Capítulo Quarenta e Nove - Serpente Vermelha

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Charlote acordou com o corpo dolorido, o treinamento nas últimas semanas a estava deixando exausta de uma forma que nunca se sentiu antes. Sua rotina estava tão voltada para a magia que não tinha tempo nem mesmo de sair para as típicas brincadeiras e conversar com Mark ou Alfred, vendo-os em curtos intervalos onde Alfred lhe levava algo para comer ou para treinar com o ruivo.

-Charlotte? –Era a voz de Christopher que voltara para o Vilarejo logo após a Lua Cheia.

-Sim? –Ela perguntou alto, a porta do quarto ainda fechada.

-Você precisa comer. –Char quase sorriu. Virou rotina Christopher a chamar para o café da manhã, como se tivesse tomado essa pequena obrigação para si, uma das poucas coisas nas quais ele se sentia livre para chamar a menina.

-Obrigada.

Charlote enrolou mais que o normal no banho, a neve do outro lado já derretera, mas o calor ainda não voltara a predominar, algo do qual ela já sentia falta. Char saiu do quarto e olhou pela janela entreaberta da sala vendo a neblina do lado externo, o que a fez sentir a ironia que seria aquele dia, pois seu humor parecia tão enevoado quanto o início de manhã.

-Bom dia, Lottie. –Mark cumprimentou, entrando na casa e deixando a névoa fria invadir a sala por alguns momentos. Char não respondeu, somente assentiu e caminhou para a cozinha, ouvindo algo como "Pé esquerdo." Porém decidiu ignorar e dar atenção para o estômago que pedia por algum alimento.

-Bom dia, Charlotte. –Christopher lhe sorriu, ganhando algo como a sombra de um meio sorriso em fração de segundo.

-Lottie acordou com dois pés esquerdos hoje, Christopher. –Mark falou, se sentando ao lado da menina, que ignorou o comentário e o olhar inquisitivo de Alfred. Às vezes o ruivo parecia esquecer que tinha uma casa no Vilarejo, pois fazia todas as refeições junto a Charlotte, não que realmente não o quisesse ali, mas era curioso.

-Aconteceu algo? –Alfred a questionou.

-Nada. –Ela foi direta, enquanto pegava um copo de suco.

-Certeza? –Christopher parecia inseguro em perguntar.

Charlote respirou fundo, sentindo como se estivesse em Ventanis, onde as pessoas sempre esperavam cumprimentos felizes e amáveis da garota, ela dirigiu os olhos verdes ao pai por um momento, recordando que deixara a Vila Ventanis, mas que vez ou outra ainda se comportava como fazia lá, fingindo algo simplesmente para ter paz, contudo não sentia mais o peso dessa obrigação, seus sentimentos não precisavam ser mascarados para proteger os outros.

-A ignorem. –Alfred disse tranquilamente, pegando um biscoito e a vendo arquear a sobrancelha com desinteresse e se voltar para o suco e pãozinho recheado.

Christopher fez careta e encarou o rapaz que já comia como se nada tivesse acontecido, assim como Mark, que só deu de ombros e ignorou o resto. O café da manhã foi cheio de provocações entre os dois rapazes e completamente silencioso da parte de Char e Chris, que somente a observava volta e meia.



-Você parece mais revoltada que nunca. –Simone resmungou assim que Char fez a pequena fogueira, feita nos fundos da casa, chegar a mais de 5 metros de altura. Charlote encarou a mulher e bufou.

-Você disse que eu deveria fazer a fogueira crescer, então do que está reclamando? –Ela cruzou os braços em frente ao peito enquanto deixava as chamas diminuírem a um tamanho normal.

-Comeu limão no café da manhã e almoço, menina? –Ela provocou e Char respirou fundo para evitar responder a zombaria.

-Se não é isso que deseja, diga o que quer então.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora