Capítulo Sessenta - Mortos?

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Charlotte suspirou e entrou na pequena sala, a casa de Alfred já lhe era conhecida graças ao tempo que passou ali e ela deixou seus olhos correrem pelo lugar até focaram o rosto enrugado e familiar, um rosto que vira, até onde recordava, sua vida inteira. Amélia não mudou muito desde a última vez que se viram, o cabelo grisalho estava preso em um coque apertado e os olhos verdes sábios com a diversão e deboche de sempre, a mulher sorriu ao ver a menina.

-Minha querida Chapeuzinho. –Ela cumprimentou animadamente.

Charlotte quase se sentiu em casa com aquele cumprimento, mas novamente a fez lembrar o quão longe de sua casa e de sua antiga vida estava, parecia que haviam passado anos, não somente algumas várias Luas. Era irônico que tantas mudanças haviam ocorrido em tão pouco tempo, um tanto quanto assustador e pensar em tudo isso fazia a menina se sentir tonta, por fim se concentrou em Amélia e sentiu o poder emanando da senhora, era quase como um reflexo do que sabia conter dentro de si própria, embora não conseguisse sentir a dimensão em si mesma, só que haviam diferenças substâncias, o poder de Amélia Ornet era bem menos ácido e muito mais gentil do que o seu. Char, quando estudou analisar seus dons, sentiu um gosto quente e até mesmo corrosivo em sua boca, sem falar na sensação de crueldade que seu poder puro passava, contudo foi em questão de segundos. Simone lhe contara que um Feiticeiro, mesmo que Ancião, não conseguia sentir toda a extensão do próprio poder, que podia ter somente um vislumbre, todavia a garota não gostou do que sentiu em si mesma, porque se apenas com um vestígio de seu poder cru notou aquela crueldade, temia o que todo ele poderia passar.

-Senhora Ornet. –Ela cumprimentou com um aceno de cabeça.

-Vejo que você ainda está aborrecida comigo, minha criança. –Ela disse doce e tranquilamente. Charlotte ponderou e sorriu enquanto gesticulava para que todos sentassem e tomava posse da segunda poltrona isolada da sala, do lado oposto e de frente para Amélia.

-Não, não. –Ela sorriu gentilmente por fim. –Não tenho mais idade e nem tempo pra me aborrecer com coisas pequenas assim. –Amélia pareceu intrigada com a resposta. –Mas assumo estar curiosa.

Amélia sabia que ela havia crescido e endurecido, mas parecia muito melhor do que imaginara. Sem falar de seu poder que jorrava por cada poro assim como rechaçava quando tentava estudá-lo mais a fundo, alguém que não fosse um Ancião não conseguiria captar que estava diante de um Feiticeiro tão formidável. Charlotte crescera como mulher e principalmente como Anciã.

-Ao que parece você mudou muito. –O tom divertido permanecia ali e Char sorriu.

-Aprendi muito sobre quem sou realmente. –Admitiu. –Isso faz com que qualquer um mude. –Sorriu de canto. –Para melhor ou pior.

-E qual partido você tomou?

Lira viu Char arquear a sobrancelha e olhar em volta, parando os olhos nos da senhora a sua frente mais uma vez. Charlotte parecia impecável e majestosa, como a princesa não costumava ver e achar nem mesmo as pessoas do Império.

-Estou aqui, não é mesmo? –Fez um gesto com a mão abrangendo mais do que somente a sala onde se encontravam. Amélia riu baixinho. Charlotte realmente estava mais dura e decidida, contudo não havia raiva na menina, não dirigida a ela, porém era evidente sua ira com muitas outras coisas.

-Fico feliz com isso.

-Creio que sim. –Ponderou. –Entretanto agora não é o momento de falarmos de mim. –Informou e os olhos verdes da senhora focaram o rosto da Princesa Herdeira, mas logo estudaram os demais.

-Você tem razão.

-Normalmente tenho. –A menina sussurrou de brincadeira.

Charlotte sentiu algo estranho na sala, o ar havia mudado, parecia ter algo a mais presente, ela só não sabia identificar o que e nem a sensação exata, mas deixava o ar mais denso do que as demais energias que costumava perceber. Os olhos da senhora estavam focados em Emily.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora