Capítulo 02

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Dalva : Agora me ajuda a desmontar a barraca, pra gente ir embora. Já tá escurecendo.

[...]


Levei as coisas da barraquinha pra casa. Tomei um banho, comi e ouvi baterem na porta.

Abri a mesma, e vi o Yan.

Yan : Oi. - Abriu um sorriso imenso, ajeitando os óculos. - Você disse pra gente brincar. Fiquei te esperando, e não apareceu.

Doralice : É, eu tava na feira ajudando minha avó. - Ele concordou.

Yan : Vai brincar? - Assenti, terminando de comer um biscoito.

Doralice : Vó, vou brincar com o chor.. - Olhei pra ele, que ainda não tinha percebido. - Com o Yan. - Gritei, enfiando toda a bolacha na boca, e saindo.

Nós fomos caminhando até uma pracinha abandonada um pouco afastada da nossa casa. Não tínhamos muito. Afinal, nem precisava.

Vi ele com uma sacolinha de petecas, uma bola e dois tacos.

Doralice : A mocreia da sua mãe não vai aparecer me xingando? - Ele negou.

Yan : Você não gosta dela? - Dei de ombros, pegando a sacola de petecas e arrumando.

Doralice : Não faz muita diferença. Tirando o fato dela dizer que eu sou uma puta, corrompida, feia, pareço um homem e vou te levar pra um caminho ruim.. ta tudo em paz! - Ele riu.

Yan : Vai pra escola amanhã? - Olhei pra ele.

Doralice : Acho que sim! - Ele assentiu. - Vamos sair antes do horário? - Ele concordou. - Não vai dar pra trás que nem da última vez?

Yan : Não, eu prometo. - Começamos a jogar peteca, eu sempre ganhava. Algo que deixava ele irritado.

O Yan é o garoto mais calmo, tranquilo e bobo que eu conheço. A inocência dele me deixa contagiada.

Ele parece um nerd. E é por isso que nossa vibe combinava tanto. Uma garota, excluída e um nerd. Ambos sofrem bullying, e se entendem. Somos amigos a 5 anos, desde que ele chegou aqui.

O Yan mora aqui com a mãe dele e o padrasto. Ela é aquele tipo de mãe superprotetora, que chega a ser irritante. E o padrasto é um viciado, nojento.

Yan : Chega! Eu não quero mais brincar. - Fechou a cara, e eu ri. - Do quê você tá rindo, garota? Você acha que eu não tô vendo você trapacear? - Cruzei os braços.

Doralice : Você que não sabe jogar, e eu que tô trapaceando? Vê se aprende a jogar peteca, moleque! - Peguei as petecas, colocando tudo no saquinho.

Yan : Dora, por que você tá machucada? - Chegou perto de mim, pegando no meu braço, e eu tirei a mão dele.

Doralice : Não interessa! - Continuei guardando as petecas.

Yan : É sério! - Me olhou. - Quem fez isso? - Senti meus olhos pesarem, e eu mudei o foco da conversa.

Doralice : Pega a bola. - Joguei a bola pra ele, que segurou fraco, ainda me olhando preocupado.

Yan : Não muda o foco, eu te conheço! Me conta. - Eu neguei.

Doralice : Vai, garoto! Joga! - Ele jogou a bola de volta, e eu segurei. - Vem pegar vem! - Fiz a jogada de basquete, e ele continuava sério. - Yan, para de graça! Vamos brincar, esquece isso. - Ele negou. - Você é chatão quando quer, em. - Ele arrumou o óculos, e permaneceu na postura.

Yan : Conta, agora! - Exigiu.

Doralice : É.. eu tava.. tava voltando da tua casa. E o trio das songas mongas, me pararam. - Saquei a bola. - Elas começaram a rir de mim, riram da minha roupa.. e falaram de você. - Bati a bola com força no chão, contando a história e nem prestando atenção que ainda tava com a bola. - Elas citaram teu nome, riram de você também e eu.. eu não aguentei. - Saquei a bola novamente. - Sem contar que aquelas caras de rato disseram que eu pareço um homem...

Yan : Dora.. - Continuei contando a história com todo ódio no meu coração. - Dora.. a bola.. - Continuei a parte da briga, e quando vi já tinha arremessado a bola bem na cara do Yan, que caiu no chão.

Doralice : Yan! - Parei de contar a história, e fui correndo até o mesmo que tava caído no chão, e o óculos quebrado. - Você.. você tá bem? - Peguei na mão dele, e ele não respondia. - Responde, moleque! - Ele levantou a mão, e fez um positivo com o polegar.

Corri até a minha casa, e chamei a minha avó e logo a mãe dele apareceu.

Doralice. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora