Ela se revirou repentinamente, assustada com o som dos passos rápidos que cruzaram o corredor. Já era madrugada e, como Henrique ainda não tinha chegado do trabalho, a preocupação não a permitira pregar os olhos, afinal, a conversa estranha que tinha escutado mais cedo entre o irmão e o amigo martelava em seu jovem coração, sombria e ameaçadora, deixando-a ainda mais apreensiva.
A porta do quarto de Henrique se fechou logo em seguida e ela se ergueu de sua cama para checar.
Sara esticou a mão em direção à maçaneta e ia bater quando ouviu um soluçar choroso. Ele tinha deixado dito que chegaria mais tarde naquela noite, mas o aviso não fora suficiente para aplacar a preocupação, e ouvi-lo chorando daquela maneira fez com que seu estômago desse voltas.
— Ique? — Ela empurrou a porta, devagar. Sua voz saiu em um sussurro cauteloso. — Está tudo bem?
Sara caminhou a passos lentos, temendo o que veria. Henrique estava sentado aos pés da cama, e abraçava os próprios joelhos. A mochila havia sido atirada de maneira displicente a um canto. Seu corpo convulsionava a cada suspiro e ela hesitou antes de se aproximar mais.
— Ique? — Ao perceber que ele não a repelia, Sara se agachou de frente para ele, levando a mão aos seus cabelos. — Mano, o que foi? Olha para mim.
O garoto soluçava, sem erguer a cabeça para olhá-la. Sara se sentou ao seu lado e envolveu seus ombros em um abraço. Não queria pressioná-lo a contar o que quer que o tivesse feito chorar daquele jeito, mas como nunca tinha presenciado uma situação como aquela, sentia-se curiosa e preocupada.
Ele sussurrava algo ininteligível e Sara aproximou o ouvido para tentar escutar.
— O que eu fiz? O que eu fiz? O que eu fiz? — Ele repetia, baixinho.
Por algum motivo, Sara sentiu vontade de chorar junto dele. Compadecia-se ainda mais por nunca tê-lo visto daquele jeito. Mesmo diante das maiores provações, o irmão sempre lhe parecera um bastião inabalável e duro, imune às intempéries da vida. A pessoa a quem recorria quando precisava de conselhos.
— Calma, calma. — O puxou contra si com mais força, envolvendo-o com ambos os braços.
Henrique aninhou a cabeça sobre o ombro da irmã. Seu rosto estava tão banhado em lágrimas que Sara pôde sentir a umidade molhar-lhe a pele. Ele a apertou contra si e permitiu-se chorar de maneira ainda mais sofrida.
Sara afagou sua nuca. O coração dele batia, acelerado, o que fazia com que os instintos de Sara lhe gritassem que havia algo de muito errado acontecendo.
Naquela noite, Henrique chorou até que a exaustão o guiasse para o sono, deitado sobre o colo da irmã. Exceto pelas auto acusações que tinha feito, nada lhe contou. Sara, por respeito e insegurança, evitou lhe fazer perguntas, mantendo-se em silêncio e o acalentando como podia.
Pelo par de dias seguintes, ela tentou abordar o assunto algumas vezes, mas com um sorriso forçado, o irmão se esquivava, tentando tranquilizá-la.
Era impossível para ela não perceber o nervosismo constante, a apreensão, os olhares desconfiados em direção à janela e por sobre os ombros. Ele sentia medo. Não apenas um medo qualquer, mas um pavor que suplantava completamente sua personalidade, como se a qualquer momento, alguém fosse bater à porta exigindo-lhe um pesado tributo. Para alguém que antes era tão focado e responsável, Henrique não vinha sendo capaz sequer de entender o que lhe falavam, obrigando a todos que tinham com ele a repetirem suas frases para que se fizessem entender.
Em uma noite daquela semana, uma brisa fresca soprava através das janelas enquanto ela e o pai jantavam, sentados à mesa da cozinha. Apesar de ainda ter o rosto descarnado, Mauro havia mostrado uma melhora significativa após a troca do medicamento. A palidez de sua pele tinha sido substituída por uma tonalidade corada e seus olhos, antes opacos, brilhavam com uma energia renovada. Ele passou a caminhar com mais firmeza e as atividades corriqueiras, como subir e descer os degraus da escadinha que dava para o pátio da casa, deixaram de ser um desafio. O câncer havia realmente mostrado uma regressão considerável e o ânimo e a esperança voltavam a permear o clima dentro de casa. A mudança repentina em Henrique, no entanto, pairava sobre eles como uma sombra agourenta.
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O fruto proibido ( Erótico )
Romance🔥🔞🔥 Essa história possui cenas eróticas detalhadamente descritas e não é recomendado a menores de 18 anos. A fruta mais doce geralmente se encontra no galho mais alto. O que é proibido é mais gostoso, mais especial. E é infinitamente mais difícil...