Vergonha

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O garoto tinha a pele e os olhos claros e um cabelo castanho e sedoso, que lhe caía pelos lados do rosto de maxila angulosa. Ele se havia virado de costas quando percebeu que tinha sido flagrado e, encabulado, tentava se explicar.

- O que está fazendo aqui, Miguel? - Matheus perguntou, irritado. - Veio aqui para espionar?

- É claro que não... - o garoto se virou para falar, mas, a um gritinho de Victoria, que ainda tentava, de maneira atabalhoada, vestir suas calças, voltou a olhar para o outro lado.

- Gabriel, pode sair de onde estiver! - Matheus ergueu o tom de voz.

- Nós não estávamos espiando. - Miguel continuou. - Aproveitamos que nossos pais viajaram para visitar meu irmão e viemos trazer algumas coisas.

Um segundo garoto se ergueu de trás de uma rocha, da qual, Victoria estava próxima. Ela tentou cobrir os seios com o sutiã que se preparava para vestir, mas, aquilo não impediu que os olhos da cópia, quase perfeita, do primeiro garoto, passeassem, invasivamente, pelo seu pequeno corpo. Os olhos verdes sorriram antes dos lábios ao se prenderem aos de Victoria e ela sentiu as maçãs do seu rosto corarem, abruptamente, envergonhada.

- Gabriel. - ele estendeu a mão a Victoria, esbanjando um sorriso desconcertantemente galanteador, que expunha seus dentes brancos e perfeitamente alinhados. - A seus serviços, senhorita.

A garota se encolheu, tentando esconder a pele nua, lançando a ele um olhar indignado.

- Para com isso, Gabriel. Deixa ela se vestir em paz. - o irmão ralhou.

O garoto deu de ombros, se virando de costas e largando no chão a mochila que parecia estar cheia de coisas.

- Você ainda não me disse por que estavam espionando. - Matheus exigiu, amarrando seu moletom molhado à cintura.

- Já falei que não estávamos espionando. - Miguel argumentou, apontando para uma enorme bolsa que jazia, mais adiante. - Viemos trazer as barracas, algumas bebidas, lanternas e luzes de emergência.

Matheus o encarou, desconfiado.

- E para que isso tudo?

- Para o luau, ué.

Victoria olhou, interessada. Aquele local lhe parecia realmente perfeito para uma festinha à luz de uma fogueira.

- Que luau? - Matheus questionou. - Como que eu não estou sabendo de luau nenhum?

Victoria viu Gabriel suspirar.

- Já podem se virar agora. - Ela permitiu, assim que vestiu a camiseta.

- É que, como você nunca comparece a esses programas, a gente já nem convida mais. - o garoto falou, se virando.

Ele se aproximou novamente de Victoria, e lhe estendeu a mão. Ela o cumprimentou, esperando um aperto de mão despretensioso e se surpreendendo ao ter as costas da mão beijadas enquanto o garoto a encarava em um cortejo óbvio e, até certo ponto, anacrônico demais.

Ela sentiu, novamente, seu rosto ruborizar.

- Gabriel, senhorita. - ele falou, ainda curvado adiante e com um sorriso estranhamente sedutor nos lábios. - Ao seu total dispor.

- Victoria. - ela respondeu, sem graça por toda a situação. Sabia que Miguel a tinha visto de um ângulo que a expunha completamente, mas, quanto ao segundo irmão, não tinha tanta certeza. Se perguntou, com receio, por quanto tempo eles estariam ali, escondidos.

- É minha prima. - Matheus se aproximou, interrompendo o contato entre os dois. - E não é bem verdade que nunca vou às coisas que me convidam.

Miguel seguiu até a bolsa e a ergueu do chão, trazendo-a para mais perto do lago.

- Ah, qual é, Matheus? - Perguntou enquanto estendia a mão para Victoria e a cumprimentava de uma maneira completamente diferente da do irmão. - Você não foi no nosso aniversário, no salão, quase não vai nos ferinos e foge de quase tudo que envolve mais de dez pessoas.

Gabriel olhava de Matheus para Victoria, exibindo um sorriso bobo e repleto de malícia, como se os julgasse.

- Desde quando vocês fazem luaus aqui? - Matheus questionou. - Seus pais nunca deixam vocês virem para cá sem que ele esteja junto.

- Bom... - Miguel se agachou e abriu o zíper da bolsa de lona. - ... como agora eles estão indo, quase todo final de semana, para o litoral para visitar o Jonathan, que trabalha igual doido e quase nunca pode nos visitar, estamos tomando a liberdade de experimentar e ver se dá tudo certo. O primeiro luau será hoje à noite.

- Vocês dois são primos? - Gabriel perguntou, ignorando, completamente o assunto, como se, aquilo que se passava, paralelamente, em sua cabeça, fosse infinitamente mais interessante. Pelo olhar malicioso que dispensava aos dois, era óbvio que havia presenciado parte do que haviam feito, ou, fantasiava em sua mente pervertida.

Victoria se sentia angustiadamente envergonhada. Não apenas tinha sido pega, quase que literalmente, de calças arriadas, como havia a possibilidade de eles terem presenciado o ato mais libidinoso o qual ela já havia protagonizado. Ainda por cima, com seu próprio primo, em um ato incestuoso.

Os quatro ficaram em silêncio, se encarando. Apenas Gabriel sorria, aparentando estar, deliciosamente confortável com a situação, enquanto os outros três, pareciam querer apenas esquecer o que havia acabado de acontecer.

- Dá para esquecer o que você viu e não ser tão babaca? - Matheus perguntou, revirando os olhos e puxando Victoria pela mão.

Gabriel levou a mão até a nuca. O único detalhe que parecia diferenciá-lo do irmão, era a maneira como penteava o cabelo.

- Desculpa, cara, mas eu vi demais. - ele respondeu, sorrindo. - Acho que jamais serei capaz de esquecer.

Matheus mordeu, nervosamente o lábio quando ele e Victoria trocaram olhares.

- Mas não se preocupa, Matheus. - Ele levou as mãos aos ombros dos dois. - Seu segredo está seguro comigo.

Eles pareceram suspirar, um pouco mais tranquilos.

- Além do mais, ninguém acreditaria se eu contasse que você transa.

Miguel bufou, um tanto irritado com o irmão.

- Nossa, você é realmente babaca. - Ele se pôs a tirar algumas coisas de dentro da bolsa e distribui-las sobre o solo. - Agora me ajuda aqui a ajeitar as coisas.

Gabriel deu uma piscadela em direção a Victoria, que meneou a cabeça negativamente em uma censura silenciosa, e se agachou para ajudar o irmão.

- Bom, se quiserem aparecer, mais tarde, fica o convite. - Miguel falou de maneira despretensiosa, dirigindo-se mais a Victoria do que a Matheus. - Mas, eu ficaria surpreso se você conseguisse convencer o Matheus a se misturar com outras pessoas.

Gabriel soltou uma risadinha e deu uma piscadela para a garota.

- Acho que você tem as ferramentas certas para convencê-lo a qualquer coisa.

Victoria não conseguiu segurar uma risadinha, por conta da piada inesperada, mas, logo, voltou a ficar séria, censurando-o com o olhar.

- Cala a boca, Gabriel. - Miguel o repreendeu. - Assim a Victoria vai achar que somos os dois idiotas, quando, na verdade, ela estaria apenas cinquenta por cento certa.

Ele sorriu para a garota, que pareceu aprovar o deboche.

- Vamos lá, Vi. - Matheus a guiou em direção à trilha de volta. - Daqui a pouco eles devem chegar em casa e, prefiro não ter que dar satisfações.

O casal desceu a trilha quase inteira em silêncio.

- Sinto muito. - Matheus se desculpou. - Eles conseguem ser meio idiotas às vezes.

Victoria se manteve em silêncio por algum tempo antes de responder.

- Até que eles parecem legais.

O fruto proibido ( Erótico )Onde histórias criam vida. Descubra agora