A Anestesia da Dor

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A ANESTESIA DA DOR


ATENÇÃO ESTE CAPÍTULO CONTÉM DESCRIÇÕES DE VIOLÊNCIA, NENHUM PENSAMENTO OU AÇÃO DOS PERSONAGENS A SEGUIR TEM O OBJETIVO DE INCENTIVOS INADEQUADOS AO LEITOR.


A morte é misteriosa, fria e cáustica, mas só para quem está vivo.

Simon sabia disso agora.

As horas infernais de silêncio absoluto naquela estrambótica mansão se tonaram uma sevícia. Simon ainda esperava que Robb aparecesse em algum canto da casa, chegou a perambular por todos os cômodos a procura do primo e a perguntar onde ele estava durante o jantar; seu questionamento arrancando surpresa e preocupação dos parentes mais velhos, e sorrisos incrédulos dos mais jovens.

Sentado no sofá da sala no meio da solitude, recapitulando cada frame das últimas longas horas, o ácido da morte enfim começou a corroer as paredes do quarto preto em que ele havia se enfiado internamente, e a dissolução era dolorosa.

Ele se levantou caminhando sem rumo, os seus olhos se encheram de lágrimas conforme sua ficha começava a cair tão rápido quanto um kabum de parque de diversões. As emoções liberadas de uma vez só, vibravam em suas veias feito um terremoto; sufocava e atormentava.

Lucrécia e Ema o viu passar por elas no corredor sem sequer notá-las; tinha uma expressão de angústia evidente, uma velocidade exagerada. Elas se entreolharam de modo cúmplice como se já tivessem chegado à conclusão de uma teoria que nem chegaram a discutir.

Simon saiu no jardim dos fundos sendo recebido pelo frescor da noite como se fosse o abraço frio da morte, mas ele tinha aquela sensação terrível de que aquele ar gelado não podia chegar aos seus pulmões. Enquanto o seu coração se comprimia dolorosamente em uma tristeza deplorável, seus passos o levavam compulsivamente em direção ao breu da temida Floresta Negra, para algo que parecia clamar por ele. E talvez estivesse alucinando de tanto sofrimento, mas havia algo alvoraçado entre as beiras da floresta, parecia alguém correndo de modo agitado entre as árvores e a mata.

O medonho acontecimento não assustou Simon e nem parou seus movimentos, quanto mais lágrimas escapavam por seus belos olhos, mas agitada a mata se mostrava.

Ao chegar à orla da floresta, Simon tropeçou e caiu de joelhos, suas mãos espalmaram a grama e as trancaram entre os dedos, o choro pesado veio à tona; a agonia escapando em sua voz lastimosa. Permitiu-se esvaziar, seus soluços similares aos de quando era uma criança, e naquele momento era de novo apenas um menino aterrorizado pelos monstros em formas humanas.

Quando a pressão do turbilhão de emoções diminuiu, similar a uma panela de pressão quando perde todo o vapor, ele sentiu uma corrente de anestesia em seu corpo, o que provava que a ciência não mentia quando dizia que a forte dor faz o corpo liberar endorfina. E o de Simon liberou tanto, que ele se sentia exausto e pesado feito chumbo.

Com a testa apoiada contra o relvado, ele acalmava sua respiração ignorando o sapecar das finas tiras verdes que irritavam a sua pele. Um pequeno sonido, semelhante a burburinhos de bolhas de água, ecoou a beira da mata em sua direção. Simon ergueu a cabeça apresentando uma expressão entorpecida de dor, a face molhada de lágrimas e os olhos cintilando melancolia.

Ele percebeu um mínimo movimento no amontoado verde denso obscurecido pela noite, identificou o que parecia ser uma silhueta cinza e mais burburinhos soaram baixinho, como se aquela coisa estivesse tentando se comunicar com ele.

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