou cansada. Meu voo foi muito cedo e o dia foi cheio. E ainda tem o Peazinho dormindo com seus pais.