Bon Jour

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A estrada que passava pela frente da propriedade deles e dos Valente era esburacada e sinuosa. A poeira vermelha se ergueu alto quando uma picape passou por eles, buzinando em cumprimento. Matheus ergueu a mão, em resposta à saudação. Ele e a prima caminhavam lado a lado, conversando sobre banalidades.

— Tente não ligar para tudo o que o Gabriel diz. — Matheus aconselhou quando falavam sobre os gêmeos. — Ele fica bobo na frente de garotas bonitas... — ele suspirou, pensando se deveria falar o que estava pensando. — ... às vezes, de garotos bonitos também. Então, é só ignorar.

A garota o olhou, desconfiada. Victoria ergueu uma sobrancelha e torceu o canto da boca num risinho.

— Parece estar falando isso mais para si mesmo do que para mim. — ela riu.

Matheus a encarou e, então, deu de ombros.

— Ué, só estou avisando para que você não se sinta desconfortável de novo.

— Mas desta vez, não tem nada a ver com daquela vez. É claro que eu ficaria desconfortável naquela ocasião. Eu estava nua quando conheci ele. — Matheus notou uma breve mudança de tom na voz da prima. — Além do quê, foi você quem ficou todo enciumadinho.

— E quem disse que eu estava enciumado? — ele torceu a boca.

— Você não estava? — Victoria perguntou, desafiadora. — Não sentiria nem um pouquinho de ciúmes se um deles pedisse para me beijar?

Ele sentiu seu coração querer saltar pela garganta, mas, em vez de admitir, decidiu permanecer em silêncio, espantando a pergunta com um meneio de cabeça.

A árvore que marcava a entrada das terras dos Valente já lançava sombras sobre eles quando a tensão causada pela pergunta absurda e repentina de Victoria pareceu se dissipar.

O rapaz sorria a cada vez que ela se entusiasmava com algo que, para ele, já havia, há muito, se tornado corriqueiro, então, parou a observá-la ao se aproximar da enorme figueira.

A velha anciã, majestosa e imponente, facilmente dominava a paisagem à entrada da fazenda vizinha. Seu tronco era largo e rugoso, com a casca de tom marrom escuro lascada em vários pontos onde muitos já haviam gravado suas iniciais, e coberta de musgos e líquens que se haviam acumulado ao longo dos anos e lhe davam uma textura áspera e irregular. Seus galhos tortuosos se estendiam para o céu, formando uma copa densa e frondosa, cuja qual lançava uma enorme sombra sob a qual Matheus costumava brincar quando mais novo. Lírios e samambaias completavam a paisagem sob e sobre as tábuas grossas que formavam a cerca da frente da propriedade e um florido telhadinho redondo era tomado por ipomeias de lindos botões purpúreos.

— Caramba! Isso aqui é lindo demais. — a garota suspirou, olhando para cima. — Que capricho!

Matheus abriu a porteira e fez sinal para que Victoria passasse, depois, fechou-a atrás de si.

Os primeiros metros da estrada de barro que levava ao interior da propriedade, eram ladeados por coqueiros altos e envergados. Entre eles, pés de azaleias brancas, rosadas e vermelhas desabrochavam, abundantes e coloridas. Pétalas dessas três cores salpicavam o gramado verde, onde mais adiante, duas goiabeiras lançavam galhos tortos que mais lembravam mãos, com dedos longos e descarnados. Uma jabuticabeira alta mais adiante, já mostrava suas jovens florzinhas brancas e espetadas, que traziam presságios de frutas doces e polpudas.

Um quero-quero carrancudo os encarou de longe, lançando uma série de gritos agudos, como se os alertasse que aquele era o limite do que poderiam se aproximar.

Victoria sorriu, estupefata, quando cruzava um pequeno e límpido córrego por sobre uma velha pontezinha de madeira que já mostrava sinais de desgaste pelo tempo. A gata gorda e manhosa que dormia sobre o guarda-corpo miou e ronronou quando a garota lhe fez um afago, mas não fez muito mais do que isso para lhes desejar boas-vindas, voltando a deitar a cabeça para dormir assim que haviam passado.

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora