Charlotte suspirou e passou as mãos no longo cabelo castanho, evidenciando sua irritação, não estava disposta a voltar pra casa e sorrir amavelmente para quem encontrasse pelo caminho, como faria normalmente. Sabia estar o dia todo fora, porém isso não aumentava o anseio pelo retorno, pelo contrário, a paz que o silêncio lhe propunha era única e algo que não trocava por nada, a não ser o leve sussurrar do vento, tão gentil que fazia seus nervos se acalmarem.
-Char. –Harry chamou e ela o encarou de sobrancelha arqueada.
Harry sorriu pela imagem à sua frente e a menina segurou um suspiro, enquanto encarava os bonitos olhos azuis divertidos, assim como sorriso debochado nos lábios rosados do outro. Ele havia acabado de chegar, sabendo bem o local para qual ela sempre fugia.
-O que você quer? –Perguntou sem se preocupar em fingir bom humor.
Harry deu de ombros, vendo a raiva nos olhos verde-grama, a conhecia por suas vidas inteiras, eram melhores amigos, quase irmãos, por tanto não havia necessidade de fingimento um com o outro, até porque o rapaz era adaptado com a fúria da menina, provavelmente sendo um dos únicos conhecedores de todas as verdades que ela costumava esconder.
-Considerando que sua mãe acha que você foi devorada por algum monstro... —Ele deu de ombros com total tranquilidade enquanto deixava a frase inacabada e ela bufou com ironia. –Achei mais seguro me certificar que você vá retornar na hora certa.
-Ela é exagerada demais e de qualquer maneira eu não perderia a hora, não hoje. –Rolou os olhos com a tolice da ideia.
-E você é teimosa. –Implicou ele.
-É tão difícil compreender que quero somente ir visitar minha avó? —Questionou irritada, prendendo o cabelo em um coque.
-Ela só está preocupada...
-Eu não sou mais criança, Harry. —Disse rolando os olhos e interrompendo o que ele dizia. —Sei me cuidar, por favor.
-Char, respira fundo. —Disse ele sorrindo, mas era um aviso real.
-Às vezes eu odeio você. —Ela resmungou.
Harry sorriu ao vê-la fechar os olhos e respirar fundo algumas vezes, em seguida abri-los e voltar sua atenção ao amigo, que brincava com uma pedrinha, jogando-a para o alto e a agarrando despreocupadamente enquanto ela perdia altitude. O tempo pareceu desacelerar enquanto a garota tomava ar e o rapaz lhe dava tempo para se recompor.
Harry a encarou, vendo a expressão irritada começar dar lugar a um sorriso gentil e olhar meigo, os ombros relaxarem e logo Charlotte parecia a pessoa mais adorável que poderia cruzar o caminho de alguém. Seu semblante havia mudado por completo, de raiva pura a total afabilidade, talvez ninguém percebesse o quanto ela poderia ser manipuladora, tirando Harry e algumas poucas pessoas que lhe eram mais próximas.
-Podemos ir agora, Harry. —Falou tão amavelmente que o fez franzir a testa.
-Finja ser gentil e se livre de perguntas, mas não faz essa merda comigo. —Disse ele rindo e viu um sorriso de canto surgir nos lábios dela, que o encarou de modo debochado, mostrando rapidamente quem era.
-Ninguém vai querer ouvir minhas respostas reais, Harry. Você melhor que ninguém sabe disso. —Ele riu sonoramente, assustando um passarinho que estava na árvore próxima.
-Realmente, ninguém vai.
Char sorriu e se colocou de pé, ajustando a postura tranquilamente. E logo os dois brincavam enquanto tomavam o caminho de volta para o centro da Vila, com a escuridão da noite já rondando Ventanis, fazendo que quase todas as casas já estivessem trancadas e as que permaneciam abertas, começavam a fechar portas e janelas. Charlotte e Harry cumprimentaram os poucos vizinhos que ainda estavam ali fora, se preparando para a terrível noite.
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Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)
FantasyREVISÃO EM ANDAMENTO Todos conhecem os encantos da garota de lindos olhos verde-grama, aquela que cativa todo mundo com seu doce sorriso, gentileza e compaixão. Chapeuzinho Vermelho, todos a amam, a nobre e boa garota, não é? Essa é a história que...