Me Leve de Volta ao Começo - Parte 3

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Trajano ficou uma fera quando chegou em casa e descobriu que Donald havia mentido sobre Carlos. Não demorou a fazer todo o caminho de volta para o hospital, prometendo para si mesmo que se encontrasse o filho do meio na unidade de saúde, quebraria as duas pernas dele e assim este não precisaria sair do local nem tão cedo. Sua maior preocupação era um possível encontro dele com Gerard, acreditava que o neto não estava pronto para isso. A ideia de que este podia ser o plano de Donald, despistá-lo para invadir o quarto, o afligiu durante todo o percurso. Então seu sangue estava fervilhando quando seguia de volta para a suíte.

Trajano estava bem-motivado a esganar o filho quando adentrou pela porta, mas topar George ao invés de Donald foi uma surpresa. A fúria em seu rosto rapidamente se desfez, mas seu olhar desconfiado percorreu os cantos do quarto como se a peste do filho estivesse escondido em algum canto. Quando era pequeno, Donald tinha o hábito de correr e se esconder para fugir das palmadas. Ele era um homem agora, mas Trajano revivia as ações como se ele ainda fosse seu menino levado.

— Onde está o infeliz? — indagou, atento a qualquer sinal de movimento suspeito.

— Depende. Quem seria o infeliz? — perguntou George, ignorando as anotações que fazia para espiá-lo.

— Donald.

Sem conter um sorriso, George balançou a cabeça e disse:

— Ele não está aqui.

— Ele não veio aqui?

— Não. — George voltou a atenção ao pequeno caderno em sua mão, passando a terminar suas anotações.

Confuso, Trajano franziu o cenho. O que Donald estava aprontando afinal? Por que havia feito aquilo? Filho da mãe! Ele me paga! Pensou, roçando os dedos, intrigado. Observou novamente o cômodo e deu um longo suspiro, conformando-se de que teria de esperar para arrancar um pedaço da orelha do filho.

— Como está o meu neto? — Aproximou-se do leito, reparando que Gerard estava dormindo.

— Ele estava muito agitado. Precisei medicá-lo.

— De novo? — Trajano se viu surpreso, seu foco se voltando prontamente ao médico.

— Sim. Mas não se preocupe. Ele não está sedado. O dei um calmante fraco, via oral, é só para mantê-lo um pouco mais tranquilo. A sonolência é um pequeno efeito colateral. Mas não é nada demais.

Trajano assentiu em entendimento. Observando melhor o neto, a primeira coisa que reparou foi o rosto sereno dele, e a segunda, foi aquele grande urso entre os braços dele. Transpareceu uma careta de estranheza. Por que Gerard estava igual a uma criança de seis anos agarrado numa pelúcia?

— Que porra é essa?

George o mirou em um rabo de olho, uma represália silenciosa pelo palavreado, e logo voltou a escrever em seu caderno enquanto respondia calmamente:

— É um bicho de pelúcia.

— Eu sei que é uma pelúcia. Quero saber por que ele está com esse troço — reclamou Trajano.

— Bichos de pelúcia remetem sentimentos de conforto, carinho e segurança. É por isso que crianças adoram dormir abraçados com eles. Elas se sentem protegidas, é como os braços maternos. São fortes aliados na ajuda ao tratamento de pacientes que sofreram abandono, que tiveram ausência de afeto familiar. — explicou George, sem a intenção de afetá-lo, ainda assim Trajano sentiu a ponta da agulha afiada espetar a sua alma.

— Eu não o abandonei, George — rebateu ele, suas mãos se trancando em revolta.

Analítico, o médico simplesmente o olhou e disse:

TLIAC (Frerard)Onde histórias criam vida. Descubra agora