Hospital

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— Como ele está?

— Nada bem.

— Não temos recursos o suficiente para tratá-lo aqui. Precisamos chegar ao hospital o mais rápido possível antes que seja tarde demais.

— Ele precisa de uma transfusão.

— Acho que ele não irá sobreviver.

— Já estamos chegando. Mais três minutos e estaremos lá!

— E o outro?

Gerard viu uma luz forte invadir sua visão, ele as apertou para que a médica distanciasse seu toque.

— Parece consciente. — Ele a ouviu dizer. — Ei? Você consegue falar? Pode me dizer o seu nome? — Ela não obteve resposta, pois tudo que Gerard fazia era piscar seus olhos. Ele podia ouvi-los, mas não conseguia os identificar. Sentia-se como um bêbado e sua visão estava um pouco embaçada. Way estava com a mente embaralhada, por causa disso, tudo que ele focava era registrado em sua memória como flashes. Sendo assim, ele conseguiu registrar o teto da ambulância, o movimento de sua cabeça para o lado, a imagem de Frank em uma padiola alaranjada – o rosto dele imobilizado, a pele lívida e parcialmente manchada pelo sangue, os olhos fechados. Ele parecia dormir pesadamente. –, logo depois, veio o balançar de sua padiola, e então o céu negro e chuvoso tomou sua visão por instantes até as luzes brancas das lâmpadas começarem a passar por seu foco a cada dois metros de teto branco. Uma parada e havia sombras, vultos, toques em seu corpo. Os murmurinhos em seu torno eram totalmente indecifráveis.

— Tragam o desfibrilador!! — Surgia a voz feminina em um grito, fazendo Gerard virar a face novamente, seus olhos pesados capturando Frank com o peito exposto sobre uma espécie de maca inoxidável. Uma mulher em uniformes brancos estava sobre ele e impulsionava aquele tórax pálido marcado pelo vermelho vivo, o qual manchava suas luvas claras.

Aquilo era desesperador, Gerard podia sentir seu peito doer e seu ar faltar de forma anormal causando uma terrível agonia. Então ele pôde notar vultos e mais vultos, toques e mais toques em seu torso enquanto sua mente fazia uma mistura entre a imagem real de Frank e a imagem ilusória dele no corredor do colégio.

Iero tinha aqueles dois lumes em sua direção, eles eram tão profundos e ardentes. Que se dane! Aquela era uma recordação distorcida que parecia tão viva, então Gerard podia fazer o que quisesse com ela. Portanto ele se imaginou sentando em um dos degraus acinzentados da escada se pondo a observá-lo encostado em um dos armários a frente. Gerard não sentia mais dor, nem desespero. Não existia o medo, apenas aquela visão maravilhosa. Consequentemente, ele não tinha nenhuma vontade de parar aquilo, não havia nenhuma pressa em acordar.

Em Crosfilt a chuva pesada se estendeu pela madrugada trazendo a baixa temperatura para a cidade e para alguns corações Crosfiltinianos.

Um dia depois...

As nuvens brancas tomavam o céu e deixavam desabrochar uma leve garoa tornando a manhã gélida e tristonha. Patrick limpava as lágrimas silenciosas que escorriam lentas em suas bochechas com a imagem das lindas rosas brancas que eram lançadas sobre o sofisticado caixão em tom marrom envernizado. Era uma imagem comovente e dolorosa: ver toda a família chorar, assistir o desespero materno em uma prantina sonora e sôfrega a cada centímetro que a ataúde levava seu único filho para o fundo daquele negro jazigo. Era um difícil adeus a Max.

— Ele matou meu filho! Aquele desgraçado matou meu único filho! — A pobre mulher gritava em desesperança agarrada com punhos fortes ao grosso sobretudo preto de seu marido, que contrastava com o seu marrom claro por sobre o vestido preto. O homem mantinha-se forte para apoiá-la segurando a dor de perder seu querido filho em um sofrimento mudo.

TLIAC (Frerard)Onde histórias criam vida. Descubra agora