Capítulo Dezesseis - Gentileza e Truques

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 Charlotte acordara no meio da tarde naquele dia e quando o fez deu de cara com Kitty, o que a levou a soltar um leve grunhido, estava frustrada, sonhara outra vez com Alfred tocando alaúde e brincando com ela. Era irritante não ter completa certeza se ele estava morto e ao mesmo tempo não ter noção se estava vivo. Contudo pelo menos não vinha sonhando com o Lobo, o que era um grande avanço, todavia preferia que quando adormecesse, não sonhasse com nada.

-Fiquei sabendo qui tua noiti foi divirtida. —Comentou a Velha, ignorando o mau humor da jovem.

-Foi? —Debochou a menina.

Char usava, para dormir, somente um curto vestido de tecido fino e que grudava seu corpo. Ela afastou o cobertor e sentou com calma com calma, se espreguiçando como se estivesse sozinha, já havia notado que Kitty odiava ser ignorada e quanto mais ela se irritava, mais Charlotte insistia em encrencar para ver se era deixada de lado ou ganhava a briga de quem falava primeiro.

-Tu parecia te acurdado bem disposta pra quem ficô a noiti intera acurdada. –Char não sabia como Kitty descobrira do passeio noturno, mas não estava minimamente interessada naquilo.

-É o que parece.

Char sorria enquanto fazia um coque no cabelo longo, se colocou de pé e estava determinada a ir para o banheiro, entretanto a porta se abriu e Kyle parou, a encarando da cabeça aos pés, o sorriso inicial desaparecera e deu lugar a um olhar extremamente desejoso. O homem passou a língua nos lábios, notando que o vestido curto exibia as pernas longas, torneadas e claras, o tecido fino grudava ao corpo de forma quase indecente, como se fosse uma segunda pele e também notou a barriga lisa e os seios, que mal eram cobertos pela roupa de dormir. Imediatamente sentiu algo despertar e rugir no fundo de sua mente, algo que teve que obrigar a prender, para finalmente conseguir forças para falar.

-Desculpa. —Disse virando e saindo do quarto, sem aguardar resposta, enquanto ainda conseguia se forçar a manter as mãos longe daquele corpo.

-Tu consiguiu intimidá o minino. —Kitty argumentou e Char riu.

-Isso foi engraçado. —A velha ergueu uma sobrancelha e Charlotte deu de ombros. —Vai perguntar algo ou ficará só me encarando? —Quis saber, parando na porta do banheiro.

Charlotte sabia não poder sair do quarto, mas também não poderia dizer ser mal tratada, recebia comida sempre que queria, seus banhos eram quentes se desejasse, tinha um quarto inteiro pra si, porém a cada minuto desejava começar a quebrar as coisas, conhecia cada veio nas paredes e teto de seu quarto, de tanto tempo que passava ali desde que acordara após a Lua Cheia.

-Tá disposta a falá comu cunsiguiu essi curdão?

-Céus! —Bufou. —É claro que estou. —Sorriu. —Assim que me falar o motivo de seu interesse nele. –Kitty sorriu e a observou atentamente, aqueles olhos continham uma inteligência antiga e intrigante, notou Char.

-Tu fala primero. —Char riu.

-Quem sabe um dia entramos em acordo, Kitty. Quem sabe um dia.

Charlotte fechou a porta do banheiro, ouvindo a Velha dizer algo a respeito de "Minina irritanti" e riu, tirando a roupa e se enfiando na água gelada da tina, fechando os olhos e aproveitando o banho. Seu banho era preparado antes que acordasse e caso quisesse água quente, era só chamar que alguém a atenderia e ela ainda não sabia o porquê daquilo. A mente começou a recordar de várias coisas que não deveria, por fim lembrou da gargalhada de Alfred, dos olhos observadores e quentes, embora misteriosos, de seus dedos ágeis percorrendo as cordas do alaúde e das lindas melodias que extraia dali. Durante os dias presos na Floresta, sempre imaginou que o rapaz de olhos castanhos quentes era quem tinha mais chances de sobreviver, porém não fora assim.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora