TLIAC (Frerard)

Voltei Porque Ainda Te Amo

O sol começava a raiar. O céu em seu azul mais claro trazia a tranquilidade e a nostalgia de uma manhã de primavera. Tão sereno e cheio de paz, o silêncio tomava conta das ruas. Nas casas as pessoas ainda se encontravam adormecidas. Era sossegado e inofensivo, até mesmo para Division.

Billie caminhava pela calçada em direção a sua casa. Retornava de uma longa noite de vendas, vinha em seu gingado malandro com sua mochila vazia nas costas, os olhos marcados pela falta do sono e o corpo pesado pelo cansaço. Ele estava adaptado aquilo, era o seu trabalho duro. Nunca foi o que ele sonhava, mas era a única coisa que tinha. Almejava ter um trabalho honesto, mas não era como se os empresários quisessem o nome Billie Armstrong em seus quadros de funcionários. Carregar o fardo do sobrenome que havia herdado era árduo. Ser filho do famoso e perigoso Denver, não era uma tarefa fácil. Ninguém queria ter seus negócios manchados pelo nome Armstrong, portanto Billie tinha que sobreviver como podia. Ser um vendedor de drogas era melhor do que ser um mafioso e morar em Division, apesar de precário, era melhor do que morar no meio da frieza do Gueto.

Uma ambulância estava parada a duas casas à frente da residência de Billie, e ele via os paramédicos empurrando uma maca no qual havia um corpo em um saco preto. No outro lado da rua tinha um carro da ICC (Investigação Criminal de Crosfilt) e ao redor da ambulância se encontrava um pequeno grupo de curiosos.

Parando em frente à sua casa, Billie ignorou aquela imagem fechando os olhos brevemente para respirar profundamente o ar como se nada existisse ao redor. Division era uma pequena porcentagem do desastre, mas não se comparava a crueldade do Gueto. E Billie? Bom, ele vivia no maravilhoso mundo colorido de Billie. Apesar de ser um cara com a vida ferrada, carregar uma carga negra sobre as costas e ser cercado pelo azar, ele ainda conseguia sorrir e admirar cada pequeno detalhe de beleza que ainda existia no mundo. Conseguia sobreviver como ninguém ao meio do caos.

Billie subiu os pequenos degraus e se aproximou da porta retirando a chave do bolso da calça. Ao encaixar a chave na fechadura, ele percebeu que a porta não estava trancada. Tinha a impressão de tê-la trancado, mas não tinha certeza. No entanto, resolveu desconsiderar aquele fato. Ao tirar a chave do trinco e adentrar em sua casa, ele tirou a mochila das costas a pondo sobre a mesa e esticou o corpo tentando relaxar. Estava exausto. Talvez Gerard estivesse certo, ele precisava de alguns dias de descanso e aquele dinheiro que recebeu do amigo podia o proporcionar isso. Todavia Billie queria juntar uma grana, já havia gastado metade do dinheiro pagando os alugues atrasados e ainda tinha que fazer umas compras, pois sua velha geladeira estava vazia. Ele suspirou, a vontade de desabar na cama falava mais alto do que a necessidade do banho. Coçou a nuca vacilando em alguns passos esgotados. O estomago em um rugido o lembrava que estava com fome, contudo sentia como se estivesse dormindo em pé. Passou a mão pela barriga e seu olhar se voltou para cozinha. Seus olhos se arregalaram ao identificar o homem que estava no canto do cômodo com a lombar encostada na bancada inferior do armário.

Era seu tio; Paul.

Com as sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados, Paul o observava.

Billie estava em choque. De soslaio ele mirou a porta do banheiro, um de seus pés deslizou traiçoeiramente para o lado e quando o tio se desencostou da bancada, ele correu para lá. Havia uma janela no pequeno cômodo, era a sua saída de escape. Mas infelizmente não teve tanto sucesso, porque Paul o alcançou ao que pulava pela ventana.

Paul o agarrou pelo cós da calça o puxando de volta.

— Tio! — Billie praticamente suplicou tentando resistir, mas Paul era mais forte.

— Venha cá! — O tio ordenou entre os dentes conseguindo trazê-lo de volta, o agarrou pela camisa nas costas e o debruçou sobre a pequena pia de cerâmica o distribuindo tapas na nuca.