Capítulo 3 - As fotografias

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A semana se passou de forma bastante conturbada, a cada dia eu ficava mais sobrecarregada. Além de estudar, era bolsista de um projeto de iniciação científica, tinha que chegar em casa e ir para a academia, nesse ritmo chegou a sexta-feira.

Eu não tinha muito tempo pra pensar e preferia assim. Pensar no que iria fazer me dava angústia, não tinha volta, mas meus olhos já não eram os mesmos, eu não era a mesma. Aquela decisão tinha mudado minha vida, estava prestes a atravessar a linha, e, depois de chegar ao outro lado, não tinha mais como voltar. Na verdade, acho que já tinha atravessado a linha, apesar das reflexões, parte de mim ja havia aceitado tudo.

Assim que cheguei em casa, minha mãe já me esperava com um sanduíche para lanchar no "plantão". Me cortava o coração mentir para mamãe, mas, por outro lado, era preciso. Não poderia falar a verdade, não tinha ninguém para me abrir. Ou talvez até tivesse, mas isso era algo tão pessoal que eu me recusava a contar a alguém.

--Filha, preparei este sanduíche para você lanchar.

--Obrigada, mãe. E o papai, como está?

-- Tá melhor a cada dia, mas não pode trabalhar nem fazer esforço, aí já viu, passa o dia mau humorado.

--Que bom saber que ele está melhor, vou tomar banho, me arrumar, vou jantar rápido, preciso ir embora.

Saí da sala e fui direto para o banheiro. Durante o banho, minha cabeça fazia uma retrospectiva da minha vida, há alguns meses, eu era apenas uma estudante com uma história de vitória e superação, agora estava a algumas horas de tirar fotos para um site de garotas de programa de luxo.

Não dava mais para voltar atrás, parei no espelho, fiquei de costas e vi o dragão, esperava que aquela figura mística me desse forças. As fotos ficariam perfeitas, a tatuagem parecia ter vida própria, nunca tinha visto um desenho com tanta personalidade, qualquer um que visse o dragão seria incapaz de enxergar o que havia dentro dele.

Cheguei à mesa e minha família estava reunida, me esperando para o jantar, só faltava meu irmão mais velho, que não morava conosco, já era casado e vivia com sua esposa.

Meu pai estava bem melhor, não se parecia em nada com a figura debilitada que ficou no primeiro mês após o infarto. Pedro e Júlia eram gêmeos e eram os caslçulas da família, tinham 8 anos, Jamerson tinha 16 anos e já estava pensando em fazer preparatório para o vestibular no próximo ano.

Minha mãe, uma mulher jovem, no auge do seus 35 anos, dona Vitória. Esse nome casava perfeitamente com ela.

Meu pai é um quarentão com cara de 38, seu Júlio, um paciente cardiaco, um sobrevivente de um infarto, ver ele se recuperando tão bem dava ainda mais energia e força para os meus próximos passos.

Jantamos e assim que terminei fui para o "plantão", precisava descansar para sair bem nas fotos.

Cheguei ao apartamento e senti um aperto no peito, por mais que minha cabeça soubesse que era o melhor a fazer, meu coração ficava pequeno a medida que o ponteiro do relógio se movia, estava a algumas horas de mudar minha vida.

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Sábado, 2:30 meu celular desperta e levanto para me arrumar, me vesti com um biquíni lindo que havia comprado para a ocasião, me maquiei, estava com as unhas pintadas de vermelho, tinha pintado horas antes, coloquei a lente, peguei meu óculos de sol e me vesti como a Mariane, fui para a praça próxima ao meu apartamento e fiquei esperando Joana ligar.

Eu já não gostava de esperar, ainda mais numa ocasião dessa, com o peito apertado, uma vontade louca de sair correndo e desistir de tudo, mas não tinha como, era minha escolha, escolhi ganhar dinheiro, então naquele dia Mariane iria selar meu destino. Joana não estava atrasada, era meu cérebro querendo que o tempo passa-se logo e eu fizesse o que tinha que fazer o quanto antes.

O que há dentro do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora