Capítulo 60

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Saí puto da salinha, e desci feito furacão.

O Medrado me olhou torto, e eu fiquei encarando ele.

Mancini : Qual foi, menor? - Ele negou. - Tem nada pa falar não? - Ele negou. - Tô ligado que a Doralice te considerava pra caralho! - Ele abaixou a cabeça. - A avó dela precisa dela, e eu sei que ela não tá em casa. - Cheguei perto dele. - Se ela tiver correndo perigo.. - Ouvi o Canhoto forçar tosse, e eu olhei pra cima da boca, vendo o KL olhar pra gente, com a boca cortada. - É porra, o jogo foi foda pra caralho! - Bati no ombro dele, tentando disfarçar. - Se ela tiver correndo perigo, me ajuda a salvar ela, e eu não te envolvo nisso. - Falei baixo, e rápido. - Qualquer dia desses, brota lá pra nós jogar uma pelada! - Subi na moto, e ajeitei a mochila.

Desmanchei o sorriso, e o Canhoto  arrastou da Babilônia.

Canhoto : Qual foi, irmão? - Entrou nas estradas, e eu tentava raciocinar.

Mancini : Tá tudo estranho, porra! Tudo estranho. - Respirei fundo. - KL colocou um áudio da Doralice mandando eu me afastar, e os caralho tudo. Mas ela chorava, e eu não senti verdade.

Canhoto : Vai ver ela não quer mais te ver mesmo, porra! - Bati na cabeça dele.

Mancini: Se liga, Canhoto! Vi a garota tem 3 dias, ela disse os caralhos tudo pa mim. Ficamos anos sem se ver, e o sentimento foi o mesmo. Acha que vai mudar de um dia pro outro? Acorda, mermão! - Ele concordou.

[...]

Fiquei na salinha pensando, pensando muito.. Não é possível, papo reto!

A enfermeira que eu contratei pra cuidar da dona Dalva, ta no hospital com ela.

Ela parece ser uma boa pessoa, com certeza vai cuidar super bem dela. Eu não posso sair, muito menos ir visitar a dona lá.

É foda!

Ouvi baterem na porta, e mandei entrar. Vi o Canhoto entrar, e o Medrado também.

Abri os olhos, e me ajeitei na cadeira.

Medrado : Aí, irmão.. Eu não tenho notícias nada boa pa tu, sacou? - Meu coração disparou.

Mancini : Senta, caralho! - Puxei uma cadeira pra ele, e sentei na mesa.

Medrado : Tô em paz em pé! - Ele não veio armado, e parecia nervoso.

Mancini: Fecha a porta, Canhoto! - Ele entrou, e o Medrado me olhou.

Medrado : Doralice tá longe daqui, sacou? Ela ta presa, mantida em cativeiro e machucada pra caralho dentro de um galpão abandonada, pelas estradas da Babilônia. - Cocei a cabeça, e comecei a ficar nervoso. - Ela tá muito machucada, muito ferida.. Tô com medo dela morrer sozinha. O KL abandonou ela lá, e só vai as vezes visitar ela. Tem uns aliados lá, e sempre que eu posso, dou uma passada. Dou água, levo comida. Mas se ele descobrir, sou um CPF a menos. - Passei a mão pelo rosto, impaciente.

Mancini : Ele descobriu, não foi? - Ele assentiu. - Porra! - Saí da mesa, e fui até a laje.

Medrado : Ele ficou louco, irmão! Enlouqueceu! Nem sabe que eu tô aqui. Tô preocupada com a Dora! - Fiquei olhando o movimento, tentando não agir na emoção.

Mancini: O que a gente pode fazer pra salvar ela? Me fala.. - Saí da laje, e fiquei de frente pra ele.

Medrado : Ele vai receber carregamento hoje. Arma uma emboscada, sei lá.. - Uma pontinha de esperança surgiu no meu coração. - Tu tem os milicianos no teu pé. - Eu concordei. - Enquanto ele tiver nos carregamentos, eu te levo até a Dora. Hoje eu fico de soldado. Ele ta desconfiado de mim, não me chama mais pras missões. Tô na mira dele, e se ele descobrir, tô morto! - Eu olhei pra ele.

Mancini: Tu não vai morrer, irmão! Não vai.. - Ele concordou. - Palavra de homem, demorou? De homem! - Peguei na mão dele. - Te trago pra ser meu soldado, e os bagulhos de tudo. - Abracei ele. - Porra! Que horas eles vão? - Ansiedade começou a atacar, e fiquei eufórico.

Medrado: Quando tiver o menor movimento possível. - Assenti. - KL não é bobo, demorou? Faz tudo na cautela. Ele tá louco, muito louco. - Fiz toque fom ele. - Eu vou ter que voltar. Disse pra ele que ia ver minha cria. - Eu concordei. - Eu te ligo quando sair, te passo tudo.

Mancini : Posso contar contigo mermo? - Ele concordou. - Eu tô ligado quem é tua cria, sacou? Não sou de mexer com a família de ninguém, mas se trata da minha loira, e ninguém ta tendo peninha dela. É uma troca justa, em forma da tua lealdade. - Ele concordou.

Medrado : Não precisa mexer com a minha filha, demorou? Tenho palavra, e sou amigo da Doralice também! - Olhou firme.

Mancini : Certo. - Ele saiu da sala, e eu comecei a fazer minhas ligações.

[...]

Vi o Medrado sozinho de moto, e nem desci pra conversar. Ele só buzinou, e eu meti a cara pra fora.

Mancini: Sem gracinha! Tô cheio de aliado. - Mostrei meus irmãos todos armados, e ele concordou, metendo marcha pra fora da favela.

Disse pro Canhoto me avisar sobre tudo que fosse acontecer, e quando ele caísse também.

Tô apreensivo, e espero que o Medrado não esteja mentindo.

Doralice. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora