Capítulo 17

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Rodei pela sala, abri gavetas e os armários. Olhei no cestinho de lixo, e vi uma camisinha usada lá dentro.

Olhei ao redor, pra dar uma checada e não tinha ninguém me olhando.

Ouvi ele se despedindo ao telefone, e eu saí da frente do cesto de lixo, ficando na mesma posição em que estava quando ele saiu.

KL : Dora, eles me ligaram agora. Disse que eu já posso ir buscar as mercadorias. Vamo dar um rolê? - Eu não conseguia esboçar nada.

Doralice: Vem cá, tu dormiu onde? - Ele ajeitou a peça na cintura, e me respondeu sem me olhar.

KL : Aqui na boca, por quê? - Ajeitou a bandoleira, e eu ri.

Doralice: Por nada. - Ele me olhou.

Vou aprontar uma com o KL, e ele nunca mais vai esquecer.

KL : Bora? - Concordei, e eu desci com ele.

Não toquei na mão dele, e muito menos nele.

Ele me dá nojo, muito mesmo. Descemos da boca, e o KL foi buscar a moto na garagem.

Fiquei esperando ele na porta da boca, e o Medrado tava fazendo a segurança do local.

Me aproximei dele, que se assustou.

Medrado: Porra, Dora! Susto do caralho, mermão. - Fechei a cara. - Quase que eu desci o aço em tu.

Doralice: Mentiroso, faceiro, ridículo do caralho. - Xinguei ele baixinho. - Tu disse que ele não tava com nenhuma puta.

Medrado: Ele quem? O KL? Parceira, até quando eu tava com ele, ele não tava com ninguém.

Doralice: Encontrei uma camisinha usada na boca, e o ridículo disse que ele tinha dormido lá. - Ele riu.

Medrado: Para de ser neurótica, mulher. Todo segundo entrava maluco na boca pra comprar droga, até os vapores usaram a boca pa fazer esses programinhas aí. - Riu. - Relaxa! Torço pra caralho pa tu sair das garras do KL. Apesar de todas as vezes que ele te traiu, ele tem medo de tu deixar ele. - Eu ri.

Doralice: Vão se foder, os dois! - Vi o KL chegar na moto, e  buzinou pro Medrado, em forma de cumprimento.

KL : Fica pela ordem, viado! - Medrado assentiu, e nós fomos pro outro morro.

Fui o caminho inteiro quieta, e isso tava incomodando ele. Até porque, tinha vezes que eu não calava minha boca por nada. Mas depois que o Yan se foi, esse meu lado morreu.

Do morro da Babilônia, para o morro do Cantagalo, são 20 minutos. E foram os 20 minutos mais longos da minha vida.

Eu gostava de sair, de sentir o vento e de ver pessoas novas. E por ele ter me chamado, eu aceitei. Ele quase não me inclui em nada.

Devem achar que eu sou boba e trouxa, mas não. Eu queria muito sair disso tudo. Mas não tem jeito!

Chegamos no morro, e o proceder era o mesmo. Liberaram nossa entrada, e ele foi direto pra boca.

Até parece que já conhecia.

Ele parou um pouquinho afastado da boca, e eu fiquei admirando. O único morro do RJ que eu nunca tinha visitado, era esse. Tudo tão limpinho, bonitinho e organizado.

KL : Fascinante, não é? - Concordei.

Vi umas meninas rindo pro KL, e eu olhei pro mesmo que tentava disfarçar a cara de safado.

Doralice: Não começa suas palhaçadas aqui não, sacou? - Ele me olhou, e eu fechei a cara.

KL : Sou conhecido, dona! Não posso tratar todo mundo mal só porque tu quer não, demorou? - Ajeitou a peça na cintura, e chamaram ele dentro da salinha. - Fica em paz aí. - Me deu um beijo, e eu limpei minha boca logo em seguida.

Ele subiu pra boca, e eu fiquei do lado de fora. Não queria entrar mesmo.

Eu fechei os olhos forte, só querendo sair desse pesadelo.

Eu não ligava pros chifres que o KL me colocava, eu nem gosto dele. Só acharia ruim, se eu gostasse dele. Queria mesmo era que uma delas conseguisse levar ele de mim. Meu sonho!

Xxx : Qual foi? Não te deram uma cadeira? - Escutei uma voz masculina ecoar pelo local, e eu abri os olhos. - Pega uma cadeira pra ela ai, canhoto. - Um homem barbudo, o mesmo que tava mais cedo apareceu e me deu uma cadeira.

Doralice: Não precisa! - Ri simpática, mas ele insistiu e eu aceitei.

Ele me deu a cadeira, e logo subiu. Passei meus olhos pelo local, e vi um homem fumando na porta da boca, só um pouco afastado. Ele tinha um cavanhaque, os cabelos castanhos claros e olhava firmemente pro nada.

Ele me chamou atenção, mas eu não ficava olhando sempre. Vai saber o que esse maluco é aqui dentro.

Canhoto : Vamo, Mancini. Tão te esperando, irmão! - O homem que me deu a cadeira apareceu na porta, e falou com o mesmo, e ele assentiu.

O tal do Canhoto entrou, e ele terminou de fumar o cigarro sem pressa alguma.

Olhei pra ele disfarçadamente, e ele deu o último trago e jogou o cigarro no chão.

Ele começou a caminhar na direção da boca, e eu queria olhar pra ele de perto. Esperei ele chegar mais, e olhei pro mesmo.

Nossos olhares se conectaram, e eu fiquei paralisada. O mesmo me cumprimentou apenas com a cabeça, e subiu sem nem olhar pra trás.

Marra ou postura?

Doralice. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora