Receios

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— Então... do que eles estavam falando à mesa? — Victoria estava sentada em um banco de madeira à sombra de um pé de tangerinas. Ela descascava uma das frutas, observando o seu Quila enrolar seu palheiro na cadeira de balanço, lá adiante. — Jonathan é seu irmão, não é?

Sentado ao seu lado, Miguel apreciava o sabor cítrico e doce de uma das frutas, enquanto Gabriel ressonava. Parecia de fato cansado, recostado a um toco, sem se importar com o brilho do sol que lhe lambia o rosto, passando por entre as folhas que farfalhavam à brisa fria de inverno, contrastando com aquele lindo dia ensolarado.

— É sim. — Miguel se reclinou para a frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. — Bom... o Jonathan foi baleado no ano passado. Tomou um tiro bem no meio do peito. — Ele apontou o local em si mesmo.

Victoria arregalou os olhos, prendendo a respiração.

— Ficou em coma por mais de um mês no hospital. Teve sorte de não ficar com nenhuma sequela. É o tipo de coisa que desestrutura tudo na família inteira. — Sua atenção foi desviada para Matheus que vinha caminhando pela estradinha que dava para a casa.

— Nossa! Eu só imagino. Ele está bem agora? — Victoria perguntou. Seu rosto transparecia uma inocência tão pueril naquele momento que, não tivesse presenciado a cena entre ela e o primo no manancial, Miguel seria capaz de duvidar do relato do irmão.

— Está sim. Se casou faz pouco tempo, agora é pai. Nunca esteve tão feliz.

— A dona Rute parece ter uma opinião sobre isso, não é? — Miguel suspirou.

Jonathan estar no hospital à época havia mascarado completamente o escândalo que poderia ter sido seu romance com a esposa de seu primo. Talvez, aquilo tivesse amenizado as opiniões que os familiares teriam tido se a história tivesse se dado de maneira diferente.

— Meu irmão estava tendo um caso com uma mulher casada. — Ele torceu a boca.

— Oh!. — Victoria levou a mão à boca. — Traição é uma droga. Foi o marido dela que atirou?

Miguel a olhou com estranhamento, franzindo as sobrancelhas. A garota mordeu um dos gomos de tangerina, cuspindo as sementes no chão, mais adiante.

— O que? O Eric? — Ele amainou a expressão quando entendeu que aquela seria uma conclusão óbvia. — Não, não. O Eric não machucaria ninguém. Ele é nosso primo.

— Sério?

— Uhum. — Ele anuiu. — O Jonathan estava se hospedando na casa deles e acabou acontecendo. Quem atirou foi o sogro do padrinho da filha dele. Longa história.

Victoria franziu os olhos, relacionando os fatos e, então, anuiu. Permaneceu em silêncio por algum tempo, olhando na direção do primo que havia parado para brincar com Giza, que abanava o seu rabo freneticamente pedindo por atenção e depois, suspirou.

— O coração quer o que ele quer, não é? — comentou de maneira vaga.

Miguel permaneceu em silêncio, ponderando se sua curiosidade era volumosa o suficiente para torná-lo invasivo.

— Você e seu primo... — Finalmente perguntou. — Vocês... digo, ele sim, mas você...

Victoria o encarou, torcendo a boca e traduzindo o olhar em uma incógnita.

— Eu não sei... — Ela suspirou, respondendo como se a dúvida dele já estivesse na sua cabeça. — Eu o amo muito. Disso eu não tenho a menor dúvida...

— Hm.

— E meu corpo pede pelo dele o tempo inteiro. — Ela parecia cautelosa com as palavras, como se escolher as erradas pudesse quebrar um objeto delicado. — Mas não sei se isso é paixão, sabe? Não sei se é o amor que duas pessoas apaixonadas sentem uma pela outra. É confuso. Parece certo, mas ao mesmo tempo, tão errado. O que você acha?

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora