Pov Bárbara
Ainda entenderei por que meu pai me trocou de colégio contra a minha vontade. Odeio ser uma aluna nova, principalmente no primeiro dia. Mas, pelo menos, eu tinha a minha vizinha Íris pra me fazer companhia, até porque ela também era nova.
Ops, desculpa. Meu nome é Bárbara Aguiar, o-d-e-i-o esse nome (o primeiro nome), minha vontade era de trocá-lo. Mas o que posso fazer?
Exatamente, nada.
Apenas sou uma garota normal, que curte passar despercebida, por isso sou quietinha, mas muito observadora. Não sou alta, o que ajuda a camuflar, e uso óculos, o que é uma merda, pois sem eles sou praticamente cega. Sobre meu corpo, eu não vejo nada demais, acho que é tudo no lugar certo, e não me importo se algo estiver errado. Mas não ando exibindo o pouco que tenho por aí, como eu disse, não me importo muito.
Sou filha de uma jornalista liberal e um brigadeiro do exército conservador, ou seja, praticamente moro no cenário do Segundo Reinado. É, eu também sou nerd, não gostaria de ser, mas não dá pra tirar isso de mim. Melhor notas impecáveis do que lutar pra passar e mendigar ponto, bjs recalque.
Nesse cenário dos meus pais, eu procuro seguir mais a minha mãe, e ter a mente mais aberta possível, porém o meu pai e sua mania controladora me influencia, já que ele me controla. Ele controla tudo, exceto a minha mãe. Vai entender por que eles casaram, deve ser verdade aquela parada de "opostos se atraem". O Brigadeiro Antônio, vulgo meu pai, é completamente contra a causa LGBT. Odeia homossexuais. Eu realmente não entendo o porquê. Mas fui criada com o meu pai dizendo que eles são nojentos, quando do outro lado, eu sei que a minha mãe é bissexual e ele não sabe, ou ignora.
Pois é.
Então, lá fui eu para o 2º ano com a Íris, minha vizinha lésbica e colega de colégio, de ônibus, jogando conversa fora. Não, meu pai não sabe que a Íris é lésbica, nem desconfia. Eu sei, ela pisca os olhos de um jeito gay, mas ele simplesmente não percebe porque ela não se veste como um homem, ela é só meio dark e roqueira. Sim, pra ele, lésbicas se limitam a bofinhos. Ele também não entende como uma pessoa pode ser bissexual, talvez por isso ignore a minha mãe nesse quesito, como se ela estivesse escolhido ser hétero. Nem me abalo pra tentar explicar, não vai adiantar mesmo.
Acabamos chegando cedo, então, como tinha uma galerinha sentada ali na grama, resolvemos nos juntar. Não estava feliz com o fato de que logo ficaria sozinha, porque a aula começaria e a Íris é 3º ano. Mas enquanto conversávamos ali estava bom.
Logo me distraí e notei, em uma das entradas do pátio, uma garota loira que me parecia familiar, conversando com outra morena que usava um moletom rosa, do qual eu gostei. Olhei mais aquela loira, ela era linda e... Ah, é a filha daquele político que a minha mãe falou sobre, um tal Ângelo Becker.
Júlia Becker Dois. Mas por que dois, por que não deixou só Júlia mesmo, já que todo mundo sabe que o nome da mãe dela também é Júlia? Bom, agora estudamos no mesmo colégio, talvez eu tenha a chance de perguntar. Ela era mesmo linda, e estava vestida como se estivesse acabado de sair de um catálogo de moda adolescente, qualquer um poderia vir e clicar ela ali com uma câmera e a menina estaria perfeita. Talvez porque fosse rica, né?
Tenho certeza que aquela calça pra aquela jovem de 16 anos foi mais de 300 reais.
Não tive muito tempo de analisa-la, porque a amiga dela veio falar com a gente. Pois é, com a gente. De frente e de perto, ela também era tão bonita quanto a Júlia, tinha uns olhos verdes penetrantes e um sorriso contagiante, digamos.
- Oi meninas. Vocês são novas, certo? – ela sorriu mais e a Íris ajeitou a postura, olhando atenta e curiosamente para a menina.
- Sim, somos. – respondi por ela.
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Mine
Romance"É porque eu já tive mulheres, digamos assim, isso parece idiota e clichê, mas com nenhuma delas foi como é com você. Estar apaixonada, pra mim, é novidade. Você diz que é minha, e que gosta de ser. Então, quer ser minha pra sempre? - mas o que? Que...