TLIAC (Frerard)

Quero a Tua Hipersensibilidade

A manhã chegava manhosa sobre Crosfilt, o cantarolar dos pássaros e a movimentação nas ruas já eram presentes. O sol irradiava energia, seu brilho deixava as folhas das vastas árvores ainda mais verdes, o vento suave as balançavam delicadamente, e o frescor se alastrava pelas áreas desgastadas de Parkson.

O clima estava tão confortável que todos os cômodos do apartamento de Frank se encontravam arejados. Ele se remexia entre o edredom, despertando preguiçosamente. Sua mão deslizava pela cama a procura do corpo de Gerard e ao sentir a ausência deste se sentou tendo uma briga interna sobre abrir os olhos, ou não. Coçou levemente a cabeça, e então se forçou a procurá-lo pelo cômodo. Não havia sinal de Way ao redor, e Frank bufou. Seu samba-canção estava dobrado sobre a o criado mudo ao lado do relógio, e sem se questionar sobre como a muda fora para ali, ele apenas a pegou, vestiu e se levantou um tanto cambaleante de sono. Em sua mente algo o dava a certeza de que Gerard já havia ido embora, que havia fugido novamente sem sequer dizer um tchau. Tanto faz também! Frank ainda estava dormindo, mesmo com seus passos o levando em direção ao banheiro. Estava em modo automático, era a rotina matinal e ele não precisava estar totalmente desperto para fazê-lo.

Tão desligado, Frank nem notou o barulho da água do chuveiro, ou o fato da porta do banheiro está entreaberta em uma pequena fissura. Ele apenas a empurrou adentrando e a encostou se posicionando, em seguida, em frente a pia.

Embora Frank não tivesse notado, Gerard, por outro lado, sentia seu coração disparar. O sabonete estacionou em seu abdômen e todo o seu corpo congelou. Em um olhar de soslaio ele via a forma turva de Frank – através do blindex do box –, a cor do samba-canção preto e dos cabelos se ressaltando entre o vidro embaçado. Então voltou a encarar o vasto jogo de pisos brancos, pequenos e quadrados da parede. Os olhos se arregalavam, as bochechas ruborizavam, e o peito tão agitado o deixava ansioso. Sendo assim, timidamente ele voltava a ensaboar seu tronco de forma lenta, de modo a ficar mais atento aos seus ouvidos.

Um pouco envergado sobre a pia, Frank passou a escovar os dentes. O molenga nem notou que sua escova estava úmida quando a pegou. Ele passou a se fitar no espelho, sua boca cheia de espuma em seus movimentos rápidos, seus olhos um pouco inchados e seus curtos cabelos desgrenhados.

Gerard podia ouvir o som mínimo da escovação. Não podia evitar a retração, não tinha coragem para se virar, se manteve parcialmente paralisado e cauteloso como se pudesse evitar ser identificado.

Só quando Frank cuspiu a espuma e retornou a escovar seus molares, se ligou no ruído da água. Sendo desperto pela surpresa ele maquinalmente voltou os olhos para o box e estagnou. Os lábios ganharam um pequeno espaço, e a escova escapou dos dentes. Os olhos presos na imagem enevoada de Gerard – pelo vapor da água –, a pele pálida se sobressaindo. Através de alguns pontos mais nítidos era possível ver perfeitamente o desenho largo das costas dele, o bumbum arrebitado, a marca horizontal e avermelhada do arranhão na lombar – feita pela fechadura da porta na noite anterior –, os cabelos pretos molhados em um contraste vivo com a pele. Frank estava tão enfeitiçado que quase errou o ângulo ao cuspir novamente a espuma. Ele largou a escova sobre a pia e mal conseguiu passar a água direito na boca. Cuspiu e fechou a torneira tomando postura, seus olhos ainda estavam focados em Gerard ao que deu um passo em direção ao blindex.

Gerard notou o silêncio, comichões se espalharam por sua espinha e ele enfiou a cabeça na água a fim de apartá-las. Sua mão devolvia o sabonete ao suporte, e a água levava o sabão do corpo.

Encantado por cada cena e cada detalhe, Frank se viu cada vez mais seduzido, seus olhos inevitavelmente transpareciam o desejo, os níveis de testosterona subiam de forma desregrada. As vistas escalavam Gerard de baixo para cima, e um volume vinha à tona no leve tecido do samba-canção.