Capítulo 72- O universo sabia que eu era dela

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--Não vai Ju, precisamos conversar.



--Pietra, não tem o que conversar, vocês estão juntas tudo bem, não esperem que aceite ou apoie.



--Eu amo a Julia. -Ela falou.



--Eu já ouvi demais. -Sai do quarto dando de cara com a Camila no corredor.





Ela sabia exatamente o que fazer, como fazer e quando fazer, so de me olhar ela sacou tudo e me abraçou falando no meu ouvido.



--Julia não tem mais 13 anos e não precisa da sua proteção, deixa ela trilhar o caminho dela, e se não de certo ela terá braços que irão consolar suas angustias.



--É minha irmãzinha.



--Não é mais amor, ela é uma mulher, tem 18, logo faz 19, não é mais aquela que precisa ser protegida.



--Não quero mais ficar aqui.



--Temos que ficar, seu pai ta todo animado. Aguenta firme, to aqui com você. -Ela falou segurando minha mão e foi impossível não chorar, achar alguém para beijar na boca e se divertir é importante, mas achar alguém que divida a bagagem com você é um presente, é um privilégio, ainda mais num mundo que as pessoas são facilmente descartadas e trocadas por novos rostos, novos corpos e novas emoções, que depois
serão substituídos por novos rosto, dando seguimento a um ciclo vicioso.



--Me leva para passear por favor, vamos para rua da Aurora ou para o Píer no Recife Antigo, ou para Praça do Arsenal, mas não me deixa aqui, preciso sair para pensar, você sabe como o Recife me faz refletir.



--Tudo bem, a gente fica um pouco mais na festa e depois vamos.



--Eu ja falei hoje que te amo? Camila Ferraz eu te amo.



--Também te amo Juliane.



Ficamos um tempo lá, colocamos a Ada para dormir, em seguida pedi para mainha olhar ela e falei que iria sair para passear com a Camila.


Ela dirigia atentamente pelas ruas da cidade, meus olhos se perdiam admirando cada gesto, cada sorriso, e quando ela olhava eu congelava aquela fotografia na minha mente, como ela conseguia ser tão linda e tão forte, a medida perfeita para mim, para o que eu precisava, ela era bem mais do que eu poderia merecer, tanto sentimento poderia facilmente virar um romance.


Ela parou o carro, saímos caminhando pelas ruas daquele bairro que eu adorava, fomos para o pier.




--Gosto demais desse lugar, me da paz.



--Não sei como conseguiu viver tanto tempo nos Estados Unidos, sempre pensei que nunca deixaria Recife.



--Nunca deixei amor, Recife sempre esteve em mim, em qualquer lugar que eu fosse.



--É lindo mesmo, so não é mais lindo que você Juliane.



--Devo discordar, a linda aqui é você.



--Senti falta disso, de estar com você, de sentir sua mão na minha, de ter esses olhos verdes em cima de mim, eu amo você Juliane, você faz falta. Senti tanta falta de você flertando comigo, do seu cheiro, de poder estar ao seu lado e sentir esse olhar tão quente.



--Também te amo Camila, sinto muito por não ter conseguido casar com você, mas vamos casar, em segredo, so eu, você e a Ada.



--Essa aliança aqui no meu dedo já diz que sou casada, o resto é mera formalidade, o que importa é o que sinto aqui. -Ela apontou o coração e completou. -No meu coração eu já sou sua e você é minha, desde aquele dia no shopping, desde o primeiro sorriso, você e eu para sempre.



--Você e eu para sempre. -Repeti e ela me abraçou encostando a cabeça no meu ombro.



--Acredita em destino? -Ela perguntou encarando meus olhos.



--Acredito sim.



--Você sempre foi meu destino, minha alma gêmea, minha outra metade, e não importa por onde eu ou você andou, o que fizemos, quem amamos, isso não muda nada, eu e você somos como ímã, sempre vamos nos atrair.



--Tive medo de morrer sem que o mundo soubesse o quanto te amei, o quanto isso aqui me deu vida, o quanto o nós me mudou, minha vida era plena e vazia, sempre faltando algo, que nada preenchia, nem sucesso, nem dinheiro, nem bebida, faltava você, lembrar quantos anos deixei de viver ao teu lado me deixava tão arrasada... -Ela não me deixou completar, passou a mão secando as lágrimas e falou.



--Não importa o que passou, só importa o presente e o futuro, você já me deu meu maior presente, voltou para mim. -Ela falou passando os dedos pelas linhas da palma da minha mão, talvez ela tivesse achado a nossa linha.



--Já reparou com minha cabeça se encaixa perfeitamente no seu ombro, e meu corpo cobre o seu? -Perguntei abraçando suas costas e encostando a cabeça no seu ombro.



--Somos perfeitas uma para a outra. -Ela respondeu e eu passei a mão na sua barriga.



--Vamos ter outro filho? Eu e você, juntas. -Falei acariciando sua barriga.



--Amor, Ada ainda é muito pequena.



--Amor eu quero a casa cheia. Vamos casar e depois do casamento vamos engravidar.



--Você ainda ta no probatório, não pode engravidar agora. -Camila falou.



--Amor, não tem nenhuma lei que me impeça de engravidar no probatório, e eu estou voltando agora para o trabalho, eles não tem o que reclamar.



--Eu sei amor, mas você agora tem horários a cumprir, e eu também tenho, não podemos criar vários filhos longe de casa, não podemos deixar os cuidados para terceiros, nós somos as mães.



--Tudo bem amor, por hora eu adio os planos, mas não desisti.



--Eu sei que não, te conheço bem.




Ficamos conversando, aproveitando a brisa fria que vinha do mar, contemplando as estrelas, depois voltamos para a casa dos meus pais.




Na semana seguinte Camila fez aquela que seria uma das maiores surpresas da minha vida. Ela foi me buscar na Universidade com a Ada, me vendou e disse que iríamos para um lugar surpresa. Dirigiu por meia hora, me deixando curiosa ate demais.

--Amor, tá demorando, já chegamos?



--Ainda não.



--Ada, você sabe para onde vamos?



--Na na não.



--Subornou minha filha para ela não me contar ne? -Perguntei sorrindo.



--Ela sabe que é surpresa.



--Tá perto?



--Chegamos em 5 minutos.



Após cinco minutos chegamos, ela tirou minha venda, era uma casa de campo, toda decorada, flores por todas as partes, e de longe se via um pequeno aglomerado, na hora meu coração quase saiu.

--Vamos casar Juliane.



A abracei com todo amor e carinho que dominava meu corpo naquele momento e percebi que o amor da um jeito para tudo, naquele momento tudo pareceu tão claro, como se fosse a confirmação que aquela mulher era meu destino e que ela faria de tudo para ficarmos juntas, assim como eu faria de tudo para nunca mais perde-la.

--Amor, e o vestido?



--Mandei fazer outro, vamos entrar e nos arrumar, já tem maquiadora te esperando e me esperando.



Chamei a ada para vim comigo, mas ela quis ficar com a Camila, que se separou de mim dizendo que dava azar ve-la pronta antes da cerimônia, fui para um quarto onde a maquiadora já me esperava com a Ana ao seu lado.

--Ana, porque não me contou nada?



--Não poderia estragar a surpresa. A Letícia esta com a Camila, depois vamos trocar.



--Eu estou até sem palavras, vocês me enganaram direitinho, não suspeitei de nada.



--Há meses que a Camila prepara tudo, seus pais e seus irmãos estão la embaixo.


Fiquei conversando com a Ana, e quando fiquei pronta ela foi encontrar a Camila e a Letícia veio ficar comigo, Letícia me deu um abraço apertado e sorriu, ela torcia por aquele momento a muito tempo, assim como eu sempre torci por isso, mesmo que parte de mim quisesse negar, sempre foi minha vontade casar com a Camila e viver a vida ao seu lado.



Num final de tarde despretensioso, de um dia qualquer, de um mês qualquer, foi assim que aconteceu, com minha familia presente, vários seguranças, Ana, Letícia e aninha. A pequena Ada indo levar as alianças no altar preparado. Ainda que tenha demorado mais de 10 anos enfim o nosso casamento aconteceu, a cerimônia foi apenas um rito,
porque eu e ela já sabíamos que éramos uma da outra. Não foi um casamento grandioso, com decoração cinematográfica, tudo era acolhedor e modesto para não chamar atenção, tinha seguranças por toda a propriedade, mas isso não estragou a magia daquele momento, poder oficializar uma união que já estava impregnada em mim, o universo sabia que eu era dela.



Uma nova aliança foi colocada em meu dedo, e a que eu já usava passei a usar na outra mão, aquela primeira aliança jamais sairia do meu dedo, ela era a prova de que o nosso amor era invencível. Junto com a nova aliança e aquelas palavras tudo ficou visível, a minha emoção ao assinar aqueles papeis, a emoção de oficializar aquela união, a minha emoção em sentir que nada mais no mundo me tiraria dali, eu a olhei
nos olhos intensamente, parte de mim queria eternizar aquele momento, aqueles olhos lindos e cobertos de emoção, eu a amava, a queria, seria capaz de viver e de morrer por ela, e quando ela retribuia o olhar eu percebia que meu sentimento era correspondido. Abracei e beijei como se fosse o fim do mundo, e dai que estava borrando a maquiagem, estava tão realizada que nada disso importava, só importava repetir pelo menos mil vezes que eu a amo.

--Eu te amo, Camila.



--Eu te amo mais Juliane.



Seu cheiro, seu beijo, seus olhos, tudo era tão lindo e perfeito, assim como aquele momento. Assim como tudo que a envolvia e tudo que acontecia a sua volta, como um ajo, ou uma fada, fazendo a minha vida mais feliz, me devolvendo a vida.



Após o final da cerimônia todos estavam emocionados, Letícia e Ana choravam, Painho, mainha e Julia também, Jaminho e Pedro se mantinham fortes.



Tinha uma pequena festa dentro da casa, com alguns doces, salgados e o bolo, tudo muito bonito. No topo do bolo tinha duas noivas e a pequena Ada, eu e a Camila segurando ela no colo.



Era tudo tão lindo, e eu me sentia tão feliz, que ate se não tivesse festa ainda estaria feliz, estava realizada e tinha ali comigo tudo que realmente importava na vida. Passar pela experiência de quase morte nos faz perceber como as coisas são lindas, ver a beleza de tudo que nos cerca, do vento, da natureza, curtir o momento com quem está ao teu lado, viver um dia de cada vez, não viver esperando pelo sábado ou pelo domingo, viver bem. Cada dia que nos é dado, como se fosse o ultimo, intensamente. Falar o que sente, não deixar nada para depois, a gente nunca sabe quando é a ultima vez.


Passamos um tempo na festa e acabei descobrindo como a Camila conseguiu calar a Ada, com chocolates.

--Amor, você subornou a menina com doces?



--Ela ama chocolate, puxou a você. -Camila falou sorrindo, e Ada estava toda animada, com uma pequena caixa cheia de trufas, o premio por manter o silencio.



--Vendeu teu silencio por chocolate, deveria pelo menos ter negociado duas caixas, eu quero também. -Falei sorrindo e ela se aproximou e me deu a caixa e mandou eu pegar, minha filha era muito fofa.



Parei por um instante e fiquei olhando Camila intensamente.


--Não me olha assim, já conversamos sobre isso.



--Sobre o que?



--Sobre filhos, seus olhos me dizem que esta pensando nisso, agora não
da, daqui a dois anos.



--Meu deus, você sabe até o que tô pensando, que bruxaria é essa?



--Isso se chama conhecer, eu te conheço bem meu amor.



--A Ada esta enorme, esta na hora de damos irmãos a ela. -Falei e Camila desconversou.







Dois anos depois



--Meu Deus, não sei como me deixei convencer em engravidar junto com você, olha só isso, eu e você em trabalho de parto, dói demais, e eu nem posso apertar sua mão, cadê a Ana que não chega? Nem Jaminho, não da para dirigir assim. -Camila falava com dificuldade, estava sentada no sofá reclamando, enquanto eu mantinha a calma, mas sabia que em breve estaria como ela, já sentia as contrações.



--Calma meu amor, são só as contrações, esses mocinhos não vão nascer agora, assim como essa mocinha aqui também. -Camila teve três óvulos fertilizados, mas só dois deram continuidade, eu tive dois óvulos fertilizados, mas so um resistiu, todo mundo achou uma grande loucura, tres crianças de uma só vez, a gente não esperava essa taxa de sucesso, mas já que o universo tinha nos dado esse presente estávamos felizes, embora agora parecia loucura, duas grávidas em trabalho de parto, com uma criança pequena esperando pelos parentes.



Continua...

O que há dentro do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora