Garoa

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A estradinha de barro que guiava do portal até a casa era repleta de buracos e os pneus respingavam lama por todo lado a cada uma das poças pela qual passavam. Dois cães chapinharam pela estrada, correndo ao lado do carro enquanto este avançava. Os rabinhos balançavam, alegres e eles rodeavam o veículo, curiosos sobre quem seriam os visitantes. O dia cinzento e úmido tornava o local um tanto tristonho, mas ainda assim, podia-se considerá-lo um belo cenário.

Victoria ria, divertida, acenando para os cachorros, que, ignorando o frio, pulavam e giravam através da estradinha, distraindo-se de quando em quando um com o outro ao iniciar uma simulação de peleja que sempre acabava tão repentinamente quanto havia começado.

Bruno manobrou para estacionar ao lado da casa. Um telhado, apoiado sobre vários pilares de tronco de eucalipto, delineava uma charmosa varanda aonde havia uma mesa rústica com dois bancos, também rústicos, um a cada lado. Uma rede balançava preguiçosa entre dois dos pilares e um banquinho, construído sobre rodas de carroça, servia como acento para quem quer que sentisse desejo de observar o dia em seu decorrer.

Sentado a uma cadeira de balanço, um velho senhor enrolava um cigarro de palha entre os dedos. Ele levantou a mão em um cumprimento casual, mas, fora isso, não fez menção alguma de recepcioná-los.

— Tem certeza de que estamos no lugar certo? – Victoria perguntou.

Bruno desafivelou o cinto de segurança e saiu do veículo, correndo em direção ao idoso, que lhe estendeu a mão sem se levantar, em seguida, acendendo o palheiro com um isqueiro.

Os dois conversaram por algum tempo e, depois disso, ele fez sinal para que as duas saíssem do carro.

Victoria pôs o pé para fora, sentindo todo o corpo se arrepiar por conta de um frio com o qual não estava acostumada. A garoa que tornava o clima ainda mais cinzento cobria seus cabelos encaracolados de gotículas brancas e, ao correr para se esconder da sensação gelada, foi interpelada por um cães que, aparentemente, achou que ela estava disposta a brincar e saltou, apoiando as patas enlameadas sobre sua barriga.

— Não! – Ela gritou, lamentando as marcas de barro em seu moletom. – Para.

O senhor, que até então não havia feito menção de se levantar, se ergueu da cadeira, praguejando contra o cachorro.

— Sai daí! Sua jaguara. – A voz soou arranhada e feroz. Tanto o cachorro quanto Victoria se encolheram por conta do susto.

O velho levou a mão até o chão, catando de lá uma pedra imaginária e lançando-a em direção ao vira-latas, que ganiu e correu, ressentido.

O velho riu uma risada medonha, pigarreou com um gorgolejo molhado e então, estendeu a mão ossuda para o pai de Victoria.

— Eu sou o Aderbal. – Ele parecia ter um aperto firme. – Mas pode me chamar de Quila.

— Bruno. Sou irmão do Antônio.

O velho estendeu a mão para Victoria, pitando o cigarro de palha e lançando uma fumaça branca e fedorenta no ar.

— Ele me avisou que viriam. Deve voltar logo. – Victória pôde sentir os calos na palma da mão enrugada. – Enquanto isso, podem entrar. Tem um cafezinho passado na garrafa. Podem se servir.

Uma velha senhora gorducha apareceu sobre o umbral da porta. Ela secava as mãos com um pano de louças.

— Boa tarde. Achei que chegariam mais cedo. Eu sou a dona Rute. – Ela sorria. – Tem um pão fresquinho que saiu do forno agora há pouco. Por que não entram? Descansem um pouco. Logo os meninos devem chegar para ajudarem a descarregar as malas.

Bruno avançou em direção à senhora, que o cumprimentou.

— Você deve ser o Bruno, certo? – Ela olhou de Bruno para Victoria. – Então você é a Victoria. Achei seu nome tão lindo quando seu tio me contou.

Ela beijou o rosto de Victoria de uma maneira quase maternal.

Sara saiu do carro e veio de maneira um tanto barulhenta, produzindo um vídeo de si mesma enquanto caminhava até a varanda sem cumprimentar as pessoas.

— Esta é minha namorada, Sara. – Bruno tampou o canto da boca. – Ela adora postar essas coisas na internet.

A madrasta erguia o indicador e o dedo médio, em um sinal de "paz e amor" e sorria para a câmera do celular, falando qualquer coisa em uma vozinha estridente e infantil, fazendo com que, tanto Victoria quanto Bruno, ficassem obviamente envergonhados diante do velho casal.

Movida por uma enorme quantidade de vergonha alheia, Victoria se dirigiu para dentro da casa, sendo guiada pela dona Rute e acompanhada pelo pai e por Seu Aderbal.

A casa era modesta. A mesa estava repleta de preparos que eram, obviamente, realizados artesanalmente. Linguiça, queijo e geleias de vários tipos, além de pães, rosca de polvilho e biscoitinhos de toda sorte, povoavam a mesa retangular, coberta por uma toalha quadriculada em verde e branco.

Todos os sabores exageradamente caseiros eram uma novidade no paladar da garota, que ainda decidia do que gostava e do que precisaria provar mais vezes para fazer uma avaliação precisa.

— Uma pena estar chovendo. – Rute despejava um pouco de leite em uma xícara, segurando a nata que se havia se formado na superfície com uma colher. – Matheus estava doido para te mostrar o lugar.

A mesa ficava de frente para uma grande janela para a qual Victoria havia sentado de costas. Ela sentiu o estômago se embrulhar, ansioso. "Pelo menos ele não me esqueceu" pensou, escondendo o sorriso enquanto sorvia um gole de café com leite.

— Eu ouvi o meu nome? – A voz havia vindo da porta, aonde um rapaz alto descalçava um par de galochas enlameadas.

Victoria sentiu seu rosto se aquecer. Seu primohavia crescido muito.

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora