Reencontro

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Matheus bateu três vezes, mesmo a vendo sentada sobre a cama a olhar em direção à porta.

- Oi. - Ele cumprimentou, cheio de receios. - Está vestida agora? Posso entrar?

Victoria escondeu o rosto nas mãos de uma maneira adoravelmente meiga. Ela havia se tornado uma garota linda ao longo dos anos que haviam ficado separados, mas, seus trejeitos e olhares continuavam exatamente como ele guardava na memória.

- Entra. - Ela disse, baixinho. - Desculpa ter batido a porta na sua cara.

Ele riu, lembrando do semblante que ela carregava no olhar quando havia percebido que ele a observava enquanto se despia. Não que ele tivesse tido tempo suficiente para realizar uma análise minuciosa, mas, com os poucos segundos que havia tido, pudera notar que a prima era esguia e atlética e possuía uma pele marrom e aveludada. Lisa como chocolate.

- Achei que ia botar a casa no chão. - Ele ficou de pé, de frente para ela, recostado à parede de madeira

Ela riu de uma maneira contida.

- Por que estava me espiando? - Ela perguntou, em tom de censura.

Matheus arregalou os olhos, indignado.

- Espiando? Quem disse que eu estava espiando?

- Então o que estava fazendo parado na porta? - Ela inquiriu, acusadora.

Ele contraiu os ombros, erguendo as mãos em uma expressão exagerada de ultraje.

- Ah! Pronto. Agora, de certo, não posso mais passar pelo corredor. - Ele riu, esfregando a mão sobre o cabelo. - Caso não se lembre, quem decidiu se trocar com a porta aberta, foi você.

Ela sorria, debochada. O encontro inicial dos dois se havia dado de uma maneira infinitamente mais tímida do que ele havia ensaiado. Matheus não tinha a menor ideia do que deveria esperar, por conta disso, quando a viu pela primeira vez, depois de mais de dez anos, tudo o que havia conseguido juntar coragem para fazer, foi sorrir e acenar com a cabeça, fugindo do aposento logo que conseguiu. Que tipo de personalidade a prima haveria adquirido ao longo da vida? Que tipo de humor a faria rir? Que tipo de conversa a manteria interessada? Todas aquelas, eram questões que o haviam servido como bloqueio imediato, logo que a viu.

- É verdade. - Ela ria, divertida com a situação. - Por um momentinho eu esqueci que não estava em casa.

Um breve silêncio tomou o aposento enquanto eles riam, pela primeira vez, juntos após todo aquele tempo. Os olhares se encontraram, alegres e permaneceram um no outro, tomados por um intenso sentimento de saudosismo.

Matheus abriu os braços, chamando-a para um abraço.

- É tão bom te ver de novo.

Victoria se levantou e se atirou em sua direção, envolvendo, com os bracinhos, sua cintura.

O cheiro de creme que os cabelos encaracolados da prima exalavam invadiram suas narinas de rompante enquanto ele envolvia seus ombros miúdos.

- Eu senti tantas saudades. - Ela comentou, baixinho, enquanto pousava o rosto em seu peito.

Ele a apertou contra si, apreciando a temperatura morna do seu corpo e seu aroma.

Matheus se surpreendeu com a sensação gostosa que as mãos de sua prima causavam enquanto ela acariciava suas costas. A um primeiro momento, o carinho havia começado com toda a palma da mão, mas, depois de algum tempo, havia evoluído para uma carícia com apenas com as pontas dos dedos. Victoria não parecia perceber o quão excitante aquele toque poderia ser para quem o recebia. Ele se assustou com a maneira como seu corpo começava a responder àquele toque e àquela proximidade e, quando caiu em si sobre o fato de que aquele abraço já se havia prolongado por muito tempo, se afastou, tentando disfarçar o princípio de ereção que já começava a se tornar evidente por sob a calça de moletom.

O garoto tentou espantar os pensamentos que se formavam em sua mente, censurando-se por, involuntariamente, voltar a pensar na silhueta esguia que Victoria escondia por sob a blusa de lã.

Ele se virou de costas para ela, fingindo se distrair com um pequeno inseto que subia pela tábua de madeira da parede.

- Eu durmo no quarto aqui ao lado. - Comentou. - Somos vizinhos de cabeceira, então, se você roncar, eu vou ouvir.

Ela riu um riso divertido.

Matheus se perguntou o porquê de uma atitude tão singela causar nele uma vontade tão avassaladora de abraçá-la novamente. Ele sorriu de volta quando o olhar de Victoria pescou o seu no ar. Sentia seu jovem corpo queimar, assaltado por diversos pensamentos que dançavam em sua mente. Todos a envolviam.

- Você é que deve roncar, seu bocó.

Os dois riram e lançaram provocações um ao outro até que o silêncio pairou, novamente no quarto.

- Parece que amanhã vai abrir sol. - Ele comentou, quebrando o silêncio. - Quero te mostrar a fazenda. Temos uma lagoa com um pedalinho.

Matheus lhe contou, entusiasmado, sobre as tilápias que criava em um tanque, o gado e o sistema de confinamento, as plantações e outras coisas as quais queria que ela visse durante sua estadia.

Victoria pareceu entusiasmada. Grande parte do temor do garoto se havia dado por achar que ela, como uma garota da cidade, não haveria de se interessar pelo que ele tinha para mostrar. Mas, a ele, pareceu que ela aceitava de pronto todas as ideias que ele dava sobre o que deveriam fazer no dia que viria a seguir.

Por um momento, pensou que quinze dias seriam insuficientes para pôr em dia tudo aquilo que haviam perdido enquanto viviam a vida tão longe um do outro. O pensamento fez com que seu estômago se embrulhasse, ansioso e, aquilo o fez lembrar que deveria estar sentindo uma fome avassaladora, uma vez que o parto de um bezerro sob a chuva o havia drenado de suas energias.

- Eu vou comer alguma coisa, quer? - Ele convidou, desejando que ela lhe fizesse companhia.

Ela ponderou por um momento, mas meneou a cabeça em uma negativa.

- Eu já estou cheia. Comi feito uma leitoa durante o café. - Ela esfregou o olho com as costas da mão. - Eu estou exausta. Vou apenas tomar um banho e dormir.

Ele não fez muito para esconder o desapontamento, mas, anuiu com a cabeça, concordando que ela deveria ter passado grande parte do dia em viagem.

- Está mesmo precisando de um banho, sua fedorenta. - Ele brincou, guardando na memória o aroma inebriante dos cachos da prima.

- Ah! Sai fora, seu bocó. - Ela ergueu o braço, se conferindo o próprio cheiro. - Eu estou cheirosinha.

Ele se aproximou, sentindo o estômago se revirar por conta da decisão precipitada.

- Deixa eu ver, aqui. - Ele encostou o nariz no topo da cabeça de Victoria, puxando-a contra si e sorvendo sonoramente o cheiro de creme dos cachos negros. - É... Até que está sim.

Se arrependeu da falta de senso, percebendo que a prima se havia contraído, parecendo um tanto desconfortável com aquele movimento.

Matheus se dirigiu até a porta e depois se virou, recostando-se na moldura.

- Boa noite, Titóia. Até amanhã.

Ela o encarou, incrédula e depois, desatou a rir.

- Não acredito que lembra desse apelido idiota.

Ele fingiu um semblante ofendido, cobrindo a boca com a mão.

- Não é um apelido idiota. Fui eu quem te dei.

A boca dela se torceu em um sorriso debochado.

- Nesse caso, então, boa noite Teteu.

Ele deixou o quarto, em direção à cozinha. Se sentia aliviado, pois a distância não havia mudado a maneira como eles se gostavam. Ou havia?

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora