68

30 7 4
                                    

Senti minhas pernas congelarem. Meu coração acelerou e meus olhos arderam.

Asriel.

Parecia... comum, apesar dos olhos amarelos e de ser terrivelmente insuportável. Se trocasse a cor dos olhos, confundiria fácil com um príncipe mesquinho.

Chamei Vanella no instante que ele deu um passo.

O sorriso não saiu de seu rosto.

— Ora, mas que maravilha! O que eu deveria dizer? Está com medo ou com inveja?

— Saia logo daqui.

— O que uma garotinha dessas poderia fazer comigo, huh? Que ameaça você tem para mim?

— Estou mandando que saia.

O Konathus riu.

— Que abominável recepção. Você está invadindo meu território e ao invés de pedir licença, me recebe com ameaças?

— Você não merece nada que vem de mim!

Asriel deu mais um passo. Observou-me com um brilho intenso, o sorriso tornando-se um curvar de boca amargo e sutil.

O Konathus encurvou as costas.

— Você não percebeu, não é?

Não respondi. Não me mexi. Mantive a espada em uma direção de fácil golpe.

— Vai mesmo deixar Zylia fazer sua cabeça? Ela nunca quis seu bem. Sempre manipulando, sempre escondendo coisas... acha que isso é correto para aquela que chama de amiga?

Fiquei em silêncio. Senti a cabeça pulsar com dor e o ouvido zumbir.

— Ela esconde sobre a família, esconde sobre o reino e escondeu até mesmo sobre você. Como pode chamar alguém assim de amiga?

— Eu não acredito em você.

— Não acredita em mim, ou não quer confessar que é tudo verdade? Zylia sempre foi egoísta. Sempre pensou apenas no próprio umbigo, o que é, de fato, muito triste.

Novamente, não soube o que dizer. Senti as mãos trêmulas, tentando não acreditar naquilo. Eu conhecia Zylia. E conhecia o julgamento do meu irmão. Sabia que podia confiar nela...

O Konathus riu novamente, como se percebesse algo.

— Talvez você esteja errado — falei. — Zylia, em nenhum momento deixou de me ajudar. Ela sempre foi uma grande amiga.

— Acha isso? Mesmo sabendo que ela queria entregar você para morrer?

Uma dor atingiu meu peito. Ela queria mesmo? Zylia dissera a mim que não o faria. Que não era capaz disso e realmente não pareceu que seria. Ela me amava. Ela era... minha irmã.

— É mentira — sussurrei. — Está mentindo.

— Por que acha que eu estou aqui?

Mordi o lábio ao perceber as lágrimas que queriam escorrer.

O Konathus abriu um sorriso, asqueroso e envenenado. Os olhos amarelos brilharam, tornando-se dourados.

— Eu ia levar você hoje, mas quer saber de uma coisa? Como sou muito legal e piedoso vou deixar que decida por conta própria. Caso quiser vingança, é só me procurar.

— Jamais vou escolher você!

Ele riu, fazendo um biquinho falso.

— É o que veremos.

Então, como se fosse inconsistente ou feito de fumaça, em um piscar de olhos, Asriel desapareceu.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora