Capítulo Sessenta e Nove - Cercados

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Charlotte sentiu o sangue congelar dentro de suas veias, suas emoções começaram a ficar tão bagunçadas que ela ouviu o vento urrar de repente, seguido por uma explosão como se um dos grandes lampiões de luz houvesse estourado e em seguida o ganido de um Lobo se fez ouvir, o lamento pareceu trazê-la de volta a realidade. Char respirou fundo várias vezes até sentir a ventania se acalmar e o sangue voltar a fluir, mesmo que o zumbido irritante permanecesse em seu ouvido e a dor fizesse sua cabeça latejar. A garota sabia que precisava aprender a controlar suas emoções já que em breve estaria no Império Central e não poderia errar em absolutamente nada, a não ser que desejasse ser descoberta pelos Monges.

Harry sentiu a irmã ajustar a postura e sair de seus braços, estalando o pescoço e por fim abriu os olhos cor de gelo. Charlotte parecia totalmente diferente, o medo ainda estava ali, mas aparentava estar no controle de suas ações, algo que nunca ocorria nas noites de Lua Cheia. E diante a cena que se passava, Lira soube que as várias explosões que ocorreram foi por causa da falta de controle momentânea da garota, que parecia já votar a si.

-Char?

-Está tudo bem, Harry. –Ela informou o encarando. –Não terá pesadelos dessa vez. –O rapaz se questionou o que aquela frase implicava, mas não parecia que Charlotte diria mais que aquilo.

-Lira, podemos conversar um pouco? –A ruiva não esperava aquele convite, mas assentiu e se ergueu assim como a menina, que caminhou a frente seguindo para o quarto de Alfred.

-O que houve? –Lira quis saber quando Char sentou na cama.

-Preciso que você me diga qual o risco da Loba que anda com você, ficar onde Mark está e lhe causar algum dano. –Lira empalideceu e arregalou os olhos.

-Do que está falando?

-Nós sabemos bem, não vamos fingir que não. –Char demorou um pouco mais do que gostaria para perceber, contudo o Vento sempre lhe diria o que precisava para proteger os seus.

-Como...?

-Como sei? –Ela riu fitando o rosto da outra. –Assim como você sabe que Alfred é um. –Char ajustou a manga do vestido em seu pulso e voltou os olhos muito verdes para a ruiva, finalmente a cor original retornava e perdia o esbranquiçado de antes. –Não subestime o que e como sei das coisas, normalmente eu sei mais do que gostaria, Lira.

-Ela se afasta quando a Lua Cheia vem. –Ela disse baixo, temendo a reação de Charlotte. –E as Masmorras tem grades fortes para isso.

-E só espero que você saiba que se ela o atacar, ele está armado o suficiente para matá-la. –Lira sentiu medo. –E tem minha ordem e minha proteção para o fazer.

-A Brigada não a deixará atacar.

-Eu espero que sim. –Charlotte parecia mais dura naquele momento do que em todas as outras conversas que já tiveram. –Prezo poucas coisas em minha vida, Princesa, e não tem nada que eu não faria para manter essas coisas protegidas.

-E se fosse Alfred e ele atacasse um de seus irmãos? –Char soltou um risinho macabro que fez Lira se arrepiar.

-Eu não amo Alfred ao ponto de poupar sua vida caso ele machuque meus irmãos. –A dureza dela fez Lira sentir medo. –Eu adoro a amizade e a companhia dele, somos muito próximos e confiamos um no outro, talvez ele seja um dos poucos que confio assim, contudo Alfred sabe que qualquer um que toque em meus irmãos irá sofrer as consequências. –A ruiva sentou ao lado dela.

-Wanda é uma mulher sozinha, Charlotte. –Lira falou baixo como se pensando se contava tudo ou não, por fim decidiu que deveria ser clara. –Eu a descobri quando tínhamos 19 anos, ela tem minha idade. –Confidenciou. –Na manhã seguinte a Lua Cheia eu decidi sair escondida do Castelo com Dilan, para procurar um dos melhores amigos dele, que é um Lobo também. –Admitiu. –Contudo acabamos por encontrá-la jogada nas raízes de uma árvore, ela era pequena e parecia tão quebradiça, estava imunda de sujeira e sangue, com vários machucados na pele clara. –Suspirou. –Eu soube o que ela era somente pela situação que a encontrei. Eu pensei muito se deveria ajudá-la, mas havia algo nela e já convivia com outra pessoa que eu sabia ser um Lobo, então pensei que não seria problemático, não durante os dias comuns.

-Normalmente não é. –Charlotte admitiu.

-Depois de um tempo eu descobri a história dela. –Lira passou a mão no longo cabelo enquanto ouvia um uivo muito próximo, o que parecia afetar muito mais a Charlotte. –A mãe da Wanda morreu quando ela tinha somente 13 anos, uma doença incurável que ninguém sabe nomear e ela matou o padrasto na primeira transformação, quando tinha 17 anos, até onde sabemos ela o estraçalhou e devorou. –Suspirou. –Ela não tinha mais ninguém. Originalmente é de Kiraz, mas depois do que houve com o padrasto acabou vivendo como nômade por um tempo, até nos encontrarmos.

-E você reagiu como a tudo isso?

-Primeiro eu pensei em mandá-la ir embora, dar dinheiro para começar algo e me livrar de um problema como conviver com um Lobo. –Admitiu. –Mas depois de um tempo acabei compreendendo que ela não escolheu ser desse jeito, assim como nenhuma de nós decidiu ser uma Feiticeira, só aconteceu.

-Podemos dizer que sim. –Concordou.

-Por fim a escondi no Castelo e fiz Calil, um amigo, ensiná-la a lutar. –Ela sorriu nostálgica. –Ele ficou furioso comigo inicialmente, mas aceitou. Depois de um tempo viu o potencial dela e evoluiu o treinamento, até que Darla decidiu colocá-la em um Esquadrão Especial de treino e com 21 anos ela se apresentou para servir o Exército Alado, menos de um ano depois a Ventos Ferrum a recrutou e a meu pedido ela foi imediatamente para Major.

-Tenho certeza que ninguém compreendeu sua escolha. –Lira riu do comentário.

-Realmente não e isso irritou um pouco minhas Oficiais, quer dizer, não sou a General da Ventus Ferrum, nomeei alguém para o cargo, contudo...

-Você ainda é quem manda. –Lira sorriu e assentiu.

-Mas depois expliquei para minhas Oficiais o que Wanda era de fato e falei que a queria o mais perto possível, contudo ninguém podia questionar a capacidade dela, o que acabou a tornando uma das mais queridas dentro da Brigada. –Ela sorriu. –E lhe rendeu um apelido até irônico.

-Irônico?

-Garras. –Ela riu tentando ignorar os uivos famintos, mesmo que fosse uma situação perturbadora e difícil. –Mas o apelido não é somente por ela ser um Lobo, sim porque foi mandado fazer uma arma especial pra ela, no arsenal do Palácio de Windstorm, um par de luvas de couro com quatro lâminas cada. Wanda é letal quando usa suas 'garras'. –Charlotte pensou por um instante, compreendia o apego de Lira pela garota, afinal seu relacionamento com Alfred não era tão distante daquilo.

-Ela parece interessante.

O uivo cortou o raciocínio de Charlotte, fora bem a sua janela, o que fez p sangue gelar e a mente travar. Diversos uivos começaram a se aproximar da casa, até passos apressados chegarem ao quarto, Harry estava pálido, Nanda agarrada a mão do irmão e Dilan fortemente armado, na companhia dos dois seguidores de Lira, que estavam armados e pareciam atentos a tudo.

-Estamos cercados. –Dilan anunciou. –A Lobos por todos os lados da casa, não tem como sair. –Charlotte sentiu o mundo desabar, afinal de contas morreria nas mãos dos Lobos e antes de salvar o mundo que prometeu tomar das mãos do Imperador. Ela falhou antes mesmo de começar.



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Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora