Canela

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- Quer dar uma volta? - Matheus perguntou, enquanto posicionava proteções de tecido sobre o lombo da égua.

Victoria notou o receio e a distância que ele mantinha, se afastando sutilmente quando ela se aproximava.

Não havia sabido lidar com a avalanche de sentimentos antípodas que a haviam atingido durante a noite e, até vê-lo entrando no estábulo, de longe, não sabia se devia ou não se aproximar. Teve medo de que o primo pudesse estar sentindo raiva por ela tê-lo expulsado de maneira tão grosseira de sua cama sem lhe dar nenhuma explicação. Queria pedir desculpas, mas, temeu que aquilo pudesse trazer à superfície todo o desejo que havia sentido no dia anterior, então, tinha decidido por apenas tentar esquecer e ignorar o que havia acontecido.

- É claro. - Ela respondeu, entusiasmada.

Matheus olhou para ela, sorrindo, vitorioso, antes de responder.

- Eu estava perguntando para a Canela. - Ele a parafraseou, arremedando sua voz e seu sotaque.

Ela o encarou, incrédula por um momento e, então, deixou a boca se abrir em uma risadinha.

- Bocó. - Ela deu um soquinho no braço do primo enquanto ele posicionava e afivelava a sela.

A brincadeirinha a deixou mais tranquila e confiante. A última coisa que queria era ter uma desavença com o primo, de quem havia sentido tantas saudades.

- Não está com raiva de mim? - Ela perguntou, arrancando de Matheus um olhar repleto de dúvidas e confusão.

Ele mudou o semblante, meneando a cabeça como se aquela pergunta o confundisse e a resposta fosse óbvia.

- Eu achei que você tivesse ficado com raiva, doida. - Ele frisou a palavra "você".

Ela suspirou, ponderando se deveria ou não trazer à tona o que havia sentido durante a noite para que pudesse lhe explicar.

- Eu não fiquei com raiva. Só não quero estragar isso. - Ela usou o indicador para representar o sentimento que havia entre os dois. - Não depois te tanto tempo. Por isso acho que é melhor esquecer o que aconteceu e não deixar mais que aconteça.

- Hm. - Matheus murmurou, dando a entender que a explicação tinha sido suficiente.

Ele posicionou as rédeas, tomando cuidado para não ferir a égua e, depois, puxou o animal pela corda para fora da baia.

Ele estendeu a mão para Victoria e, quando ela o sentiu segurar seus dedos, foi atingida violentamente pela lembrança do momento em que ela havia guiado a mão de Matheus até seu seio.

- Ponha uma mão aqui. - Ele explicou, guiando a mão de Victoria até a cabeça da sela.

Ela o ouviu sorver o aroma do seu cabelo, se posicionando atrás dela e, segurando em sua outra mão, a guiou até a parte de trás do assento.

- A outra mão vai aqui. - Ele se aproximou, perigosamente, por trás dela, envolvendo o pequeno corpo no seu.

Victoria sentiu o peitoral de Matheus tocar suas costas e precisou resistir ao impulso de atirar o quadril para trás. Seu corpo se aqueceu de maneira instantânea e ela, silenciosamente, torceu para que aquele momento demorasse a se passar. Novamente se sentiu estranhamente protegida enquanto o primo segurava suas duas mãos e a cercava com os braços.

- Matheus. - Ela sussurrou em uma voz trêmula.

Ele pareceu não a ouvir enquanto inspirava o perfume de seus cabelos e, discreta e inadvertidamente, acariciava suas mãos sobre a posição que as havia colocado.

- Matheus. - Ela repetiu, suspirando, ela mesma.

- Hm? - Ele murmurou em seu ouvido, fazendo com que os pelos de sua nuca se arrepiassem. - Oi.

- O que eu faço agora? - Ouviu sua voz sair embargada, desejando reviver os acontecimentos da noite anterior.

Arrancado de seu devaneio, Matheus se afastou, parecendo estranhamente desconcertado.

- Seu pé esquerdo vai aqui. - Ele apontou para o estribo.

- Assim? - Ela se posicionou, sentindo o jeans apertar quando ergueu sua perna.

- Isso. - Ele respondeu. - Agora, dá um impulso para cima e passa sua outra perna para o outro lado.

Victoria fez como explicado e, quando já estava montada, olhou o primo de cima. Passeando o olhar pelo corpo dele, pôde perceber a saliência que se avolumava em sua calça.

Ele a encarou longamente, como se analisasse o conjunto que ela formava, montada sobre Canela.

- Deixa eu regular isso. - Ele levou a mão até os ajustes do estribo, posicionando-o à altura ideal para suas pernas e depois repetiu do outro lado.

Victoria gostava da maneira gentil e cuidadosa como ele a tratava, o que tornava ainda mais difícil não o desejar. "Eu só preciso esticar a mão e alcança-lo" pensou.

Matheus guiou Canela pela corda para fora do estábulo e, apesar de receosa, à princípio, Victoria parecia entusiasmada.

O sol dava uma cor diferente a todo o cenário. As duas cadelas que, no dia anterior, haviam acompanhado o carro quando eles haviam chegado de viagem, naquele momento, serviam de escolta à Canela e sua amazona, que eram guiadas por Matheus. O pastor belga, o maior dos três cães, seguia a passos lentos, de longe, como se pouco se importasse com aquilo e os acompanhasse à contragosto, preferindo permanecer próximo à casa para protegê-la.

- Onde vai me levar? - Victoria perguntou, curiosa, enquanto eles atravessavam uma porteira que dava para a enorme pastagem verde.

O primo apontou o dedo adiante.

- Tem uma lagoa grande lá. Quero te mostrar. Temos um pedalinho e varas de pesca.

Victoria sorriu e se sentiu grata pelo sol que aquecia a pele de seu rosto. Havia, ainda, algumas poças de lama remanescentes do dia anterior, mas, no geral, a cavalgada estava agradável e tranquila.

- Posso ir um pouco mais rápido? - Ela perguntou, sentindo o entusiasmo ocupar o lugar aonde antes havia um resquício de receio.

Matheus ponderou um pouco e torceu a boca.

- Ainda é meio cedo para guiar sozinha. - Era encantadora a maneira como se preocupava.

Victoria fez um muxoxo, mas, uma ideia surgiu em sua cabeça, fazendo seu estômago gelar de ansiedade.

- Então guia você. - Sentiu-se, por um momento, ousada demais e sabia que estava, novamente, se deixando levar pelo desejo que sentia pela proximidade com Matheus.

- E você vai de pé? Vai sujar seu tênis.

Victoria revirou os olhos.

- Não, bocó. - Ela riu, sentindo os batimentos se acelerarem. - Vem atrás de mim.

Matheus a encarou, como se buscasse, naquela proposta, uma pegadinha ou algo assim.

- Tem certeza?

Ela anuiu, chegando para a frente na sela e apontando para trás com a cabeça.

- Então, está bem.

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora