Repassando o plano

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— E como está o seu irmão? — perguntou Antônio, depois de engolir um naco de carne que havia arrancado de uma das ripas da costela de porco que a dona Rute havia assado. — Já se recuperou bem?

Por conta dos dois comensais a mais, o almoço tinha sido servido na mesa da varanda, que era maior do que a que ficava na cozinha.

— O Jonathan já está bem. Já voltou a trabalhar faz algum tempo. — Miguel sorriu para o vizinho. — Sei que meu pai já deve ter agradecido muito ao senhor e ao Matheus, mas, novamente, obrigado por terem nos ajudado com as coisas por aqui. Seria impossível nós dois sozinhos darmos conta de tudo bem naquela época.

— Já disse que não foi nada. Vocês também já fizeram bastante pela gente. Foi um susto enorme quando aconteceu.

Miguel anuiu e ergueu o copo de suco, em um brinde silencioso.

— Sua mãe deve estar babando na neta, não é?

— Se ela pudesse, a roubaria e traria para cá. — Gabriel riu, entusiasmado.

Antônio sorriu e balançou a cabeça.

— Foi um descuido do seu irmão, também, não é? — soou como um julgamento. — Digo... além da história toda, ainda fazer um filho.

Miguel deu de ombros e Gabriel baixou a cabeça, levando uma garfada à boca.

— Pelo que ela contou, estava tomando anticoncepcional, mas ainda assim... — Miguel deixou a conclusão no ar.

Victoria captou o olhar de Matheus através da visão periférica e o chutou por baixo da mesa. Sabia o que ele estava pensando e decidiu repreendê-lo silenciosamente para que parasse de dar bandeira. Ela percebeu os meneios de reprovação de seu Quila e dona Rute e, por um momento, se perguntou de que se tratava o tal assunto.

— E como ele está lidando com a situação? — Antônio questionou. — No mínimo, deve estar desesperado, não é?

— Para falar a verdade, eu nunca o vi tão feliz. O Jonathan é um velho de sessenta num corpo de vinte e um, então eu não acho que ele tivesse grandes pretensões para uma vida boêmia de solteiro. — Explicou Miguel, baixando o garfo. — Além do mais, a Eva é ótima. Os dois se dão muito bem. A meu ver, acho que ele faria tudo de novo.

Antônio anuiu, deu uma risadinha e tomou um gole da cerveja que ele e Bruno haviam trazido consigo.

— É que ele sempre foi muito quieto. Quando o Diego me contou dos rumores, eu duvidei. Só acreditei quando seu pai me contou que seria avô.

— Uma pouca vergonha, isso que é! — dona Rute comentou sem erguer a cabeça.

— Mas quem somos nós para julgar, dona Rute? — Antônio torceu a boca. Cada comentário sobre o assunto despertava mais a curiosidade de Victoria. — Ele e ela são adultos, eles que se resolvam.

A idosa baixou a cabeça e voltou a comer, ressentida por não ser apoiada em sua crítica. Um breve silêncio se abateu, parecendo tornar o raspar dos talheres sobre o vidro dos pratos mais barulhento.

— Eu espero não ser avô tão cedo. — Bruno quebrou o silêncio, dispensando um olhar significativo para a filha. — Sou muito jovem ainda.

Victoria sentiu o rosto se aquecer, envergonhada. Sentiu o olhar de todos na mesa se pousarem sobre ela por um momento e desejou não estar ali. Seu coração disparou e ela temeu que o assunto se prolongasse. Não havia parado para pensar no momento em que fosse precisar mentir para o pai, mas, aquele momento certamente chegaria.

— A Raquel é uma fofura. — Gabriel ignorou o comentário de Bruno de propósito, como se tivesse percebido o constrangimento de Victoria. — Minha mãe e meu pai babam nela como se fosse o bebê mais bonito do mundo. Até mesmo a Ester parece estar sempre ansiosa para ir ver a sobrinha. O problema nisso tudo é que, o Jonathan estando lá, ele não está aqui, então sobra mais trabalho para nós dois.

— Quando precisarem de algo, podem nos chamar. Sabem disso.

— Sabemos sim. Muito obrigado, seu Antônio. — Miguel sorriu com o canto da boca.

Victoria continuou tensa por algum tempo. Temia o que o pai viria a pensar se um dia descobrisse o que vinha fazendo com Matheus e seu comentário pareceu tornar aquilo uma realidade terrivelmente próxima. Terminou seu almoço sem dizer nenhuma palavra, pensando se Sara contaria algo a Bruno e aquela possibilidade a fez se arrepiar. Olhou de relance para a madrasta e seus olhos se captaram rapidamente. Sara desviou o olhar, voltando a comer, tão desconfortável quanto ela mesma.

Foi um almoço incômodo e repleto de pausas silenciosas, onde a tensão geralmente se fazia presente. Victoria sentiu-se agradecida quando os últimos talheres foram repousados sobre o último prato a ser esvaziado.

*

— Certo, vamos repassar o plano, passo a passo. — Matheus tinha uma vareta na mão com a qual rabiscava na areia, próximo à porteira da propriedade, longe dos adultos.

— Tá bom. — Victoria suspirou. — Mas não é tão complicado assim.

— Só para garantir. Vi, nós dois vamos ficar de olho no Diego e na Sara. Especialmente na Sara. — ele desenhou dois bonequinhos de palito. — Quando ela se esgueirar, achando que não está sendo observada, esperamos ela posicionar o celular em algum lugar escondido, como ela fez quando a pegamos no estábulo...

— Certo. — Victoria e os gêmeos falaram em uníssono.

— Vamos ter que esperar o momento certo. Quando ela esconder o celular em algum lugar de onde possamos pegá-lo sem sermos vistos. Certo?

— Certo.

— O Miguel falou que um código de segurança vai ser enviado por SMS para o celular da Sara assim que ele tentar acessar a conta dela do celular dele, certo?

— Certo. — Miguel confirmou. — Esse código tem validade de dois minutos, então isso tem que ser rápido.

— Então vocês vão ficar de prontidão, esperando com o celular na mão, sem tirar o olho da tela. — Miguel continuou, rabiscando a areia com desenhos que não representavam nada em particular. — Quando nós dermos o "OK", significa que estaremos prontos, com o celular da Sara na mão, prontos para desbloquear o celular da sua madrasta e checar o SMS, certo?

— Certo. — Responderam os outros três, novamente em uníssono.

— Então, quando o SMS chegar, enviaremos o tal código para Miguel para que ele possa fazer o acesso.

— Não se esqueça de excluir o SMS com o código do celular da Sara. — Gabriel pontuou.

— Depois disso, posicionamos o celular da mesma maneira que o encontramos, pronto para gravar a Sara e o Diego em seja lá o que eles pretendem fazer. — Matheus continuou.

— Não podemos nos esquecer de verificar se o celular já estava gravando antes que a gente o tenha pego. Caso isso aconteça, temos que excluir o vídeo da galeria e iniciar um vídeo novo. — Victoria se lembrou.

— Bem lembrado, Vi. Tomando cuidado para que não apareçamos na filmagem. Isso estragaria tudo. — Matheus meneou a cabeça para a prima.

— Quando tiver acesso ao aplicativo, faço print de tudo o que encontrar lá e, logo depois, saio da conta, como se nada tivesse acontecido.

Os quatro se entreolharam, entusiasmados.

— Tem tudo para dar certo. — Miguel comentou.

— Vai dar! Só temos que esperar o momento e local certo.

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora