O arrastar barulhento da porta indicou a chegada do irmão. O pai havia pegado no sono após outra de suas crises de tosse e, depois de ouvi-lo ressonar, tranquilizado pelo remédio que aliviava-lhe a dor, Sara pôde finalmente se concentrar em fazer a tarefa de casa, sentada em uma velha poltrona no canto do quarto. Já passava muito da meia-noite e quando Henrique passou pelo corredor, a garota depositou seu caderno sobre o aparador de cabeceira e foi até ele.
Seus ombros estavam curvados do cansaço e, quando Sara o cutucou nas costas para chamar sua atenção, ele se virou e sorriu, sem ânimo.
— Oi Sarinha. — cumprimentou, afagando seus cabelos. Tirando a mochila das costas, atirou-a a um canto do seu quarto. — Como ele está?
Sara esperou que ele se sentasse na cama e se sentou ao lado dele. Levou a mão ao seu rosto e limpou uma mancha de trigo que tinha na bochecha.
— Te puseram na cozinha de novo? — Ela perguntou, sentindo pena do irmão, que parecia ainda mais cansado do que nos outros dias.
Ele suspirou fundo e se atirou para trás, levou o antebraço até a testa e encarou o teto por muito tempo.
— O pizzaiolo ficou doente, não tinha ninguém para cobrir.
Sara podia perceber que aquilo não era tudo que o incomodava. Estava absorto demais, perdido em pensamentos que pareciam vagar de um lado a outro, sem que pudesse acompanhar. Ela ajoelhou-se ao lado da cama e descalçou-o dos seus sapatos. Estavam encardidos de trigo e ela sabia que se os deixasse da maneira que estavam, no outro dia, estariam infestados de formigas.
— Vou lavar os seus sapatos. — Ela encarou os olhos amendoados do irmão.
— Pode deixar que eu faço isso, Sarinha. — Ele esticou a mão para chamá-la, mas ela já tinha se desembestado pela casa.
Sara foi até a lavanderia e abriu a torneira, despejando água em uma bacia. Molhou nela uma escova de cerdas muito desgastadas e se pôs a esfregar o sapato por cima e por baixo. Se de alguma maneira poderia ajudar, daria o máximo de si.
Depois de apoiar os sapatos na vertical para que secassem, voltou até a porta de entrada, pegou um par de pantufas grandes e voltou até o quarto do irmão. Percebendo seu peito subir e descer devagar, deduziu que ele tinha pegado no sono e ficou indecisa se o acordava ou não.
Deitou-se ao lado dele devagar para que não acordasse e observou a maneira serena como dormia. Era um rapaz bonito e de traços suaves. O corpo era magro, mas a postura era bela e altiva. Os cabelos lisos e finos caíam sedosos pelos lados do rosto, pretos como os dela mesma. Tinha um pequeno sinal do lado esquerdo da boca e, de alguma maneira, Sara o achava mais atraente por causa daquele detalhe.
Ela levou a mão a uma mecha que cobria seus olhos e, com o dedo, atirou-a para trás da orelha. Seu toque foi suave e inseguro. Sabia que ele precisava se banhar, mas acordá-lo naquele momento seria uma crueldade.
Decidiu que o deixaria cochilar por mais alguns momentos e foi até a cozinha. Preparou-o alguns bolinhos de arroz japonês e temperou-os com o restante do furikake¹ que havia no pote, como sabia que ele gostava, moldou-os, então, em forma de triângulos e selou-os na frigideira. Depois, despejou um fio de molho de soja em uma pequena vasilha que dispôs ao lado de uma pequenina bolinha de pasta de raiz forte e montou tudo com todo o esmero que lhe cabia sobre um prato. Lamentou apenas não ter um pedaço de alga desidratada para a decoração.
Passo após passo, devagar, ela caminhou cautelosamente através da cozinha. Não queria correr o risco de derramar o shoyu² e sujar a cerâmica branca, o que estragaria a apresentação. Quando chegou novamente na porta do quarto, olhou ao redor, procurando um lugar onde deixar o prato e viu a escrivaninha que o irmão usava para estudar. Apoiou-o ali com cuidado para não fazer barulho e seguiu até Henrique, que ainda dormia, mas agora, virado de lado e encolhido. Subiu na cama de gatinhas e se deitou, de frente para ele.
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O fruto proibido ( Erótico )
Romance🔥🔞🔥 Essa história possui cenas eróticas detalhadamente descritas e não é recomendado a menores de 18 anos. A fruta mais doce geralmente se encontra no galho mais alto. O que é proibido é mais gostoso, mais especial. E é infinitamente mais difícil...