Algo além

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Victoria sentia o olhar de Matheus sobre ela. Aprendera a abraçar aquela sensação, que era aconchegante e calorosa. Ela escovava seus cabelos, nua, em frente ao espelho embaçado, o qual havia tentado secar com uma passada da mão, mas que voltara a se embaçar quase que instantaneamente.

Um pequeno fio de sangue havia escorrido por sua perna alguns momentos antes e ela estava estranhamente aliviada por não ter sido atingida pelo sentimento de culpa que havia sentido na noite anterior.

— Vi. Foi bom mesmo para você? – Matheus perguntou, inseguro.

Ela suspirou e o olhou, rindo.

— Matheus. – Ela se virou de frente para ele, falando baixo, com medo que alguém pudesse chegar e ouvi-los. – Eu já te falei que foi incrível, garoto.

Se aproximou, encarando-o de baixo por conta da diferença entre as alturas e levou a mão até o seu sexo que pendulava, flácido, entre as pernas.

— Eu nunca imaginei que seria tão bom. – Ela se ergueu na ponta dos pés e depositou um beijinho em seus lábios, o que fez com que o pênis em sua mão pulsasse, repentinamente. – Eu amo você, conheço você e confio em você. – Recitou, lembrando-se das palavras da mãe. Ela puxou o rosto de Matheus para que a boca se aproximasse de seu ouvido. – Além de você ser um gostoso... acho que eu te desejei dentro de mim logo que te vi entrando pela porta, ontem.

Ela sentiu o membro em sua mão ganhar volume e o largou, ainda que desejasse repetir o que havia acabado de fazer, momentos antes.

Foi, então, até o rolo de papel, puxou um chumaço e limpou sua coxa, mostrando a mancha vermelha para Matheus e sorrindo.

— Vê? Como disse. Sou sua, agora. – Ele sorriu, orgulhoso. – Vai ter que me pedir em casamento para o meu pai.

Matheus arregalou os olhos, deixando o sorriso morrer, rapidamente.

— Vi... Eu... Casamento? – As palavras tropeçaram umas nas outras, incoerentes. – Quando? Como? O que? Por que?

Ela riu, balançando a cabeça.

— É brincadeira, seu bocó. – Uma breve risada deixou sua garganta enquanto o rosto de Matheus se forçava à normalidade.

Ele sorriu, aliviado, mas, claramente aflito.

— Você precisava ver a sua cara. – Ela levou a mão as suas roupas e se pôs a vesti-las enquanto Matheus a censurava. – Não pode levar tudo tão à sério.

Ele meneou a cabeça, começando, também, a se vestir.

— É que... é que não sei o que pensar. – Ela achou particularmente charmosa a maneira como ele vestiu a cueca boxer. – Digo, não somos namorados, é óbvio. Não estamos ficando, também. Ao menos, não oficialmente. E, tecnicamente, não podemos ter sentimentos um pelo outro. O que acha que nós somos?

Ela deu de ombros, terminando de vestir sua roupa e enrolando a toalha nos cabelos.

— Somos algo além, ué. – Ela falou, como se fosse óbvio. – Talvez a gente não deva dar nomes a isso. Só deixar acontecer até que eu volte para o Rio.

— Hm. – Ele murmurou. Um breve tremor em sua boca dizia que Matheus não havia gostado daquela última parte. – Algo além...

Ela havia fingido estar segura do que havia dito, mas, ela mesma se encontrava confusa sobre os sentimentos intensos que nutria por seu primo. Alguém que, para ela, era tão próximo quanto um irmão deveria ser. "Algo além" era a maneira como havia descrito um sentimento que era incapaz de mensurar. Era incapaz até mesmo de imaginar. Disfarçava bem, mas, sentia-se, ela mesma, tão ansiosa quanto Matheus demonstrava se sentir.

Ela se moveu rápido em direção a ele, se atirando em um abraço caloroso e apertado.

— Eu serei sua e você será meu pelo resto das minhas férias. Depois, eu vou voltar para o Rio e a gente vai lidar com a saudade da mesma maneira que a gente tem feito por onze anos. – Ela falou com o rosto pousado em seu peito. – Vamos aproveitar tanto quanto pudermos, Teteu.

Ele riu, saudoso.

Quando ele terminou de se vestir, ela girou a chave na fechadura.

Teve a impressão de ouvir passinhos apressados pelo corredor e decidiu esperar até que se afastassem, para depois abrir, nervosa, para espiar.

Olhou para o fim do corredor a tempo para ver um bichano de pelagem preta e branca passando pela porta do corredor em direção à cozinha.

— Não se preocupe. – Matheus a tranquilizou. – Seu Quila dorme pesado depois do almoço e a dona Rute fica lá, lavando as roupas e limpando a casa dela até a hora de preparar o café da tarde.

Victoria ficou mais tranquila. Saindo pela porta em direção ao seu quarto. Matheus a seguiu, parando na porta e se recostando ao batente.

— Afinal, o que a dona Rute e o seu Quila têm a ver com vocês? – Ela perguntou, no momento em que parou para pensar sobre o velho casal.

Matheus deu de ombros.

— Eles estão aqui desde que me lembro. Eram os antigos donos da fazenda.

— Hmm. – Victoria levou a mão ao queixo, pensativa. – E agora, trabalham para o seu pai?

Ele fez que não com a cabeça.

— Na verdade, meu pai negociou a fazenda por um preço muito abaixo do de mercado. – Ele entrou no quarto e se encostou à parede de madeira. – O herdeiro, o neto e a nora deles tinham morrido havia alguns meses e eles eram velhos demais para tocar a fazenda sozinhos. Então, concordaram em vender para o meu pai, desde que pudessem passar seus últimos anos na casinha deles. Dona Rute insiste em fazer as coisas da casa, dizendo que não levamos jeito para cuidar dela. Essa é casa em que o filho morava. Acho mesmo é que ela gosta de estar aqui para se lembrar dele.

— Nossa, que história triste, Matheus. – Victoria comentou. – Como eles morreram?

— Pelo que meu pai me contou, apareceram mortos em uma trilha que dá para o topo do morro, na propriedade dos Valente, nossos vizinhos. – Ele a encarou, desafiador. – Quer ir até lá para ver?

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora